São Josemaria Escrivá
Cristo que passa
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Assim se entra no Canon,
com a confiança filial que nos leva a chamar clementíssimo ao nosso Pai Deus.
Pedimos-Lhe pela Igreja e
por todos os que estão na Igreja, pelo Papa, pela nossa família, pelos nossos
amigos e companheiros. E o católico, como tem coração universal, pede por todo
o mundo, porque o seu zelo entusiasta nada pode excluir.
E para que a petição seja
acolhida, recordamos a nossa comunhão com a Santíssima Virgem e com um punhado
de homens que foram os primeiros a seguir Cristo e por Ele morreram.
Quam oblationem...
Aproxima-se o momento da
consagração.
Agora, na Santa Missa, é
outra vez Cristo que actua, através do sacerdote: Isto é o meu Corpo.
Este é o cálice do meu
Sangue.
Jesus está connosco!
Com a transubstanciação,
renova-se a infinita loucura divina, ditada pelo Amor.
Quando hoje se repete esse
momento, que saiba cada um de nós dizer ao Senhor, mesmo sem pronunciar
quaisquer palavras, que nada nos poderá afastar d'Ele e que a sua
disponibilidade de se deixar ficar - totalmente indefeso - nas aparências, tão
frágeis, do pão e do vinho, nos converteu voluntariamente em escravos: praesta
meae menti de te vivere et te illi semper dulce sapere, faz com que eu viva de
Ti e saboreie sempre a doçura do teu amor.
Mais petições.
Nós, homens, estamos quase
sempre inclinados a pedir.
Desta vez, é pelos nossos
irmãos defuntos e por nós mesmos.
Por isso, aqui aparecem
todas as nossas infidelidades e misérias. O peso da sua carga é muito grande,
mas Ele quer levá-lo por nós e connosco.
O Canon vai terminar com
outra invocação à Santíssima Trindade: per Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso....
por Cristo, com Cristo e em Cristo, nosso Amor, a Ti, Deus Pai Todo Poderoso,
na unidade do Espírito Santo, Te seja dada toda a honra e glória pelos séculos
dos séculos.
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Jesus é o Caminho, o
Medianeiro.
N'Ele, tudo!
Fora d'Ele nada!
Em Cristo e ensinados por
Ele, atrevemo-nos a chamar Pai Nosso ao Todo-Poderoso, a Ele, que fez o Céu e a
Terra e que é esse Pai tão afectuoso que espera que voltemos para Ele
continuamente, cada um de nós como novo e constante filho pródigo.
Ecce Agnus Dei... Domine,
non sum dignus...
Vamos receber o Senhor.
Quando na Terra se recebem
pessoas muito importantes, há luzes, música, trajes de gala.
Para albergar Cristo na
nossa alma, como devemos preparar-nos?
Já teremos por acaso
pensado como nos comportaríamos se só se pudesse comungar uma vez na vida?
Quando eu era criança, não
estava ainda divulgada a prática da comunhão frequente.
Recordo-me de como se
preparavam as pessoas para comungar.
Cuidavam com esmero a boa
preparação da alma e até do corpo. Punham a melhor roupa, a cabeça bem
penteada, o corpo fisicamente limpo e talvez mesmo um pouco de perfume...
Eram delicadezas próprias
de quem estava apaixonado, de almas finas e rectas, que sabem pagar o Amor com
amor.
Com Cristo na alma,
termina a Santa Missa.
A bênção do Pai, do Filho
e do Espírito Santo acompanha-nos durante toda a jornada, na nossa tarefa simples
e normal de santificar todas as actividades nobres do homem.
Assistindo à Santa Missa,
aprenderemos a falar, a privar com cada uma das Pessoas divinas: com o Pai, que
gera o Filho, que é gerado pelo Pai; e com o Espírito Santo, que procede dos
dois.
Habituando-nos a privar
intimamente com qualquer uma das três Pessoas, privaremos com um único Deus.
E se falarmos com as três,
com a Trindade, privaremos também com um só Deus, único e verdadeiro.
Amai a Santa Missa, meus
filhos, amai a Santa Missa!
E que cada um de vós
comungue com ardor, mesmo que se sinta gelado, mesmo que não haja
correspondência por parte da emotividade. Comungai com fé, com esperança e com
caridade inflamada.
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Viver na intimidade com
Jesus Cristo
Não ama Cristo quem não
ama a Santa Missa e quem não se esforça no sentido de a viver com serenidade e
sossego, com devoção e com carinho.
0 amor transforma aqueles
que estão apaixonados em pessoas de sensibilidade fina e delicada.
