Pergunta:
A fé desses cristãos
católicos dos quais o Senhor é pastor e mestre (bem como “Vice” do único
Pastore Mestre) tem três “graus”, três “níveis”, unidos uns aos outros: Deus,
Jesus Cristo, a Igreja.
Todo o cristão crê que Deus existe.
Todo o cristão crê que
esse Deus não só falou, mas assumiu a carne do homem sendo uma das figuras da
História, em tempos do Império Romano: Jesus
de Nazaré.
Mas, entre os cristãos, um
católico vai mais além: cré que esse Deus, que esse Cristo, vive e actua – como
que num “corpo”, para usar um dos termos do Novo Testamento –na Igreja cuja
Cabeça visível na terra é agora o Senhor, o Bispo de Roma.
A fé, naturalmente, é um
dom, uma graça divina; mas também a razão é um dom divino. Segundo as antigas
exortações dos santos e doutores da Igreja, o Cristão “Crê para entender”; mas
também está chamado a “entender para crer”.
Comecemos, pois, pelo
princípio, Santidade, situando-nos numa perspectiva unicamente humana – se tal
for possível, pelo menos momentaneamente -,pode o homem e como, chegar à
convicção de que Deus existe verdadeiramente?
Resposta:
A sua pergunta refere-se,
no fim de contas, à distinção pascaliana entre o Absoluto, quer dizer, o Deus
do filósofos (os libertins racionalistas)
e o Deus de Jesus Cristo e, antes, ,
o Deus dos patriarcas, desde Abraão a Moisés.
Somente
este segundo é o Deus vivo.
O primeiro é fruto do
pensamento humano, da especulação humana, que, todavia, está em condições de
poder dizer algo válido sobre Ele, como a Constituição conciliar sobre a Divina
Revelação, a Dei Verbum, recordou (n.
3).
Todos os argumentos
racionais, no fim de contas, seguem o caminho indicado pelo Livro da Sabedoria e pela Carta aos Romanos: vão do mundo visível
ao mundo invisível.
Por essa mesma via
procedem de modo diferente Aristóteles e Platão, do qual, todavia, se
distanciou, e justamente para os cristãos o Absoluto filosófico, considerado
como Primeiro Ser ou como Supremo Bem, não revestia muito significado. Para quê
entrar nas especulações filosóficas sobre Deus – perguntavam-se –se o Deus vivo
tinha falado, não somente por meio dos profetas, mas também por meio do Seu
próprio Filho? A Teologia dos Padres,
especialmente no Oriente, distancia-se cada vez mais de Platão e, em geral, dos
filósofos. A mesma filosofia, no cristianismo do Oriente europeu, acabam por
resolver-se numa teologia (assim por exemplo), nos tempos modernos, com
Vladimir Soloviev).
São Tomás, contrariamente,
não abandona a via dos filósofos. Inicia a Summa
Theologiae com a pergunta: «An Deus
sit»? («Deus existe?» [i]
A mesma pergunta que o
senhor me faz. Essa pergunta demonstrou ser muito útil. Não somente criou a
teodiceia, mas que toda a civilização ocidental, que é considerada a mais
desenvolvida, seguiu concordante com esta
pergunta. E se hoje a Summa Theologiae,
infelizmente, se deixou um pouco de lado, a sua pergunta inicial continua
válida, e continua ressoando na nossa civilização.
Chegados a este ponto, há
que citar um parágrafo da Gaudium et Spes
do Concílio Vaticano II: Realmente os desequilíbrios que o mundo moderno sofre
estão ligados a esse outro desequilíbrio fundamental que mergulha as suas
raízes no coração humano. São muitos os elementos que combatem no próprio
interior do homem. Por um lado, como criatura, o homem experimenta múltiplas
limitações; por outro lado sente-se, todavia, ilimitado nos seus desejos e
chamado a uma vida superior. Atraído por muitos outros desejos, tem de eleger
um e renunciar a outros.
Além disso como doente e
pecador, não raramente faz o que não quer, e deixa de fazer o que queria levar
a cabo. Por isso sofre em si mesmo uma divisão, da qual provêem tantas e tão
graves discórdias na sociedade (…). Apesar disso, ante a actual evolução do
mundo, são cada dia mais numerosos, os
que se colocam ou acometem com nova penetração as questões mais fundamentais: O
que é o homem? Qual é o sentido da dor, do mal, da morte, que, apesar de
tantos progressos, todavia subsistem? O que valem estas conquistas conseguidas
a tão alto preço? O que aporta o homem à sociedade e que pode esperar; ela? Que
haverá depois desta vida?
Isto: A Igreja crê que
Cristo, morto e ressuscitado por todos, dá sempre ao homem, mediante o Seu
Espírito, luz e força para responder à sua vocação máxima e que não foi dado na
terra outro nome aos homens pelo qual possam salvar-se.
Crê igualmente que a
chave, o centro e o fim do homem e de toda a história humana se encontram no
seu Senhor e Mestre. [ii]
Esta passagem conciliar
tem uma riqueza imensa.
Adverte-se claramente que a resposta à pergunta Deus sit? Não é só uma
questão que afecte o intelecto, é ao mesmo tempo, uma questão que abarca toda a
existência humana.
Não é somente uma questão
do intelecto, mas também uma questão da vontade do homem, mais ainda, é uma questão do coração humano (as raisons
du coeur de Blas Pascal)
Penso que é injusto
considerar que a postura de São Tomás se esgote só no âmbito racional. Há que
dar razão, é verdade a Étiene Gilson quando diz com Tomás que o intelecto é a
criação mais maravilhosa de Deus; mas isso não significa absolutamente ceder a
um racionalismo unilateral.
Tomás é esclarecedor de
toda a riqueza e complexidade de todo o ser criado e especialmente do ser
humano.
Não é justo que o seu
pensamento se tenha fechado neste período pós-conciliar; Ele, realmente, não
deixou de sero mestre do universalismo
filosófico e teológico.
Neste contexto devem ser
lida as suas quinque viae, quer
dizer, as cinco vias que levam a responder à pergunta:
An Deus sit?
(Cfr entrevista de
Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA,
Outubro de 1994)
(Tradução do castelhano
por AM
A)
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