MAS
TODAVIA SÃO VÁLIDAS?
Pergunta:
Permita-me uma pequena
pausa. Não discuto, obviamente, sobre a validade filosófica, teorética, de
quanto acaba de expor; mas, esta forma de argumentar tem todavia um significado
concreto para o homem de hoje? Faz sentido que se pergunte sobre Deus, a Sua
existência, a Sua essência?
Resposta:
Diria que hoje mais que
nunca, seguramente, mais que em outras épocas, inclusive recentes. A mentalidade positivista, que se desenvolveu
com muita força entre os séculos IX e XX, hoje vai, em certo sentido, em retirada. O homem contemporâneo está redescobrindo
o sacrum, ainda que nem sempre saiba
chamá-lo pelo seu nome.
O positivismo não foi
somente uma filosofia, nem unicamente uma metodologia; foi uma dessas escolas da suspeita que a época moderna
viu florescer e prosperar. O homem é realmente capaz de conhecer algo mais do
que os seus olhos vêem e os seus ouvidos ouvem? Existe uma outra ciência além
do saber rigorosamente empírico? A capacidade da razão humana está totalmente
submetida aos sentidos, e interiormente dirigida pelas leis da matemática, que
demonstraram ser particularmente úteis para ordenar os fenómenos de forma
racional, além de para orientar os s processos do progresso técnico?
Se se entra na óptica
positivista, conceitos como por exemplo Deus
ou alma são simplesmente carentes de
sentido. Nada corresponde a esses conceitos no âmbito da experiência sensorial.
Esta óptica, pelo menos
nalguns campos, +é a que está actualmente em retirada. Pode constatar-se isto
inclusivamente comparando entre si as primeiras e as sucessivas obras de Ludwig
Wittgenstein, o filósofo austríaco da primeira metade do século XX
Por outro lado, ninguém se
surpreende pelo facto de que o conhecimento humano seja, inicialmente, um conhecimento
sensorial. Nenhum clássico da filosofia, nem Platão nem Aristóteles, o punha em
dúvida.
O homem reconhece-se a si
mesmo como um ser ético, capaz de
actuar segundo os critérios do bem e do mal., e não somente segundo a utilidade
e o prazer. Reconhece-se também a si mesmo como um ser religioso, capaz de colocar-se em contacto com Deus.
A oração
é, em certo sentido, a primeira prova desta realidade.
Para o pensamento
contemporâneo é muito importante a filosofia
da religião. Somos testemunhas de um
retorno significativo à metafísica (filosofia do ser) através de uma
antropologia integral. Não se pode pensar adequadamente sobre o homem sem
fazer referência, constitutiva para ele, a Deus. E o que São Tomás defendia como
actus essendi com a linguagem da filosofia da existência, a filosofia da
religião expressa-o com as categorias da experiência antropológica.
Para esta experiência
contribuíram muito os filósofos do
diálogo, como Martin Buber. E encontramo-nos já muito perto de São Tomás,
mas o caminho passa tanto através do ser e da existência como através das
pessoas e da sua relação mútua, através do “eu” e o “tu”.
Esta é uma dimensão fundamental da existência do homem, que é sempre
uma coexistência.
Onde aprenderam isto os filósofos do diálogo?
Aprenderam-no em primeiro
lugar da experiência da Bíblia
A vida humana inteira é um
“coexistir” na dimensão quotidiana -
“tu” e “eu” – e também na dimensão absoluta e definitiva: “eu” e “TU”».
A tradição bíblica gira em
torno deste TU, que em primeiro lugar é o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, e o
Deus dos Padres, e depois o Deus de Jesus Cristo e dos Apóstolos, o Deus da
nossa fé.
A
nossa fé é profundamente antropológica, está enraizada constitutivamente
na coexistência, na comunidade do povo de Deus, e na comunhão com esse eterno
TU.
Uma coexistência assim é
essencial para a nossa tradição judaico-cristã e provem da iniciativa do
próprio Deus.
Está na linha da Criação,
de que é o seu prolongamento, e ao mesmo tempo é – como ensina São Paulo - «a
terna eleição do homem no Verbo que é o Filho» [i]
(Cfr entrevista de
Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA,
Outubro de 1994)
(Tradução do castelhano
por AMA)
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