27/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTà

TEMA 16 Creio na ressurreição da carne e na vida eterna

5. A purificação necessária para o encontro com Deus

«Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu» (Catecismo, 1030).

Pode pensar-se que muitos homens, mesmo que não tenham vivido uma vida santa na terra, não se manterão definitivamente no pecado. A possibilidade de serem limpos das impurezas e imperfeições da vida, mais ou menos malograda, depois da morte apresenta-se, então, como una nova bondade de Deus, como uma oportunidade para se preparar para entrar na comunhão íntima com a santidade de Deus.

«O purgatório é uma misericórdia de Deus, para limpar os defeitos dos que desejam identificar-se com Ele» [i].

O Antigo Testamento fala da purificação ultra-terrena (cf. 2 Mt 12, 40-45).
São Paulo na primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 3, 10-15) apresenta a purificação cristã, nesta vida e na futura, através da imagem do fogo; fogo que, de algum modo, emana de Jesus Cristo, Salvador, Juiz e Fundamento da vida cristã [ii].

Embora a doutrina do Purgatório não tenha sido definida formalmente até à Idade Média [iii], a antiquíssima e unânime prática de oferecer sufrágios pelos defuntos, especialmente mediante e santo Sacrifício eucarístico, é indício claro da fé da Igreja na purificação ultra-terrena.
Com efeito, não teria sentido rezar pelos defuntos se estivessem, ou já salvos no céu ou, então, condenados no inferno.
Os protestantes, na sua maioria, negam a existência do purgatório, já que lhes parece uma confiança excessiva nas obras humanas e na capacidade da Igreja de interceder pelos que deixaram este mundo.
Mais do que um lugar, o purgatório deve ser considerado como um estado de temporário e doloroso afastamento de Deus, em que se perdoam os pecados veniais, se purifica a inclinação para o mal, que o pecado deixa na alma, e se supera a “pena temporal” devida ao pecado.
O pecado não só ofende a Deus, e causa dano ao próprio pecador, mas, através da comunhão dos Santos, causa dano à Igreja, ao mundo, à humanidade.
A oração da Igreja pelos defuntos restabelece, de algum modo, a ordem e a justiça: principalmente por meio da Santa Missa, das esmolas, das indulgências e das obras de penitência (cf. Catecismo, 1032).
Os teólogos ensinam que no purgatório se sofre muito, de acordo com a situação de cada um.
No entanto, trata-se de uma dor com significado, «uma dor feliz» [iv].

Por isso, convidam-se os cristãos a procurar a purificação dos pecados na vida presente mediante a contrição, a mortificação, a reparação e a vida santa.

6. As crianças que morrem sem o Baptismo

A Igreja confia à misericórdia de Deus as crianças que morreram sem terem recebido o Baptismo.
Há motivos para pensar que Deus, de algum modo, as acolhe, quer pelo grande carinho que Jesus manifestou pelas crianças (cf. Mc 10, 14), quer porque enviou o seu Filho com o desejo de que todos os homens se salvem (cf. 1 Tm 2, 4).
Ao mesmo tempo, o facto de confiar na misericórdia divina não é motivo para diferir a administração do Sacramento do Baptismo às crianças recém-nascidas (CIC 867), que confere uma particular configuração com Cristo: «significa e realiza a morte para o pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade através da configuração com o Mistério pascal de Cristo» (Catecismo, 1239).

PAUL O’CALLAGHAN
Bibliografia básica
- Catecismo da Igreja Católica, 988-1050.
Leituras recomendadas
- S. João Paulo II, Catequese sobre o Credo IV: Credo en la vida eterna, Palabra, Madrid 2000 (audiências de 25-V-1999 a 4-VIII-1999). - Bento XVI, Enc. Spe Salvi, 30-XI-2007. - São Josemaria, Homilia «A esperança do cristão», em Amigos de Deus, 205-221.

TEMA 17 A liturgia e os sacramentos em geral

A liturgia cristã é essencialmente actio Dei que nos une a Jesus através do Espírito (cf. Ex. ap. Sacramentum Caritatis, n. 37).

1. O Mistério pascal: mistério vivo e vivificante

As palavras e as acções de Jesus durante a sua vida oculta em Nazaré e no seu ministério público eram salvíficas e antecipavam a força do seu ministério pascal.
«Uma vez chegada a sua “Hora” (cf. Jo 13, 1; 17, 1.), Jesus vive o único acontecimento da história que não passa jamais: morre, é sepultado, ressuscita de entre os mortos e senta-Se à direita do Pai “uma vez por todas” (Rm 6, 10; Heb 7, 27; 9, 12).
É um acontecimento real, ocorrido na nossa história, mas único; todos os outros acontecimentos da história acontecem uma vez e passam, devorados pelo passado.

Pelo contrário, o mistério pascal de Cristo não pode ficar somente no passado, já que pela sua morte, Ele destruiu a morte; e tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente.
O acontecimento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida» (Catecismo, 1085).
Como sabemos, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» [v].

Daí que «a fonte da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a doação que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal» [vi].

2. O Mistério pascal no tempo da Igreja: liturgia e sacramentos

«Em Cristo realizou-se plenamente a nossa reconciliação e deu-se-nos a plenitude do culto divino (…) principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão» [vii].

«É este mistério de Cristo que a Igreja proclama e celebra na sua liturgia» (Catecismo, 1068).
«Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral» [viii].

«Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em torno do sacrifício eucarístico e dos sacramentos» (Catecismo, 1113).

«Sentado à direita do Pai, e derramando o Espírito Santo sobre o seu corpo que é a Igreja, Cristo age agora pelos sacramentos, que instituiu para comunicar a sua graça» (Catecismo, 1084).

(cont)

Notas:




[i] São Josemaria, Sulco, 889.
[ii] Com efeito, Bento XVI na Spe Salvi diz que «alguns teólogos recentes são de parecer que o fogo que simultaneamente queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador» (Bento XVI, Enc. Spe Salvi, 47).
[iii] Cf. DS 856, 1304. 
[iv] Bento XVI, Enc. Spe Salvi, 47.
[v] Bento XVI, Enc. Deus Caritas Est, 25-XII-2005, 1.
[vi] Bento XVI, Ex. ap. Sacramentum Caritatis, 22-II-2007, 34.
[vii] Concílio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 5; cf. Catecismo, 1067.
[viii] Concílio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 7; cf. Catecismo, 1070.

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