O segundo discute-se
assim. — Parece que o meio-termo da virtude moral não é o meio-termo da razão,
mas o da coisa.
1. — Pois, o bem da
virtude moral consiste em ser um meio-termo. Ora, o bem, como se disse [2],
existe nas próprias coisas. Logo, o meio-termo da virtude moral é o da própria realidade.
2. Demais. — A razão é uma
faculdade apreensiva. Ora, a virtude moral não consiste no meio-termo das
apreensões, mas antes, no das obras e das paixões. Logo, o meio-termo da
virtude moral não é o racional mas, o real.
3. Demais. — O meio-termo de
urna proporção aritmética ou geométrica é o da realidade. Ora, tal é o meio-termo
da justiça, corno se disse [3].
Logo, o meio-termo da virtude moral não é o racional, mas o real.
Mas, em contrário, diz o
Filósofo, que a virtude moral consiste num meio-termo relativo a nós, conforme
a razão o determina [4].
O meio-termo racional
pode ser entendido em duplo sentido. — Num primeiro sentido, consiste no
próprio acto da razão, este sendo como reduzido a um termo médio. E assim, como
a virtude moral não aperfeiçoa o acto da razão, mas o da virtude apetitiva, o meio-termo
da virtude moral não é o da razão. — Noutro sentido, pode chamar-se meio-termo da
razão, aquilo que ela estabelece numa determinada matéria. E assim, todo meio-termo
da virtude moral é meio-termo da razão, porque, como já dissemos [5],
a virtude moral consiste num meio-termo por conformidade com a razão recta.
Umas vezes porém sucede
que o meio-termo da razão é também o real; e então necessariamente o meio-termo
da virtude moral é o mesmo da realidade; e tal é o caso da justiça. Outras
vezes contudo o meio-termo da razão não é o da realidade, mas é relativo a nós,
e tal é o caso de todas as outras virtudes morais. E isso porque a justiça
versa sobre os actos relativos a coisas exteriores, e cuja rectidão deve ser
estabelecida absolutamente e em si mesma considerada, como já dissemos [6].
E portanto, o meio-termo racional da justiça coincide com o da causa, a saber
enquanto ela dá a cada um o que lhe é devido, nem mais nem menos. Ao passo que
as demais virtudes morais versam sobre as paixões internas, cuja rectidão não
pode ser estabelecida do mesmo modo, porque as paixões humanas se manifestam de
modos diversos. Donde é necessário que a rectidão da razão, no concernente às
paixões, seja estabelecida por uma relação connosco, que somos afectados pelas
paixões.
E daqui se deduzem as
RESPOSTAS ÀS OBJECÇÕES
— Pois, as duas primeiras
fundam-se no meio-termo da razão existente no próprio acto desta.
— E a terceira funda-se no
meio-termo da justiça.
Revisão
da versão portuguesa por AMA
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.