Questão
63: Do efeito principal dos Sacramentos, que é a graça.
Art.
1 — Se só Deus, ou também o ministro contribui interiormente para o efeito do
sacramento.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que não só Deus, mas também, o ministro contribui para o efeito do sacramento.
1. — Pois, o efeito interior do
sacramento é purificar-nos do pecado e iluminar-nos pela graça. Ora, aos ministros da Igreja compete purificar,
iluminar e aperfeiçoar, como está claro em Dionísio. Logo, parece que não
só Deus, mas também os ministros da Igreja contribuem para o efeito do
sacramento.
2. Demais. — Ao conferir os
sacramentos se propõem certos sufrágios de orações. Ora, às orações dos justos
Deus as ouve melhor do que as de quaisquer outros, segundo o do Evangelho: Se alguém dá culto a Deus e faz a sua
vontade, a este escuta Deus. Logo, parece que alcança maior efeito do
sacramento aquele que o recebe de um bom ministro. Assim, pois, também o
ministro obra para o efeito interior do sacramento e não só Deus.
3. Demais. — Mais digno é um homem que
um ser inanimado. Ora, o ser inanimado contribui de certo modo para o efeito
interior, pois, a água toca o corpo e
purifica o coração, no dizer de Agostinho. Logo, o homem contribui de certo
modo para o efeito do sacramento e não só Deus.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Deus é quem justifica. Sendo, pois, a
justificação o efeito interior de todos os sacramentos, parece que só Deus
causa o efeito interior do sacramento.
De dois modos pode ser
causado um efeito - a modo de agente principal e a modo de instrumento. - Ora,
do primeiro modo só Deus causa o efeito interior do sacramento.
Quer porque só Deus penetra na alma,
no que recebe o efeito do sacramento, e não pode nenhum agente obrar
imediatamente onde não está. Quer também porque a graça, efeito interior do
sacramento, vem só de Deus, como dissemos na Segunda Parte. E ainda o carácter,
efeito interior de certos sacramentos, é uma virtude instrumental, que dimana
do principio agente que é Deus. Mas, do segundo modo, o homem pode contribuir
para o efeito interior do sacramento, enquanto age como ministro. Pois, o mesmo
que se dá com o ministro se dá com o instrumento: o acto de um e de outro é de
origem extrínseca, mas produz um efeito interno em virtude do agente principal
que é Deus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A purificação, enquanto atribuída aos ministros da Igreja, não se refere à do
pecado. Mas, dizemos que os diáconos purificam, ou porque expulsam os imundos
da sociedade dos fiéis, ou com sacras admoestações os dispõem à recepção dos
sacramentos. Semelhantemente também se diz dos sacerdotes, que iluminam o povo
fiel, não por certo infundindo a graça, mas comunicando os sacramentos da graça,
como está claro no mesmo lugar de Dionísio.
RESPOSTA À. SEGUNDA. - As orações
ditas ao se conferirem os sacramentos são feitas a Deus, não em nome de uma
pessoa particular, mas em nome de toda a Igreja, cujas preces são ouvidas por
Deus, segundo o diz o Evangelho: Se dois
de vós se unirem entre si sobre a terra, seja qual for a causa que eles
pedirem, meu Pai que está no céu lh'a fará. Ora, nada impede a oração de um
varão justo em algo contribuir para isso. Mas aquele que é realmente o efeito
do sacramento não é impetrado por oração da Igreja ou do ministro, mas resulta
do mérito da paixão de Cristo, cuja virtude opera nos sacramentos, como se
disse. Por isso o efeito do sacramento não se torna melhor por ser melhor o
ministro. Mas, junto com esse efeito, pode ser impetrada uma graça àquele que
recebe o sacramento, pela devoção do ministro; mas essa não é obra do ministro,
que pede a Deus a conceda.
RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas
inanimadas não contribuem para o efeito interior, senão instrumentalmente, como
se disse. E semelhantemente, os homens não contribuem para o efeito dos sacramentos
senão a modo de ministério, como dissemos.
Nota: Revisão da versão portuguesa por
ama.