Leva-os a descobrir, para
que se não esqueçam de os pôr em prática, pormenores que são por vezes mínimos,
mas que trazem a marca de um coração apaixonado.
É assim que devemos
assistir à Santa Missa. Por este motivo, sempre pensei que aqueles que querem
ouvir uma missa rápida e atabalhoada demonstram com essa atitude, já de si
pouco elegante, que não conseguiram aperceber-se do significado do Sacrifício
do altar.
O amor a Cristo, que se
oferece por nós, anima-nos a saber encontrar, uma vez terminada a Santa Missa,
alguns minutos de acção de graças pessoal e íntima, que prolonguem no silêncio
do coração essa outra acção de graças que é a Eucaristia.
Como poderemos dirigir-nos
a Ele, como falar-Lhe, como comportar-nos?
A vida cristã não está
feita de normas rígidas, porque o Espírito Santo não dirige as almas
massivamente, mas infundindo em cada uma delas propósitos, inspirações e
afectos que ajudarão a captar e a cumprir a vontade do Pai. Penso, no entanto,
que em muitas ocasiões o nervo do nosso diálogo com Cristo, na acção de graças
depois da Santa Missa, pode ser a consideração de que o Senhor é para nós, Rei,
Médico, Mestre e Amigo.
É Rei e anseia por reinar
nos nossos corações de filhos de Deus.
Mas é preciso não imaginar
reinados humanos neste caso, porque Cristo não domina nem procura impor-se,
dado que não veio para ser servido, mas para servir.
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O seu reino é a paz, a
alegria, a justiça. Cristo, nosso Rei, não espera de nós raciocínios vãos, mas
factos, porque nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus;
mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos
céus.
É Médico e cura o nosso
egoísmo, se deixarmos que a sua graça penetre até ao fundo da nossa alma.
Jesus disse-nos que a pior
doença é a hipocrisia, o orgulho que nos faz dissimular os nossos pecados.
Com o Médico, é
imprescindível, pela nossa parte, uma sinceridade absoluta, explicar-lhe toda a
verdade e dizer: Domine, si vis, potes me mundare, Senhor, se quiseres - e Tu
queres sempre - podes curar-me. Tu conheces as minhas fraquezas, tenho estes
sintomas e estas debilidades.
Mostramos-lhe também com
toda a simplicidade as chagas e o pus, no caso de haver pus.
Senhor, Tu, que curaste
tantas almas, faz com que, ao ter-Te no meu peito ou ao contemplar-Te no
Sacrário, Te reconheça como Médico divino.
É mestre de uma ciência
que só Ele possui, a do amor a Deus sem limites e, em Deus, a todos os homens.
Na escola de Cristo
aprende-se que a nossa existência não nos pertence. Ele entregou a sua vida por
todos os homens e, se O seguimos, necessitamos de compreender que não devemos
apropriar-nos de maneira egoísta da nossa vida sem compartilhar as dores dos
outros.
A nossa vida é de Deus.
Temos de gastá-la ao seu
serviço, preocupando-nos generosamente com as almas e demonstrando, com a
palavra e com o exemplo, a profundidade das exigências cristãs.
Jesus espera que
alimentemos o desejo de adquirir essa ciência, para nos repetir: se alguém tem
sede, venha a Mim e beba.
E respondemos: ensina-nos
a esquecermo-nos de nós mesmos, para pensarmos em Ti e em todas as almas.
Deste modo, o Senhor
far-nos-á progredir com a sua graça, como quando começávamos a escrever
(lembrais-vos daqueles traços que fazíamos, guiados pela mão do professor?) e
assim começaremos a saborear a dita de manifestar a nossa fé, que é já de si
outra dádiva de Deus, também com traços inequívocos de uma conduta cristã, onde
todos possam descobrir as maravilhas divinas.
É Amigo, o Amigo: vos
autem dixi amicos, diz-nos Ele.
Chama-nos amigos e foi Ele
quem deu o primeiro passo, pois amou-nos primeiro.
Contudo, não impõe o seu
carinho: oferece-o. E prova-o com o sinal mais evidente da amizade: ninguém tem
maior amor que o daquele que dá a vida pelos seus amigos.
Era amigo de Lázaro e
chorou por ele quando o viu morto. E ressuscitou-o.
Por isso, se nos vir
frios, desalentados, talvez com a rigidez de uma vida interior que se está a
extinguir, o seu pranto será vida para nós: Eu te ordeno, meu amigo, levanta-te
e anda, deixa essa vida mesquinha, que não é vida!
(cont)