09/11/2018

Leitura espiritual

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LEGENDA MAIOR 
Vida de São Francisco de Assis

SEGUNDA PARTE

CAPITULO 13

Os sagrados estigmas

7. Nas terras em volta do monte Alverne, antes que o santo viesse morar aí temporariamente, as colheitas todos os anos eram destruídas por violentas tempestades de granizo, provocadas por uma nuvem que se elevava sobre o monte.
Mas depois daquela grandiosa e santa aparição, para espanto dos moradores, não mais ocorreu chuva de granizo.
Evidentemente o próprio aspecto do céu sereno reflectia também a grandeza daquela visão e a virtude taumatúrgica dos estigmas, que Francisco aí recebera.
Sucedeu que, indo Francisco montado num jumentinho de propriedade de um homem pobre, por causa da sua fraqueza física e da aspereza do caminho, em tempo de inverno, teve que pernoitar sob um rochedo mais saliente para fugir de algum modo à inclemência da noite e da neve que caía, e em razão das quais não lhe fora possível chegar ao convento.
O santo ouvia aquele homem queixar-se em voz baixa, movendo-se continuamente de um lado para outro tolhido de frio, desagasalhado e sem poder descansar um só momento, e, cheio de santa caridade, estendeu a mão ao pobre homem e tocou-o.
Prodígio inaudito!
Ao contacto daquela mão, inflamada no fogo do amor divino, desapareceu completamente o frio daquele homem, que sentiu dentro e fora de si um calor tão intenso, como se viesse sobre ele a chama de um fogo ardente.
Confortado, pois, no corpo e na alma, dormiu tão tranquilamente até de manhã entre aqueles penhascos cobertos de neve, como jamais conseguiria num leito macio conforme ele mesmo afirmou mais tarde.
São esses indícios certos que provam que os estigmas tiveram sua origem no poder daquele que, por intermédio dos serafins, purifica, ilumina e inflama, pois deram ao santo o poder de curar livrando da peste, de dar claridade ao céu e aos corpos calor.
Outros prodígios realizados após a sua morte e referidos mais adiante vêm reforçar esta convicção com toda evidência.

8. Os estigmas eram para ele o “tesouro descoberto num campo(cf. Mt 13,44) e que ele tinha o sumo cuidado de ocultar.
Mas não conseguiu escondê-los por muito tempo, apesar de trazer as mãos sempre cobertas e os pés continuamente calçados.
De facto muitos irmãos os viram durante a vida do santo. E embora tais irmãos fossem dignos de toda fé por sua extraordinária santidade, assim mesmo, para se descartar qualquer dúvida, juraram sobre os santos Evangelhos, afirmando ser certo que os tinham visto.
Viram-nos igualmente, por ocasião da íntima familiaridade que tinham com o santo, alguns cardeais, que deixaram, em prosa, hinos e antífonas em honra de Francisco, louvores às chagas do santo, dando fiel testemunho delas por escrito e pela palavra.
O Sumo, Pontífice Alexandre IV, enfim, num sermão feito na presença de inúmeros irmãos e de mim mesmo, afirmou ter visto com seus próprios olhos os sagrados estigmas no tempo em que o santo ainda vivia.
Após sua morte, mais de cinquenta irmãos puderam contemplá-los, como Clara, a virgem devotíssima, suas Irmãs e inúmeros fiéis, dentre os quais muitos os beijaram devotamente, como veremos mais adiante, e os tocaram com suas mãos a fim de se convencer da verdade.
A chaga do lado, porém, ocultava-a ele com tanto cuidado, que aqueles que a viram só o conseguiram furtivamente. Um dos irmãos que o servia habitualmente e com muita delicadeza, usando um piedoso estratagema, conseguiu que ele tirasse a túnica sob pretexto de a sacudir, o que lhe permitiu observar a chaga com atenção e rapidamente aplicar três dedos tomando assim a medida daquela ferida pela vista e pelo tacto.
Graças a um artifício semelhante, o irmão que era então seu vigário também conseguiu observá-la.
Um irmão de uma simplicidade admirável lhe esfregava certo dia as espáduas doentes; a sua mão por descuido atingiu-o no local da chaga, causando-lhe uma dor bastante forte.
Por isso desde então usava, para proteger o ferimento, roupas íntimas que lhe chegavam até as axilas.
Os irmãos encarregados de lavá-las e sacudir a sua túnica periodicamente viam-nas manchadas de sangue.
Por tais indícios lhes foi revelada a sagrada chaga que a seguir puderam contemplar às claras e venerar com todos os outros depois da morte de Francisco.

