LEGENDA MAIOR
Vida de São Francisco de Assis
SEGUNDA PARTE
CAPITULO
12
Eficácia
de sua pregação e poder de curar
3. Aproximando- se de
Bevagna, viu um pequeno bosque onde se haviam reunido passarinhos de toda
espécie em grandes bandos. Correu imediatamente para lá e saudou-os como se
fossem dotados de razão. Pararam todos para olhá-lo; os que estavam nas árvores
se inclinavam e avançavam as cabeças, olhando de modo extraordinário. Adiantou-se
para o meio deles, pediu-lhes mansamente que ouvissem a palavra de Deus e lhes
disse: “Irmãos passarinhos vós tendes muito motivo para bendizer vosso Deus e
Criador que vos vestiu de tão ricas plumas e vos deu asas para voar; vos
determinou para morada a região pura dos ares e cuida de vós, sem que preciseis
vos inquietar com nada”.
Esse discurso provocou
entre os passarinhos alegres manifestações: esticavam o pescoço, desdobravam as
asas, abriam o bico e olhavam atentamente para Francisco. E o santo ia e vinha
no meio deles, a alma delirando de fervor; roçava-lhes a túnica, nenhum porém
se afastava.
Por fim, traçou o sinal da
cruz sobre eles, e os passarinhos, com a sua permissão e sua bênção, voaram
todos ao mesmo tempo.
Os companheiros de missão
olhavam aquele espectáculo.
Ao voltar para junto
deles, o homem simples e puro que era Francisco acusava-se de negligência por
não haver até então pregado às aves.
4. Pregando em seguida nas
vizinhanças, chegou a um lugar chamado Albino, onde, havendo congregado o povo
e feito o devido silêncio, mal se ouvia a sua voz na pregação por causa de um
grande número de andorinhas que naquele mesmo lugar estavam construindo os seus
ninhos e faziam com os seus pios um estrépito muito grande.
E diante de todos, disse a
elas:
“Irmãs andorinhas, já é
tempo que me deixeis falar, pois até agora haveis gritado bastante. Ouvi a
palavra de Deus e guardai silêncio até que termine a pregação”.
A esta ordem, e como se
fossem capazes de conhecimento, silenciaram de repente as andorinhas,
permanecendo no mesmo lugar até que o santo terminou seu sermão.
Havendo presenciado essa
maravilha, os ouvintes encheram-se de admiração e todos unânimes glorificavam
ao Senhor.
Divulgada a fama deste
milagre por toda parte, muitas pessoas sentiram-se atraídas à veneração e
devoção do santo.
5. Um estudante de Parma,
excelente jovem, estudava com alguns companheiros, quando uma andorinha veio
incomodá-los e importuná-los provocando grande ruído com seus pios.
Disse ele a seus companheiros:
“É uma das que perturbaram a pregação do homem de Deus Francisco até que ele
lhes ordenou que calassem”.
Voltou-se para a andorinha
e disse-lhe com plena segurança:
“Ordeno-te, em nome do
servo de Deus Francisco, que venhas aqui e fiques calada!”
Em nome de Francisco, ela
calou se imediatamente, como se tivesse ouvido a voz do santo homem, e veio-se
aconchegar na mão do estudante, que, estupefacto, lhe devolveu a liberdade e
não mais foi importunado por seus gritos.
6. Certa ocasião pregava o
servo de Deus em Gaeta, à beira-mar, e as multidões, por devoção, acorriam a
ele para tocá-lo.
Mas o santo, que tinha
horror desse tipo de sucesso tumultuoso, saltou sozinho dentro de uma barca que
encontrou atracada.
E como se fosse
propulsionada por sua própria força, sem que aparecesse qualquer remador, foi
ela entrando no mar para grande admiração de todos. Mas tendo-se afastado da
praia, ficou imóvel entre as ondas todo o tempo que o santo esteve pregando às
turbas que com religioso silêncio o ouviam da praia.
Terminado o sermão, o
povo, testemunha do milagre, recebeu a bênção e retirou-se para não mais
importunar o santo, Então a barca por si mesma voltou à praia.
Quem seria, pois, tão
obstinado em sua impiedade para desprezar a pregação de Francisco cuja virtude
admirável contribuía não só para que os seres irracionais ouvissem a sua
doutrina, mas também para que os corpos inanimados lhe servissem na pregação
como se fossem racionais?
7. O Espírito do Senhor,
que ungira a Francisco e o enviara, e o próprio Cristo, virtude e sabedoria do
Pai, (1Cor 1,24), haviam derramado tão copiosamente os seus dons
sobre ele, que podia comunicar pela sua palavra a doutrina autêntica de ambos e
desenvolver seu poder em milagres estupendos.
A sua palavra era um fogo
ardente que penetrava até ao fundo dos corações e enchia de admiração a todos
os ouvintes, pois não exibia as galas de uma eloquência mundana, mas apenas espalhava
o bom odor de verdades reveladas por Deus.
Sucedeu certo dia, com
efeito, que devendo pregar diante do próprio papa e dos cardeais, por encargo
do bispo de Óstia, compôs um sermão, que aprendeu cuidadosamente de cor.
Mas ao chegar o momento de
se apresentar de pé diante da assembleia para pronunciar o discurso, esqueceu-o
completamente e não pôde dizer uma palavra sequer do que escrevera.
Confessou então o santo
com a maior humildade o que lhe sucedia.
Recolheu-se uns breves
momentos para implorar as luzes do Espírito Santo e começou a expressar-se com
tanta fluência, com raciocínios tão eficazes, que moveu à compunção as ilustres
pessoas que o ouviam, mostrando-se bem às claras que não era ele, mas o
Espírito Santo, quem falava por sua boca.
(cont
São Boaventura
Revisão da versão
portuguesa por AMA
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