«ELE É O VERDADEIRO DEUS E A VIDA ETERNA»
Divindade de Cristo e anúncio da
eternidade
3. Passar
do dogma para a vida
5. Nostalgia da eternidade!
…/2
A presença da eternidade na
Igreja e em cada um de nós, à maneira de primícias, tem um nome próprio:
chama-se Espírito Santo.
O Espírito Santo é definido
como «o penhor da nossa esperança» [i], e
foi-nos dado a fim de que, tendo nós recebido as primícias, desejemos
ardentemente a plenitude.
«Cristo – escreve Stº
Agostinho – deu-nos o sinal do Espírito Santo com o qual Ele, que não nos
poderia enganar, nos quis tornar seguros do cumprimento da Sua promessa,
promessa que Ele certamente manteria sem esse mesmo sinal.
E que prometeu Ele?
Prometeu a vida eterna, da
qual é sinal o Espírito eu Ele nos deu.
Avida eterna é possuída por
aqueles que já chegaram à Sua morada; o Seu sinal é o lenitivo para aqueles que
se encontram ainda em viajem.
É mais exacto dizer sinal do que penhor; os dois termos parecem semelhantes, mas existe entre eles
uma diferença de significado: tanto com o penhor como com o sinal dá-se uma
garantia de que se dá aquilo que se prometeu; mas, enquanto que o penhor volta
a ser restituído quando se acaba de cumprir aquilo para o que havia sido
recebido, o sinal, pelo contrário, não volta a ser restituído, mas sim
acrescentado com o restante que é devido» [ii].
É pelo Espírito Santo que
nós gememos interiormente, na esperança de entrarmos na glória dos filhos de
Deus [iii].
Ele, que é «um Espírito
eterno» [iv] é
capaz de atear em nós a verdadeira nostalgia da eternidade e fazer novamente da
palavra “eternidade” uma palavra viva e palpitante que suscite alegria e não
temor.
O Espírito atrai para as
alturas.
Ele é a Ruah Jahvé, o sopro de Deus.
Recentemente, foi inventado
um método para trazer à superfície os barcos ou os objectos que jazem no fundo
dos mares.
Consiste em insuflá-los
mediante câmaras de ar especiais, de modo a puxá-los do fundo tornando-os mais
leves que a água,
Nós, homens de hoje, somos
como esses objectos caídos no fundo do mar.
Estamos “afundados” na
temporalidade e na mundanidade.
Estamos “secularizados”.
O Espírito Santo foi
derramado na Igreja com uma finalidade semelhante: para nos arrancar do fundo e
para nos levantar até fazer-nos contemplar o céu e exclamar, cheios de gloriosa
esperança:
“eternidade, eternidade!”
CAPÍTULO V
O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO
A finalidade destas
reflexões sobre a Pessoa de Jesus Cristo – como já se disse no começo – é
preparar o terreno para uma nova vaga de evangelização, agora que estamos a
completara o segundo milénio da vinda de Cristo à Terra.
Mas qual é a finalidade
principal de toda a evangelização e de toda a catequese?
Será, porventura, a de
ensinar aos homens um certo número de verdades eternas, ou de transmitir à
geração vindoura os valores cristãos?
Não; a finalidade principal
da evangelização é levar Seus
“discípulos” homens a encontrarem-se pessoalmente com Jesus Cristo, único
salvador, fazendo-os Seus “discípulos”.
O grande mandato de Cristo
aos Apóstolos é este:
1.
O
encontro pessoal com Cristo.
S. João, no início do seu
evangelho, diz-nos como alguém se torna discípulo de Cristo, contando-nos a sua
experiência e como ele próprio se tornou discípulo de Jesus.
Vale a pena reler este trecho,
que é um dos primeiros e mais tocantes exemplares daquilo que hoje chamamos
“dar testemunho” pessoal.
«No outro dia João estava lá
novamente com dois dos seus discípulos, e, vendo Jesus que ia passando, disse:
‘Eis o Cordeiro de Deus!’
Ouvindo estas palavras, os
dois discípulos seguiram Jesus.
Jesus voltando-Se e, vendo
que O seguiam, disse-lhes: ‘Que procurais?’ Eles responderam-Lhe: ‘Rabi (que
quer dizer Mestre) onde moras?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Vinde ver’.
Eles seguiram-no e viram
onde morava; e ficaram com Ele aquele dia; eram então quase quatro horas da
tarde» [vi].
Não há nada de abstracto e
de escolástico neste modo de se tornar discípulo de Jesus.
É um encontro de pessoas;
trata-se de estabelecer um conhecimento, uma amizade e uma familiaridade,
destinadas a durar toda a vida, ou antes, toda a eternidade.
Jesus, olha para trás e,
apercebendo-se de que é seguido para e pergunta:
«Que procurais?
Respondem-Lhe:
«Rabi, Mestre, onde é que
moras?»
E, assim, quase sem se
aperceberem, proclamam-no seu Mestre e decidiram que seriam Seus discípulos.
Jesus não lhes dá livros
para estudar, ou preceitos para decorar, mas diz, simplesmente:
«Vinde ver».
Convida-os a fazer-Lhe
companhia.
Eles seguiram-No e ficaram
com Ele.
(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.
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