Art.
6 — Se a caridade subsiste, depois desta vida, na glória.
O sexto discute-se assim.
— Parece que a caridade
não subsiste depois desta vida, na glória.
1. — Pois, como diz a
Escritura (1 Cor 13, 10), quando
vier o que é perfeito, abolido será o que é em parte, i. é, o imperfeito.
Ora, a caridade é uma via imperfeita. Logo, será abolida quando chegarmos à
perfeição da glória.
2. Demais. — Os hábitos e
os actos se distinguem pelos seus objectos. Ora, o objecto do amor é o bem
apreendido. Logo, como a apreensão desta vida difere da apreensão da vida
futura, a mesma caridade não poderá subsistir numa e noutra.
3. Demais. — O que num
ponto de vista é imperfeito pode alcançar a igualdade da perfeição por um
aumento contínuo. Ora, a caridade da vida não pode nunca chegar a igualar-se à
da pátria, por mais que aumente. Logo, a caridade da vida não subsistirá na
outra.
Mas, em contrário, o
Apóstolo diz (1 Cor 13, 8): A
caridade nunca jamais há-de acabar.
SOLUÇÃO. — Como já
dissemos [2],
nada impede que aquilo que tem uma imperfeição, não pertencente à essência,
venha a ser perfeito, conservando-se numericamente tal como é; assim, o homem
vem a ser perfeito pelo crescimento, e a brancura, pela intensidade. Ora, a
caridade é amor, a cuja essência não pertence nenhuma imperfeição; pois, pode
ter por objecto tanto o possuído como o que não o é, tanto o que vemos como o
que não vemos. Logo, a caridade não será abolida pela perfeição da glória, mas
permanecerá numericamente a mesma.
DONDE A RESPOSTA À
PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A imperfeição pode atingir a caridade acidentalmente, por
não ser a imperfeição da essência do amor. Ora, removido o acidental, nem por
isso deixa de existir a substância. Logo, abolida a imperfeição da caridade,
esta não será abolida.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A
caridade não tem por objecto o conhecimento em si mesmo, porque então não seria
a mesma nesta e na outra vida. Mas, tem como objecto, aquilo mesmo que é
conhecido, e que é sempre o mesmo, i. é, Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A
caridade da vida, aumentando não pode igualar a da pátria, pela diferença
causal existente. Pois, a visão é uma causa do amor, como já se disse [3].
Ora, quanto mais perfeitamente Deus é conhecido, tanto mais perfeitamente é
amado.
(Revisão
da versão portuguesa por AMA)
[1] (II Sent., dist.
XXXI, q. 2, a. 2; De Verit., q. 27, a. 5, ad 6; De Virtut., q. 4, a. 4, ad 7,
13, 14 ; I Cor., cap. XIII,
lect. III).
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