9. Empunha, portanto, valente soldado de Cristo, as armas desse chefe invencível, com as quais, fortalecido e assinalado, poderás vencer a todos os inimigos!
Levanta o estandarte do Rei altíssimo, a cuja vista recuperem força e valor todos os esquadrões do exército celeste. Exibe diante do mundo o selo do Sumo Pontífice, Cristo, e assim tenham todos com razão por autênticas e irrefutáveis tuas acções e palavras. Pois, sem dúvida alguma, por causa das chagas de Cristo Jesus que levas em teu corpo, ninguém te seja molesto, mas todos os servos de Cristo estão obrigados a ter para contigo particular devoção.
Por esses sinais indubitáveis, que não só receberam a comprovação necessária dos dois ou três testemunhos, mas que foram reconhecidos superabundantemente por um grande número de pessoas, se demonstra que os testemunhos de Deus tornaram-se tão dignos de crédito em ti e por ti, que aos incrédulos não há lugar para desculpas que justifiquem sua conduta, mas, ao contrário, se firma a fé dos crentes, aumentam os sólidos motivos de esperança e se acende mais e mais o fervor da caridade.

10. A tua primeira visão realizou-se, anunciando que serias um dos chefes do exército de Cristo, munido pelo céu com as armas da cruz.
A visão que tiveste de Jesus crucificado realizou-se e foi ai que traspassou tua alma; e também se realizou aquela visão em que ouviste a voz que vinha da cruz como do trono e do altar onde Cristo residia, como nós cremos sem hesitar.
Realizou-se a visão de Frei Silvestre: a cruz maravilhosa que saía de tua boca.
Como também a de Frei Pacífico: as duas espadas cruzadas que traspassavam teu corpo; e a do angélico Frei Monaldo, que te viu elevado no ar, braços em cruz, durante o sermão de Santo António sobre o título que encima a cruz: visões, essas, que não eram imaginações mas revelações do céu e às quais damos nossa fé mais irrestrita.
Realizou-se enfim essa visão simultânea de um sublime serafim e de um humilde crucificado que, abrasando a tua alma de amor e marcando o teu corpo com estigmas, transformou-te no segundo anjo que sobe do Oriente e leva o sinal do Deus vivo (Ap 7,2); ela confirma as anteriores e delas recebe um testemunho acrescido.
Sete vezes, portanto, a cruz de Cristo aparece a teus olhos ou é revelada em tua pessoa aos olhos dos teus companheiros.
As seis primeiras eram como degraus para chegares à sétima na qual enfim repousaste.
Essa cruz de Cristo, efectivamente, te foi proposta no início da tua conversão e a aceitaste.
Levaste-a continuamente em seguida durante tua vida de perfeição e deste dela um exemplo aos outros.
E agora ela nos mostra com tal evidência tua chegada ao cume da perfeição do Evangelho, que nenhum homem verdadeiramente religioso poderá rejeitar, nenhum homem realmente fiel poderá atacar, nenhum homem efectivamente humilde poderá desprezar essa prova da sabedoria cristã escrita em tua carne.

Ela é digna de nosso respeito e de nossa fé, pois é obra do próprio Deus.

(cont

São Boaventura
Revisão da versão portuguesa por AMA

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