Pergunta:
Permita-me pedir-lhe que
nos confie pelo menos um pouco do segredo do seu coração. Face à convicção que
na sua pessoa – como na de qualquer Papa – vive o mistério no qual que a fé
crê, surge espontaneamente a pergunta:
Como é capaz de aguentar
um peso semelhante, que a partir do ponto de vista humano será quase
insuportável?
Nenhum homem na terra, nem
sequer nenhum dos mais altos representantes das diferentes religiões, tem uma
responsabilidade semelhante; ninguém está em tão estreita relação com O próprio
Deus, apesar das sua declarações sobre a “co-responsabilidade” de todos os
baptizados, se bem que cada um ao seu nível.
Santidade, se mo permite:
Como se dirige a Jesus?
Como dialoga na oração com
esse Cristo que entregou a Pedro (para que chegassem até à sua pessoa, através
da sucessão apostólica) «as chaves do Reino dos céus», conferindo-lhe o poder
de «atar e desatar» todas as coisas?
Resposta:
Faz-me uma pergunta sobre
a oração, pergunta ao Papa como reza. Agradeço-lhe a pergunta.
Talvez convenha iniciar a
resposta com o que São Paulo escreve na Carta
aos Romanos.
O Apóstolo entra
directamente in medias res quando
diz:
«O Espírito vem em ajuda
da nossa debilidade porque nem sequer sabemos o que nos convém pedir, mas o
próprio Espírito intercede com insistência por nós, com gemidos inefáveis» [i]
O que é a oração?
Comummente considera-se
uma conversa.
Numa conversa há sempre um
“eu” e um “tu”. Neste caso um Tu com T maiúsculo.
A experiência da oração
ensina que se inicialmente o “eu” parece o elemento mais importante, logo nos
damos conta que na realidade as coisas são de outro modo.
Mais
importante é o “Tu”, porque a nossa oração parte da iniciativa de Deus.
São Paulo na Carta aos Romanos ensina exactamente
isto.
Segundo o Apóstolo, a
oração reflecte toda a realidade criada, tem em certo sentido uma função cósmica.
O
homem é sacerdote de toda a criação, fala em nome dela mas
enquanto guiado pelo Espírito.
Dever-se-ia meditar
detidamente sobre esta passagem da Carta
aos Romanos para entrar no centro profundo do que é a oração.
Leiamos: «A própria
criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus; pois foi
submetida à caducidade – não por sua vontade, mas pelo querer daquele que lha
impôs -, e fomenta a esperança de ser também ela libertada da escravidão da
corrupção, para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus.
Sabemos efectivamente que
toda a criação geme e sofre até hoje as dores do parto; não só ela, mas também
nós, que possuímos as primícias do Espirito, gememos interiormente esperando a
adopção dos filhos, a redenção do nosso corpo.
E aqui encontramos de novo
as palavras do Apóstolo já citadas:
«O espírito vem em ajuda
da nossa debilidade, porque nem sequer sabemos o que nos convém pedir, mas o
próprio Espírito intercede por nós com insistência, «com gemidos inefáveis»[iii]
Na
oração, pois, o verdadeiro protagonista é Deus.
O protagonista é Cristo,
que constantemente liberta a criatura da escravidão da corrupção e a conduz
para a liberdade, para a glória dos filhos de Deus.
Protagonista é o Espírito
Santo, que «vem em ajuda da nossa debilidade».
Nós começamos a rezar com
a impressão que é uma iniciativa nossa: ao contrário, é sempre uma iniciativa
de Deus em nós.
É exactamente assim como
escreve São Paulo
Esta iniciativa
reintegra-nos na nossa dignidade especial.
Sim, introduz-nos na
dignidade superior dos filhos de Deus, filhos de Deus que são o que toda a
criação espera.
(Cfr entrevista de
Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA,
Outubro de 1994)
(Tradução do castelhano
por AMA)
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