AMORIS LÆTITIA
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS AOS ESPOSOS CRISTÃOS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA
CAPÍTULO VI
ALGUMAS PERSPECTIVAS PASTORAIS.
Guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimónio.
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Há várias maneiras
legítimas de organizar a preparação próxima para o matrimónio e cada Igreja
local discernirá a que for melhor, procurando uma formação adequada que, ao
mesmo tempo, não afaste os jovens do sacramento. Não se trata de lhes ministrar
o Catecismo inteiro nem de os saturar com demasiados temas, sendo válido também
aqui que «não é o muito saber que enche e
satisfaz a alma, mas o sentir e saborear interiormente as coisas».
Interessa mais a qualidade
do que a quantidade, devendo dar-se prioridade – juntamente com um renovado
anúncio do querigma – àqueles conteúdos que, comunicados de forma atraente e cordial,
os ajudem a comprometer-se num percurso da vida toda «com ânimo grande e liberalidade»[i].
Trata-se duma espécie de «iniciação» ao sacramento do matrimónio,
que lhes forneça os elementos necessários para poderem recebê-lo com as melhores
disposições e iniciar com uma certa solidez a vida familiar.
Além disso, convém
encontrar os modos – através das famílias missionárias, das próprias famílias
dos noivos e de vários recursos pastorais – para oferecer uma preparação remota
que faça amadurecer o amor deles com um acompanhamento rico de proximidade e testemunho.
Habitualmente, são muito úteis os grupos de noivos e a oferta de palestras opcionais
sobre uma variedade de temas que realmente interessam aos jovens. Entretanto
são indispensáveis alguns momentos personalizados, dado que o objectivo
principal é ajudar cada um a aprender a amar esta pessoa concreta com quem pretende
partilhar a vida inteira. Aprender a amar alguém não é algo que se improvisa,
nem pode ser o objectivo dum breve curso antes da celebração do matrimónio.
Na realidade, cada pessoa
prepara-se para o matrimónio, desde o seu nascimento. Tudo o que a família lhe
deu, deveria permitir-lhe aprender da própria história e torná-la capaz dum compromisso
pleno e definitivo.
Provavelmente os que chegam
melhor preparados ao casamento são aqueles que aprenderam dos seus próprios
pais o que é um matrimónio cristão, onde se escolheram um ao outro sem condições
e continuam a renovar esta decisão. Neste sentido todas as actividades
pastorais, que tendem a ajudar os cônjuges a crescer no amor e a viver o
Evangelho na família, são uma ajuda inestimável a fim de que os seus filhos se
preparem para a sua futura vida matrimonial. Também não devemos esquecer os valiosos
recursos da pastoral popular. Só para dar um exemplo simples, lembro o Dia de
São Valentim, que, em alguns países, é melhor aproveitado pelos comerciantes do
que pela criatividade dos pastores.
A preparação dos que já
formalizaram o noivado, quando a comunidade paroquial consegue acompanhá-los
com bom período de antecipação, deve dar-lhes também a possibilidade de individuar
incompatibilidades e riscos. Assim é possível chegarem a dar-se conta de que
não é razoável apostar naquela relação, para não se expor a um previsível
fracasso que terá consequências muito dolorosas.
O problema é que o deslumbramento
inicial leva a procurar esconder ou relativizar muitas coisas, evitam-se as divergências,
limitando-se assim a adiar as dificuldades para depois.
Os noivos deveriam ser
incentivados e ajudados a poderem expressar o que cada um espera dum eventual
matrimónio, a sua maneira de entender o que é o amor e o compromisso, aquilo
que se deseja do outro, o tipo de vida em comum que se quer projectar.
Estes diálogos podem
ajudar a ver que, na realidade, os pontos de contacto são escassos e que a mera
atracção mútua não será suficiente para sustentar a união.
Não há nada de mais volúvel,
precário e imprevisível que o desejo, e nunca se deve encorajar uma decisão de
contrair matrimónio se não se aprofundaram outras motivações que confiram a
este pacto reais possibilidades de estabilidade.
No caso de se reconhecer
com clareza os pontos fracos do outro, é preciso que exista uma efectiva confiança
na possibilidade de ajudá-lo a desenvolver o melhor da sua personalidade para
contrabalançar o peso das suas fragilidades, com um decidido interesse em promovê-lo
como ser humano. Isto implica aceitar com vontade firme a possibilidade de
enfrentar algumas renúncias, momentos difíceis e situações de conflito, e a
sólida decisão de preparar-se para isso.
Deve ser possível detectar
os sinais de perigo que poderá apresentar a relação, para se encontrar, antes
do matrimónio, os meios que permitam enfrentá-los com bom êxito.
Infelizmente, muitos chegam
às núpcias sem se conhecer. Limitaram-se a divertir-se juntos, a fazer experiências
juntos, mas não enfrentaram o desafio de se manifestar a si mesmos e apreender
quem é realmente o outro.
Tanto a preparação próxima
como o acompanhamento mais prolongado devem procurar que os noivos não considerem
o matrimónio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança
para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as
provações e momentos difíceis. Tanto a pastoral pré-matrimonial como a matrimonial
devem ser, antes de mais nada, uma pastoral do vínculo, na qual se ofereçam
elementos que ajudem quer a amadurecer o amor quer a superar os momentos duros.
Estas contribuições não
são apenas convicções doutrinais, nem se podem reduzir aos preciosos recursos
espirituais que a Igreja sempre oferece, mas devem ser também percursos práticos,
conselhos bem encarnados, estratégias tomadas da experiência, orientações
psicológicas. Tudo isto cria uma pedagogia do amor, que não pode ignorar a sensibilidade
actual dos jovens, para conseguir mobilizá-los interiormente.
Ao mesmo tempo, na preparação
dos noivos, deve ser possível indicar-lhes lugares e pessoas, consultórios ou
famílias prontas a ajudar, aonde poderão dirigir-se em busca de ajuda se surgirem
dificuldades.
Mas nunca se deve esquecer
de lhes propor a Reconciliação sacramental, que permite colocar os pecados e os
erros da vida passada e da própria relação sob o influxo do perdão misericordioso
de Deus e da sua força sanadora.
(cont)
(revisão da versão
portuguesa por AMA)
[i] Conferência
Episcopal Italiana. Comissão episcopal para a família e a vida, Orientamenti
pastorali sulla preparazione al matrimonio e alla famiglia (22 de Outubro de
2012), 1. 240 Inácio de Loyola, Exercícios espirituais, anotação 2.
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