28/02/2019

Temas para reflectir e meditar


Morte


O Senhor entendeu chamar o Pedro.
O meu querido sobrinho Pedro!
No atordoamento Que se segue, divido-me entre a angústia e a certeza - absoluta - que Ele faz tudo para bem.
Quem sou eu para julgar ou aferir?
Nas minhas memórias o Pedro está presente de uma forma tão real e positiva que nem sequer me lembro dele como se não estivesse aqui.
Desde pequeno me habituei à sua presença quando o João no enviava para Santo Tirso e, depois para Carvide ou Arcozelo.
Mesmo quando fazia disparates - como andar pelos telhados - nunca lhe ralhei apenas lhe dizia se gostaria que eu dissesse ao Pai que tinha partido uma perna ao cair do telhado.
Em Carvide, uma vez, tive de tomar uma atitude drástica. Entendeu o Pedro ir dar uma voltinha na camionete das Termas.
Teve um percalço ao fazer marcha atrás embateu num dos poiais da porta e aquilo veio tudo por ali abaixo.
Não se matou nem nada apenas no seu orgulho ferido.
Fui falar com o Zézinho e logo de manhã tudo estava arranjado.
Claro que o meu Pai ao regressar no dia seguinte de Lisboa deu-se conta das obras, mas não se manifestou.
Então eu disse ao Pedro:
Agora vens comigo a Monte Real falar com o Avô!
O Pedro protestou que não queria ir etc e tal. Mas eu fui inflexível.
Lá fui ter com o meu Pai ao escritório no hotel e disse:
Pai, está aqui o Pedro que tem u m a coisa para lhe dizer.
Abri a porta e disse: Pedro, avança!
E o Pedro avançou e num jacto contou tudo.
O meu querido Pai, olhou para ele e perguntou:
‘Atão e tu? Estás bem? Não te aleijados nem nada?’
E o Pedro meio zonzo com a reacção do meu Pai, respondeu:
‘Nada, Avô, estou porreiro. O Avô desculpe!’
‘Pois’... disse o meu Pai. ‘Vê se te serve de lição!’
De regresso a Carvide desabafa o Pedro:
‘Oh Tio... o Avô  é um porreiro!’
Aproveitei para dar a lição:
‘Olha Pedro, o teu Avô é um “porreiro” porque só podia ser com a atitude que tomaste! Enfrentaste a coisa, não inventaste subterfúgios, foste verdadeiro, assumiste a responsabilidade do que fizeste,

Mas, súbita, nua e crua vem a: A Morte

Ela aí está, presente, indiscutível, definitiva!

A morte é, assim, o acabar a vida, o terminar de sonhos e esperanças, projectos e planeamentos o não se "vai passar mais nada"!

A Morte!

Choca, faz estremecer, sobretudo os vivos, os que ficam e que subitamente se dão conta que ela chegou e levou consigo quem tanto queríamos, de quem tanto gostávamos.
Um travo amargo de perda irreparável, de algo sem remédio nem solução e ficamos como que tontos pensando: como é - como foi - possível?

Mas foi! E é! A morte está presente desde o dia em que nascemos e que, pela primeira vez fomos uma pessoa.

Sim, quando perguntamos por alguém cuja situação é grave e respondemos: está entre a vida e a morte esquecemos que esta resposta deve ser a de sempre, desde que vimos pela primeira vez a luz do dia.

A Morte faz parte da condição humana, esta é a verdade e, mais, súbita ou expectável, sucede sempre.

O que podemos fazer, nós que amámos tanto a pessoa que morreu?
Nada, absolutamente nada!

Guardamos como tesouro genuíno as lembranças todas. De repente, como por milagre, só nos lembramos das coisas boas.

Quem morreu deixou, de repente, de ter defeitos, fraquezas, coisas que nos desiludiram ou magoaram.

A Morte tem esse efeito regenerador, converte a pessoa em excelente criatura que fez muito bem e, sobretudo, nos faz muita falta.

O que fazer?

Para um cristão esta é, deve ser, uma consolação, um lenitivo para a dor da ausência física para passar a ser uma certeza de que a memória permanece talvez mais viva e actuante que nunca.

(AMA, na morte do meu querido sobrinho Pedro, 03.11.201)

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