06/11/2018

Leitura espiritual

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LEGENDA MAIOR 

Vida de São Francisco de Assis

SEGUNDA PARTE

CAPITULO 12

Eficácia de sua pregação e poder de curar

3. Aproximando- se de Bevagna, viu um pequeno bosque onde se haviam reunido passarinhos de toda espécie em grandes bandos. Correu imediatamente para lá e saudou-os como se fossem dotados de razão. Pararam todos para olhá-lo; os que estavam nas árvores se inclinavam e avançavam as cabeças, olhando de modo extraordinário. Adiantou-se para o meio deles, pediu-lhes mansamente que ouvissem a palavra de Deus e lhes disse: “Irmãos passarinhos vós tendes muito motivo para bendizer vosso Deus e Criador que vos vestiu de tão ricas plumas e vos deu asas para voar; vos determinou para morada a região pura dos ares e cuida de vós, sem que preciseis vos inquietar com nada”.
Esse discurso provocou entre os passarinhos alegres manifestações: esticavam o pescoço, desdobravam as asas, abriam o bico e olhavam atentamente para Francisco. E o santo ia e vinha no meio deles, a alma delirando de fervor; roçava-lhes a túnica, nenhum porém se afastava.
Por fim, traçou o sinal da cruz sobre eles, e os passarinhos, com a sua permissão e sua bênção, voaram todos ao mesmo tempo.
Os companheiros de missão olhavam aquele espectáculo.
Ao voltar para junto deles, o homem simples e puro que era Francisco acusava-se de negligência por não haver até então pregado às aves.

4. Pregando em seguida nas vizinhanças, chegou a um lugar chamado Albino, onde, havendo congregado o povo e feito o devido silêncio, mal se ouvia a sua voz na pregação por causa de um grande número de andorinhas que naquele mesmo lugar estavam construindo os seus ninhos e faziam com os seus pios um estrépito muito grande.
E diante de todos, disse a elas:
“Irmãs andorinhas, já é tempo que me deixeis falar, pois até agora haveis gritado bastante. Ouvi a palavra de Deus e guardai silêncio até que termine a pregação”.
A esta ordem, e como se fossem capazes de conhecimento, silenciaram de repente as andorinhas, permanecendo no mesmo lugar até que o santo terminou seu sermão.
Havendo presenciado essa maravilha, os ouvintes encheram-se de admiração e todos unânimes glorificavam ao Senhor.
Divulgada a fama deste milagre por toda parte, muitas pessoas sentiram-se atraídas à veneração e devoção do santo.

5. Um estudante de Parma, excelente jovem, estudava com alguns companheiros, quando uma andorinha veio incomodá-los e importuná-los provocando grande ruído com seus pios.
Disse ele a seus companheiros: “É uma das que perturbaram a pregação do homem de Deus Francisco até que ele lhes ordenou que calassem”.
Voltou-se para a andorinha e disse-lhe com plena segurança:
“Ordeno-te, em nome do servo de Deus Francisco, que venhas aqui e fiques calada!”
Em nome de Francisco, ela calou se imediatamente, como se tivesse ouvido a voz do santo homem, e veio-se aconchegar na mão do estudante, que, estupefacto, lhe devolveu a liberdade e não mais foi importunado por seus gritos.

6. Certa ocasião pregava o servo de Deus em Gaeta, à beira-mar, e as multidões, por devoção, acorriam a ele para tocá-lo.
Mas o santo, que tinha horror desse tipo de sucesso tumultuoso, saltou sozinho dentro de uma barca que encontrou atracada.
E como se fosse propulsionada por sua própria força, sem que aparecesse qualquer remador, foi ela entrando no mar para grande admiração de todos. Mas tendo-se afastado da praia, ficou imóvel entre as ondas todo o tempo que o santo esteve pregando às turbas que com religioso silêncio o ouviam da praia.
Terminado o sermão, o povo, testemunha do milagre, recebeu a bênção e retirou-se para não mais importunar o santo, Então a barca por si mesma voltou à praia.
Quem seria, pois, tão obstinado em sua impiedade para desprezar a pregação de Francisco cuja virtude admirável contribuía não só para que os seres irracionais ouvissem a sua doutrina, mas também para que os corpos inanimados lhe servissem na pregação como se fossem racionais?

7. O Espírito do Senhor, que ungira a Francisco e o enviara, e o próprio Cristo, virtude e sabedoria do Pai, (1Cor 1,24), haviam derramado tão copiosamente os seus dons sobre ele, que podia comunicar pela sua palavra a doutrina autêntica de ambos e desenvolver seu poder em milagres estupendos.
A sua palavra era um fogo ardente que penetrava até ao fundo dos corações e enchia de admiração a todos os ouvintes, pois não exibia as galas de uma eloquência mundana, mas apenas espalhava o bom odor de verdades reveladas por Deus.
Sucedeu certo dia, com efeito, que devendo pregar diante do próprio papa e dos cardeais, por encargo do bispo de Óstia, compôs um sermão, que aprendeu cuidadosamente de cor.
Mas ao chegar o momento de se apresentar de pé diante da assembleia para pronunciar o discurso, esqueceu-o completamente e não pôde dizer uma palavra sequer do que escrevera.
Confessou então o santo com a maior humildade o que lhe sucedia.
Recolheu-se uns breves momentos para implorar as luzes do Espírito Santo e começou a expressar-se com tanta fluência, com raciocínios tão eficazes, que moveu à compunção as ilustres pessoas que o ouviam, mostrando-se bem às claras que não era ele, mas o Espírito Santo, quem falava por sua boca.

(cont

São Boaventura
Revisão da versão portuguesa por AMA

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