Questão
60: Dos Sacramentos
Art.
4 — Se um sacramento é sempre uma realidade sensível.
O quarto discute-se assim. — Parece que
um sacramento nem sempre é uma realidade sensível.
1. Porque, segundo o Filósofo, todo
efeito é sinal da sua causa. Ora, como há alguns efeitos sensíveis, há também alguns
inteligíveis; assim a ciência, efeito da demonstração. Logo, nem todo o sinal é
sensível. Ora, para um sacramento existir basta que seja o sinal de uma coisa
sagrada pela qual o homem se santifique, conforme se disse. Logo, não é
necessário que um sacramento seja nenhuma realidade sensível.
2. Demais. — Os sacramentos dizem
respeito ao culto ou ao reino de Deus. Ora, as coisas sensíveis não respeitam
ao culto de Deus, segundo o Evangelho: Deus
é espírito e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram. E
o Apóstolo: O reino de Deus não é comida
nem bebida. Logo, não é necessário que o sacramento seja uma realidade
sensível.
3. Demais. — Agostinho diz, que as coisas sensíveis são os mínimos bens,
sem os quais o homem pode viver rectamente. Ora, os sacramentos são
necessários à salvação do homem como a seguir se dirá, e, portanto, não pode o
homem viver bem sem eles. Logo, não é preciso que os sacramentos sejam
realidades sensíveis.
Mas, em contrário, Agostinho diz: Acrescenta-se a palavra ao elemento e nasce
o sacramento. E refere-se nesse lugar à água, elemento sensível. Logo, os
sacramentos supõem coisas sensíveis.
A sabedoria divina provê a
cada coisa conforme à natureza desta; por isso diz a Escritura, que dispõe tudo com suavidade. Donde a
expressão do Evangelho: Deu a cada um
segundo a sua capacidade. Ora, é conatural ao homem chegar, por meio das
coisas sensíveis ao conhecimento das inteligíveis. Ora, o sinal é o meio de
chegarmos a um conhecimento ulterior. E assim, sendo as coisas sagradas,
significadas pelos salvamentos, uns bens espirituais e inteligíveis pelos quais
o homem se santifica, resulta por consequência, que a significação do sacramento
se manifesta completamente mediante certas coisas sensíveis. Assim também é
pela semelhança das coisas sensíveis que a divina Escritura nos descreve as
coisas espirituais. Por isso é que os
sacramentos requerem as coisas sensíveis, como também o prova Dionísio.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Um ser é denominado e definido principalmente pelo que lhe convém primária e
essencialmente e não pelo que acidentalmente lhe convém. Ora, a essência do
efeito sensível, como sendo o que o homem conhece primária e essencialmente, é
levá-lo a um conhecimento ulterior, pois, todo o nosso conhecimento nasce dos
sentidos. Ora, nos efeitos inteligíveis não está o poderem conduzir a um
conhecimento ulterior senão enquanto manifestados por outros meios, que são as
realidades sensíveis. Donde vem que primária e principalmente se chamam sinais
os que nos afetam os sentidos; por isso diz Agostinho que sinal é aquilo que sugere ao nosso pensamento uma realidade diferente
da apreendida pelos sentidos. Ora, os efeitos inteligíveis não têm a
natureza de sinal, senão enquanto manifestados por certos sinais. E também
deste modo certas coisas que não são sensíveis se chamam de algum modo
sacramentos, enquanto significados por meio de realidades sensíveis, do que
mais adiante se tratará.
RESPOSTA À SEGUNDA. — As coisas
sensíveis, consideradas em sua natureza, não concernem ao culto ou ao reino de
Deus; mas só enquanto sinais das coisas espirituais, nas quais consiste o reino
de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Agostinho refere-se
às coisas sensíveis consideradas na
natureza delas; não porém quando assumidas a significar as coisas espirituais,
que são os máximos bens.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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