23/01/2019

Leitura espiritual


A FORTALEZA HOJE

Ainda que pareça reiterativo, é preciso voltar a insistir na ideia de que a fortaleza é indispensável para se viver dignamente. E isto precisamente em face das circunstâncias actuais, que não apenas nos rodeiam, mas em muitos casos nos assaltam, nos invadem.

(…)

A perda generalizada dos valores humanos básicos, o permissivismo hedonista, o materialismo histórico e pratico, a instabilidade gritante do matrimónio e o desabamento da estrutura familiar reclamam uma forte estrutura moral que resista a essa avalanche de correntes desumanizadas que tudo quer levar de roldão

A mulher que valoriza a sua intimidade e o respeito ao seu pudor, precisa, hoje mais que nunca, de uma fortaleza moral a toda a prova; ; como necessita dela qualquer homem que queira manter-se firme ante os apelos da pornografia que nos assaltam em qualquer esquina, em qualquer meio de comunicação; e o magistrado e o funcionário para não claudicarem perante a fácil tentação do suborno; e o político para enfrentar uma corrupção que invade a vida pública por todos os flancos; e o comerciante e o industrial para se limitarem a uma margem de lucro honesta nas suas transacções económicas; e os jovens para levarem uma vida limpa num ambiente de drogas e de sexo brutal.

Em todas as situações históricas e geográficas – não apenas na nossa época – sejam quais forem o estado e as condições de vida, a fortaleza é um requisito insubstituível para se manter a dignidade humana e cristã.
Pensemos que para se vivera fidelidade conjugal; para cumprirmos com exactidão o dever estafante do dia a dia; pois para sermos sinceros connosco mesmos, com os outros e com Deus, evitando a cobardia da mentira e a fraqueza da duplicidade; para vivermos sacrificadamente o esquecimento próprio e o espírito de serviço exigido pela caridade cristã; para permanecermos firmes na fé, navegando contra a corrente; para sofrermos em silêncio, com paciência e mansidão, as contrariedades, as incompreensões e as injustiças, a pobreza, a doença e a dor, para tudo isso e para muito mais nos é necessária – como o ar que respiramos - virtude da fortaleza.

A vivência continuada virtude da fortaleza, em todos estes aspectos, torna-se, no entanto, indispensável num sentido muito concreto: vai-nos preparando para podermos resistir aos grandes embates ou às situações difíceis que, por vezes, a vida nos reserva. Há, porventura nessas situações, dois ou três momentos em que temos de ser heróicos: ou somos heróicos ou não conseguiremos evitar o desmoronamento total.
Mas essa fortaleza suprema, extraordinária, só se consegue por meio dessa outra vivência contínua da fortaleza comum, ordinária, que pouco a pouco vamos adquirindo no nosso viver diário.

Até que chega uma circunstância em que ela se torna irrecusável: o momento em que nos assaltam as crises existenciais e, por fim, as angústias da morte próxima.
Porque, em conclusão, todas as depressões, todas as frustrações, todos os temores e apreensões, todas as nostalgias e solidões são como um pressentimento, com uma ressonância antecipada da morte.

É então que a fortaleza demonstra a sua verdadeira consistência e o seu carácter insubstituível.
Quantas pessoas que parecem fortes se sentem de repente no ar, apavoradas, perdidas, quando uma circunstância qualquer desmascara os convencionalismos enganosos- as mentiras dissimuladas – em que estão instaladas, e se encontram diante de uma vida sem sentido ou e uma morte sem eternidade.

(…)

Quando enxergamos de alguma maneira a morte no horizonte do nosso futuro – nessa horas de extrema fraqueza, depressão física ou psíquica, nesses momentos de crise existencial-, sentimos no mais fundo da alma a necessidade de um suporte fundamental mais forte que os abalos da vida e os temores da morte.

E esse suporte fundamental é a fé.

Senão existe uma convicção, uma certeza profunda da realidade próxima, íntima, de um Deus Criador, de um Deus Salvador, vencedor da morte e perpetuador da vida, o homem sente no mais profundo da alma eu é simplesmente um projecto de existência absurdo, destinado à desintegração total.
E o instinto de conservação – que é um instinto de eternidade – revolta-se em forma de ansiedade e angústia.

A fé, ao contrário, é como uma ponte entre o tempo e a eternidade.
Uma ponte segura que dilata a vida e a perpetua.



(Cfr FORTALEZA (1991) de Rafael Llano Cifuentes)

(Revisão da versão portuguesa por AMA)






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