A
fidelidade e o respeito pelos outros
Entronca-se
bem aqui a necessária relação da fidelidade à verdade com a caridade.
A
fidelidade à verdade não pode ser apresentada como razão ou motivo para
ofender, desprezar ou prejudicar aqueles que não a enxergam como nós.
É
má fidelidade aquela que se emprega em destruir violentamente as convicções dos
outros: é mil vezes preferível aquele que é fiel à pessoa humana - em cujo
rosto se vislumbra sempre o rosto de Cristo - aos intransigentes defensores das
“suas verdades”, que violam o respeito devido à opinião alheia.
Mas
a fidelidade sem caridade conduz ao fanatismo, a caridade sem fidelidade pode
levar a sentimentalismos que acabem por prejudicar os princípios e as pessoas.
Um
pai ou uma mãe que, por mimarem os filhos – julgando ser essa uma forma de
amá-los -, lhes permitem a satisfação de todos os seus caprichos, acabarão por
ser infiéis ao seu papel de forjadores de homens e mulheres úteis à sociedade,
porque os terão tornado moles de vontade fracos de carácter.
Não
existe fidelidade autêntica aos outros sem compromisso prévio com a verdade:
são virtudes complementares.
Fiel
e verídico são palavras que aparecem juntas num dicionário de sinónimos.
A
palavra não é instrumento que possa ser manipulado pelos caprichos ocasionais,
mas um compromisso de lealdade com aquele com quem se fala.
Uma
pessoa de palavra é fidedigna,
honesta, honrada, justa, veraz e sã.
Quando
afirma alguma coisa, não precisa apresentar testemunhas; quando oferece a sua
amizade, podemos dar-lhe as costas sem medo de sermos traídos, quando diz que
ama, sabemos que entregou de verdade o seu coração.
É
uma pessoa confiável – porque é fiel.
Por
outro lado, quem não sabe ser veraz vai a caminho de ser um traidor, e o seu
mundo ir-se-á transformando num mundo de erros.
Se
o presidente de uma nação mentisse, já não seria digno de dirigir o país e
deveria renunciar; um homem de finanças que tivesse montado o seu império à
base de falsidades acabaria por causar maior mal à sociedade que lhe confiou as
suas poupanças do que um soldado enlouquecido que disparasse a sua metralhadora
no meio de uma passeata.
Dizer
a verdade é, portanto ser fiel àqueles com quem nos relacionamos; e, por sua
vez, ser fiel é submeter-se à palavra dada, respeitar o que se afirma; quando
se diz sim, diz-se isso exactamente.
(…)
Poderíamos
inclinar-nos a pensar que a pessoa que mentiu ou usou de subterfúgios sempre se
há-de comportar desse modo, mas nós os homens não somos rios e podemos voltar
atrás
Todo
o ser humano tem direito a que lhe dêem uma oportunidade de emendar-se.
Devemos
sempre considerar um acto digno o de quem afirma humildemente ”Enganei-me”, e
pedir perdão àqueles a quem tenha podido prejudicar e reparar os danos que
tenha causado.
Mas
é diferente querer inferir desta verdade uma consequência que seria destruidora
de toda a fidelidade, pensar que sempre podemos desdizer-nos das nossas livres
decisões, como se não fosse necessário cumprir os compromissos assumidos.
Além
de que se daria lugar a contínuas injustiças e se prejudicariam terceiros, está
em jogo uma questão mais de fundo: a relação entre fidelidade e liberdade.
Trata-se
de uma correspondência que é íntima e necessária.
(Cfr FIDELIDADE, de Javier Abad Gómez, 1989)
(Revisão
da versão portuguesa por AMA)
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