16/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 8 Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro

Jesus Cristo assumiu a natureza humana sem deixar de ser Deus: é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

1. A Encarnação do Verbo

«Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher» [i].

Cumpre-se, assim, a promessa de um Salvador que Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso:
«Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar» [ii].

Este versículo do Génesis é conhecido com o nome de proto-evangelho, porque constitui o primeiro anúncio da boa nova da salvação.
Tradicionalmente, interpretou-se que a mulher de que se fala, tanto é Eva, em sentido directo, como Maria, em sentido pleno; e que a descendência da mulher se refere tanto à humanidade como a Cristo.
Desde então até ao momento em que «o Verbo se fez carne e habitou entre nós» [iii], Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher com fruto o Seu Filho Unigénito.
Deus escolheu para si o povo israelita, estabeleceu com ele uma Aliança e formou-o progressivamente, intervindo na sua história, manifestando-lhe os seus desígnios através dos patriarcas e profetas e santificando-o para Si.
E tudo isto, como preparação e figura daquela nova e perfeita Aliança que havia de concluir-se em Cristo e daquela plena e definitiva revelação que devia ser efectuada pelo próprio Verbo encarnado [iv].
Embora Deus tenha preparado a vinda do Salvador, sobretudo, mediante a eleição do povo de Israel, isso não significa que tenha abandonado os restantes povos, “os gentios”, pois nunca deixou de dar testemunho de Si mesmo [v].
A Providência divina fez com que os gentios tivessem uma consciência mais ou menos explícita da necessidade da salvação e até aos mais recônditos cantos da terra se conservava o desejo de serem redimidos.
 A Encarnação tem a sua origem no amor de Deus pelos homens:
«nisto se manifestou o amor que Deus para connosco: Deus enviou o Seu Filho unigénito ao mundo, para que por Ele tenhamos a Vida» [vi].

A Encarnação é a demonstração, por excelência, do Amor de Deus pelos homens, já que nela é o próprio Deus quem se entrega aos homens fazendo-Se participante da natureza humana em unidade de pessoa. Após a queda de Adão e Eva no paraíso, a Encarnação tem uma finalidade salvadora e redentora, como professamos no Credo:
«por nós homens e para nossa salvação, desceu do céu e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e Se fez homem» [vii].

 Cristo afirmou de Si mesmo que «o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido» [viii] e que «Deus não enviou o Seu Filho para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» [ix].

A Encarnação não só manifesta o infinito amor de Deus pelos homens, a Sua infinita misericórdia, a Sua justiça, o Seu poder, mas também a coerência do plano divino de salvação;
a profunda sabedoria divina consiste na forma como Deus decidiu salvar o homem, ou seja, do modo mais conveniente à sua natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo.
Jesus Cristo, o Verbo encarnado, «não é nem um mito, nem uma ideia abstracta qualquer;
É um homem que viveu num contexto concreto e que morreu depois de ter levado a sua própria existência no quadro da evolução da história.
A investigação histórica sobre Ele é, pois, uma exigência da fé cristã» [x].

Pertence à doutrina da fé que Cristo existiu, como também que morreu realmente por nós e que ressuscitou ao terceiro dia [xi].

A existência de Jesus é um facto provado pela ciência histórica, sobretudo, mediante a análise do Novo Testamento cujo valor histórico está fora de dúvida.

Há outros testemunhos antigos não cristãos, pagãos e judeus, sobre a existência de Jesus.
Precisamente por isso, não são aceitáveis as posições daqueles que contrapõem um Jesus histórico ao Cristo da fé e defendem a suposição de que quase tudo o que o Novo Testamento diz acerca de Cristo seria uma interpretação de fé que fizeram os discípulos de Jesus, mas não a Sua autêntica figura histórica que ainda permaneceria oculta para nós.
Estas posições que, ao longo do tempo, encerram um forte preconceito contra o sobrenatural, não têm em conta que a investigação histórica contemporânea coincide em afirmar que a apresentação que faz de Jesus o cristianismo primitivo se baseia em autênticos factos realmente acontecidos.

2. Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro

A Encarnação é «o mistério da união admirável da natureza divina e da natureza humana, na única Pessoa do Verbo» [xii].

A Encarnação do Filho de Deus «não significa que Jesus Cristo seja, em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do divino com o humano.

Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus.

Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem» [xiii].
A divindade de Jesus Cristo, Verbo eterno de Deus, estudou-se ao tratar da Santíssima Trindade.
Aqui vamos fixar-nos, sobretudo, no que se refere à Sua humanidade. A Igreja defendeu e aclarou esta verdade de fé durante os primeiros séculos face às heresias que a falseavam.
Já no século I, alguns cristãos de origem judaica, os ebionitas, consideraram Cristo como um simples homem, embora muito santo.
No século II surge o adopcionismo, que defendia que Jesus era filho adoptivo de Deus; Jesus seria apenas um homem em quem habita a força de Deus; para eles, Deus era só uma pessoa.
Esta heresia, foi condenada no ano 190 pelo Papa São Victor, pelo Concílio de Antioquia, no ano 268, pelo Concílio I de Constantinopla e pelo Sínodo Romano do ano 382 [xiv].
A heresia ariana, ao negar a divindade do Verbo, negava também que Jesus Cristo fosse Deus.
Arrio foi condenado pelo Concílio I de Niceia no ano 325.

Também, recentemente, a Igreja voltou a recordar que Jesus Cristo é o Filho de Deus subsistente desde a eternidade que na Encarnação assumiu a natureza humana na Sua única pessoa divina [xv].

A Igreja fez também frente a outros erros que negavam a realidade da natureza humana de Cristo.
Entre estes, enquadram-se aquelas heresias que recusavam a realidade do corpo ou da alma de Cristo.
Entre as primeiras encontra-se o docetismo, nas suas diversas variantes, que tem um pano de fundo gnóstico e maniqueu.
Alguns dos seus seguidores afirmavam que Cristo teve um corpo celeste, ou que o Seu corpo era puramente aparente, ou que apareceu de repente na Judeia sem ter tido que nascer ou crescer.
Já São João teve que combater este tipo de erros:
«muitos sedutores se têm levantado no mundo, que não confessam que Jesus Cristo tenha vindo em carne» [xvi].

Arrio e Apolinar de Laodiceia negaram que Cristo tivesse verdadeira alma humana.
O segundo teve particular importância neste campo e a sua influência esteve presente durante vários séculos nas controvérsias cristológicas posteriores.
Numa tentativa de defender a unidade de Cristo e a Sua impecabilidade, Apolinar defendeu que o Verbo desempenhava as funções da alma espiritual humana.
Esta doutrina, no entanto, implicava negar a verdadeira humanidade de Cristo composta, como em todos os homens, de corpo e alma espiritual [xvii].
Foi condenado no Concílio I de Constantinopla e no Sínodo Romano de 382 [xviii].

(cont)

José Antonio Riestra

Notas:




[i] Gal 4, 4
[ii] Gn 3, 15
[iii] Jo 1, 14
[iv] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 9.
[v] cf. Act 14, 16-17
[vi] 1 Jo 4, 9
[vii] Concílio de Constantinopla I, Symbolum, DS 150; cf. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 55.
[viii] Lc 19, 10; cf. Mt 18, 11
[ix] Jo 3, 17
[x] Comissão Teológica Internacional, Cuestiones selectas de Cristología (1979), en ID., Documentos 1969-1996, 2ª ed., BAC, Madrid 2000, 221.
[xi] cf. 1 Cor 15, 3-11
[xii] Catecismo, 483
[xiii] Catecismo, 464
[xiv] Cf. DS 151 y 157-158.
[xv] Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Mysterium Filii Dei, 21-II-1972, em AAS 64(1972)237-241.
[xvi] 2 Jo 7; Cf. 1 Jo 4, 1-2
[xvii] cf. Catecismo, 471
[xviii] Cf. DS 151 e 159.

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