Questão
61: Da necessidade dos Sacramentos.
Art.
2 — Se antes do pecado os sacramentos eram necessários ao homem.
O segundo discute-se assim. — Parece que
antes do pecado os sacramentos eram necessários ao homem.
1. — Pois, como se disse, os sacramentos
são necessários para o homem alcançar a graça. Ora, mesmo no estado de
inocência o homem precisava da graça, como se estabeleceu na Primeira Parte.
Logo, também nesse estado lhe eram necessários os sacramentos.
2. Demais. — Os sacramentos são necessários
ao homem em virtude da condição da natureza humana como se disse. Ora, a
natureza do homem é a mesma tanto antes como depois do pecado. Logo, parece que
também antes do pecado precisava dos sacramentos.
3. Demais. — O matrimónio é um sacramento,
segundo o Apóstolo: este sacramento é
grande, mas eu digo em Cristo e na Igreja. Ora, o matrimónio foi instituído
antes do pecado, como o refere a Escritura. Logo, os sacramentos eram necessários
ao homem antes do pecado.
Mas, em contrário; o remédio não é
necessário senão ao doente, segundo o Evangelho: Os sãos não têm necessidade de médico. Ora, os sacramentos são uns
remédios espirituais aplicados contra os males causados pelo pecado. Logo, não
eram necessários antes do pecado.
No estado de inocência, antes
do pecado, os sacramentos não eram necessários. E a razão disso podemos
descobri-la na rectidão desse estado, em que o inferior, longe de reger o
superior, era governado por este; assim como a razão estava sujeita a Deus,
assim lhe estavam sujeitas a ela as potências inferiores da alma; e à alma, o
corpo. Ora, iria contra essa ordem se a alma se aperfeiçoasse, quer quanto à
ciência, quer quanto à graça, por algum meio material, como é o caso nos
sacramentos. Donde, no estado de inocência o homem não precisava de
sacramentos, considerados estes não só como ordenados a serem remédio contra o
pecado, mas ainda enquanto ordenados à perfeição da alma.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
O homem, no estado de inocência, precisava da graça; não, porém, que a
conseguisse por quaisquer sinais sensíveis, mas espiritual e indivisivelmente.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A natureza do
homem é a mesma tanto antes como depois do pecado; mas o estado da natureza não
é o mesmo. Pois, após o pecado, a alma, ainda na sua parte superior, precisa
apoiar-se nos seres materiais, para conseguir a sua perfeição; o que não era
necessário ao homem no seu estado primeiro.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O matrimónio foi
instituído no estado de inocência, não como sacramento, mas como função da
natureza. Mas, por consequência, significava algo que havia de dar-se
relativamente a Cristo e à Igreja; como foi o caso de tudo o que precedeu a
Cristo e o figurava.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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