Ainda que pareça
reiterativo, é preciso voltar a insistir na ideia de que a fortaleza é
indispensável para se viver dignamente. E isto precisamente em face das
circunstâncias actuais, que não apenas nos rodeiam, mas em muitos casos nos
assaltam, nos invadem.
(…)
A perda generalizada dos
valores humanos básicos, o permissivismo hedonista, o materialismo histórico e
pratico, a instabilidade gritante do matrimónio e o desabamento da estrutura
familiar reclamam uma forte estrutura moral que resista a essa avalanche de
correntes desumanizadas que tudo quer levar de roldão
A mulher que valoriza a
sua intimidade e o respeito ao seu pudor, precisa, hoje mais que nunca, de uma
fortaleza moral a toda a prova; ; como necessita dela qualquer homem que queira
manter-se firme ante os apelos da pornografia que nos assaltam em qualquer
esquina, em qualquer meio de comunicação; e o magistrado e o funcionário para
não claudicarem perante a fácil tentação do suborno; e o político para
enfrentar uma corrupção que invade a vida pública por todos os flancos; e o
comerciante e o industrial para se limitarem a uma margem de lucro honesta nas
suas transacções económicas; e os jovens para levarem uma vida limpa num
ambiente de drogas e de sexo brutal.
Em todas as situações
históricas e geográficas – não apenas na nossa época – sejam quais forem o
estado e as condições de vida, a fortaleza é um requisito insubstituível para
se manter a dignidade humana e cristã.
Pensemos que para se
vivera fidelidade conjugal; para cumprirmos com exactidão o dever estafante do
dia a dia; pois para sermos sinceros connosco mesmos, com os outros e com Deus,
evitando a cobardia da mentira e a fraqueza da duplicidade; para vivermos
sacrificadamente o esquecimento próprio e o espírito de serviço exigido pela
caridade cristã; para permanecermos firmes na fé, navegando contra a corrente;
para sofrermos em silêncio, com paciência e mansidão, as contrariedades, as
incompreensões e as injustiças, a pobreza, a doença e a dor, para tudo isso e
para muito mais nos é necessária – como o ar que respiramos - virtude da fortaleza.
A vivência continuada
virtude da fortaleza, em todos estes aspectos, torna-se, no entanto,
indispensável num sentido muito concreto: vai-nos preparando para podermos
resistir aos grandes embates ou às situações difíceis que, por vezes, a vida
nos reserva. Há, porventura nessas situações, dois ou três momentos em que
temos de ser heróicos: ou somos heróicos ou não conseguiremos evitar o
desmoronamento total.
Mas essa fortaleza
suprema, extraordinária, só se consegue por meio dessa outra vivência contínua
da fortaleza comum, ordinária, que pouco a pouco vamos adquirindo no nosso
viver diário.
Até que chega uma
circunstância em que ela se torna irrecusável: o momento em que nos assaltam as
crises existenciais e, por fim, as angústias da morte próxima.
Porque, em conclusão,
todas as depressões, todas as frustrações, todos os temores e apreensões, todas
as nostalgias e solidões são como um pressentimento, com uma ressonância
antecipada da morte.
É então que a fortaleza
demonstra a sua verdadeira consistência e o seu carácter insubstituível.
Quantas pessoas que
parecem fortes se sentem de repente no ar, apavoradas, perdidas, quando uma
circunstância qualquer desmascara os convencionalismos enganosos- as mentiras
dissimuladas – em que estão instaladas, e se encontram diante de uma vida sem
sentido ou e uma morte sem eternidade.
(…)
Quando enxergamos de
alguma maneira a morte no horizonte do nosso futuro – nessa horas de extrema
fraqueza, depressão física ou psíquica, nesses momentos de crise existencial-,
sentimos no mais fundo da alma a necessidade de um suporte fundamental mais
forte que os abalos da vida e os temores da morte.
E esse suporte fundamental
é a fé.
Senão existe uma convicção,
uma certeza profunda da realidade próxima, íntima, de um Deus Criador, de um
Deus Salvador, vencedor da morte e perpetuador da vida, o homem sente no mais
profundo da alma eu é simplesmente um projecto de existência absurdo, destinado
à desintegração total.
E o instinto de
conservação – que é um instinto de eternidade – revolta-se em forma de
ansiedade e angústia.
A fé, ao contrário, é como
uma ponte entre o tempo e a eternidade.
Uma ponte segura que
dilata a vida e a perpetua.
(Cfr FORTALEZA (1991)
de Rafael Llano Cifuentes)
(Revisão da versão
portuguesa por AMA)
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