TEMA 16 Creio na ressurreição da carne e
na vida eterna
5. A purificação necessária para o
encontro com Deus
«Os
que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora
seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim
de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu» (Catecismo,
1030).
Pode
pensar-se que muitos homens, mesmo que não tenham vivido uma vida santa na
terra, não se manterão definitivamente no pecado. A possibilidade de serem
limpos das impurezas e imperfeições da vida, mais ou menos malograda, depois da
morte apresenta-se, então, como una nova bondade de Deus, como uma oportunidade
para se preparar para entrar na comunhão íntima com a santidade de Deus.
«O
purgatório é uma misericórdia de Deus, para limpar os defeitos dos que desejam
identificar-se com Ele» [i].
O
Antigo Testamento fala da purificação ultra-terrena (cf. 2 Mt 12, 40-45).
São
Paulo na primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 3, 10-15) apresenta a purificação
cristã, nesta vida e na futura, através da imagem do fogo; fogo que, de algum
modo, emana de Jesus Cristo, Salvador, Juiz e Fundamento da vida cristã [ii].
Embora
a doutrina do Purgatório não tenha sido definida formalmente até à Idade Média [iii], a antiquíssima e unânime prática de oferecer sufrágios
pelos defuntos, especialmente mediante e santo Sacrifício eucarístico, é
indício claro da fé da Igreja na purificação ultra-terrena.
Com
efeito, não teria sentido rezar pelos defuntos se estivessem, ou já salvos no
céu ou, então, condenados no inferno.
Os
protestantes, na sua maioria, negam a existência do purgatório, já que lhes
parece uma confiança excessiva nas obras humanas e na capacidade da Igreja de
interceder pelos que deixaram este mundo.
Mais
do que um lugar, o purgatório deve ser considerado como um estado de temporário
e doloroso afastamento de Deus, em que se perdoam os pecados veniais, se
purifica a inclinação para o mal, que o pecado deixa na alma, e se supera a
“pena temporal” devida ao pecado.
O
pecado não só ofende a Deus, e causa dano ao próprio pecador, mas, através da
comunhão dos Santos, causa dano à Igreja, ao mundo, à humanidade.
A
oração da Igreja pelos defuntos restabelece, de algum modo, a ordem e a
justiça: principalmente por meio da Santa Missa, das esmolas, das indulgências
e das obras de penitência (cf. Catecismo, 1032).
Os
teólogos ensinam que no purgatório se sofre muito, de acordo com a situação de
cada um.
Por
isso, convidam-se os cristãos a procurar a purificação dos pecados na vida
presente mediante a contrição, a mortificação, a reparação e a vida santa.
6. As crianças que morrem sem o Baptismo
A
Igreja confia à misericórdia de Deus as crianças que morreram sem terem
recebido o Baptismo.
Há
motivos para pensar que Deus, de algum modo, as acolhe, quer pelo grande
carinho que Jesus manifestou pelas crianças (cf. Mc 10, 14), quer porque enviou
o seu Filho com o desejo de que todos os homens se salvem (cf. 1 Tm 2, 4).
Ao
mesmo tempo, o facto de confiar na misericórdia divina não é motivo para
diferir a administração do Sacramento do Baptismo às crianças recém-nascidas
(CIC 867), que confere uma particular configuração com Cristo: «significa e
realiza a morte para o pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade
através da configuração com o Mistério pascal de Cristo» (Catecismo, 1239).
PAUL
O’CALLAGHAN
Bibliografia
básica
-
Catecismo da Igreja Católica, 988-1050.
Leituras
recomendadas
-
S. João Paulo II, Catequese sobre o Credo IV: Credo en la vida eterna, Palabra,
Madrid 2000 (audiências de 25-V-1999 a 4-VIII-1999). - Bento XVI, Enc. Spe
Salvi, 30-XI-2007. - São Josemaria, Homilia «A esperança do cristão», em Amigos
de Deus, 205-221.
TEMA 17 A liturgia e os sacramentos em
geral
A
liturgia cristã é essencialmente actio
Dei que nos une a Jesus através do Espírito (cf. Ex. ap. Sacramentum
Caritatis, n. 37).
1. O Mistério pascal: mistério vivo e
vivificante
As
palavras e as acções de Jesus durante a sua vida oculta em Nazaré e no seu
ministério público eram salvíficas e antecipavam a força do seu ministério pascal.
«Uma
vez chegada a sua “Hora” (cf. Jo 13, 1; 17, 1.), Jesus vive o único
acontecimento da história que não passa jamais: morre, é sepultado, ressuscita
de entre os mortos e senta-Se à direita do Pai “uma vez por todas” (Rm 6, 10;
Heb 7, 27; 9, 12).
É
um acontecimento real, ocorrido na nossa história, mas único; todos os outros
acontecimentos da história acontecem uma vez e passam, devorados pelo passado.
Pelo
contrário, o mistério pascal de Cristo não pode ficar somente no passado, já
que pela sua morte, Ele destruiu a morte; e tudo o que Cristo é, tudo o que fez
e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim
transcende todos os tempos e em todos se torna presente.
O
acontecimento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida»
(Catecismo, 1085).
Como
sabemos, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande
ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um
novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» [v].
Daí
que «a fonte da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a
doação que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal» [vi].
2. O Mistério pascal no tempo da Igreja:
liturgia e sacramentos
«Em
Cristo realizou-se plenamente a nossa reconciliação e deu-se-nos a plenitude do
culto divino (…) principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada
Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão» [vii].
«É
este mistério de Cristo que a Igreja proclama e celebra na sua liturgia»
(Catecismo, 1068).
«Com
razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo.
Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a
santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e
membros - presta a Deus o culto público integral» [viii].
«Toda
a vida litúrgica da Igreja gravita em torno do sacrifício eucarístico e dos
sacramentos» (Catecismo, 1113).
«Sentado
à direita do Pai, e derramando o Espírito Santo sobre o seu corpo que é a Igreja,
Cristo age agora pelos sacramentos, que instituiu para comunicar a sua graça»
(Catecismo, 1084).
(cont)
Notas:
[ii] Com efeito, Bento XVI na Spe Salvi diz
que «alguns teólogos recentes são de parecer que o fogo que simultaneamente
queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador» (Bento XVI, Enc. Spe
Salvi, 47).
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