«ELE É O VERDADEIRO DEUS
E A VIDA ETERNA»
Divindade de Cristo e anúncio da
eternidade
3. Passar
do dogma para a vida
4. Eternidade, eternidade!
…/3
S. Francisco Assis, no
célebre “Capítulo das esteiras”, fez um memorável sermão aos seus frades sobre
este tema:
«Meu filhos nós prometemos a
Deus grandes coisas, mas as coisas que Deus nos prometeu a nós são muito
maiores.
Cumpramos as que Lhe
prometemos e esperemos com confiança asque Ele nos prometeu.
Os prazeres do mundo são
passageiros, porém as penas que deles resultam são eternas.
O nosso amigo filósofo
Kierkegaard exprimia, com uma linguagem mais esmerada, este mesmo conceito de
S. Francisco de Assis:
«Sofre-se uma só vez, porém
o triunfo é eterno. Que quer isto dizer?
Que se triunfa também uma só
vez?
Certamente.
Todavia, há uma diferença
infinita: o período do sofrimento é o instante, ao passo que o período do
triunfo é a eternidade; a fase do sofrimento, uma vez passada, não se repete;
igualmente, mas noutro sentido, a fase do triunfo também não se repete porque
nunca passa; o período do sofrimento é uma passagem ou uma transição; o período
do triunfo dura eternamente» [ii].
Vamos imaginar um numeroso
grupo de pessoas heterogéneas e atarefadas.: a quem trabalhe, quem ria, quem
chore, quem ande de um lado para o outro e quem esteja, à parte, amargurado.
Eis que chega, então,
ofegante, um ancião vindo de longe e vai segredar uma palavra aos ouvidos da
primeira pessoa que encontra.
Sempre correndo, o ancião
repete essa palavra a uma outra pessoa.
Que ouviu essa palavra corre
a repeti-la também a outra, e assim sucessivamente.
Assiste-se então a uma
mudança inesperada: aquele que estava apartado e amargurado levanta-se e corre
para sua casa a fim de repetir aquela palavra aos seus familiares; aqueles que
andavam atarefados, param e voltam para trás; alguns que litigavam e estavam
prestes a agredir-se acabam por se abraçar chorando.
Que palavra foi essa que
provocou uma tal mudança?
Foi a palavra “eternidade”.
A humanidade inteira é essa
multidão.
E a palavra que deve correr
no meio dela, como um archote ardente, como o sinal luminoso que as sentinelas
antigamente transmitiam entre si de uma guarita para outra, é precisamente a
palavra: “Eternidade, eternidade!”
A Igreja deve ser aquele
velho mensageiro.
Ela deve fazer ressoar aos
ouvidos das pessoas e proclamar por toda a parte essa palavra.
Mal seria se também a Igreja
perdesse “a medida”; seria como se o sal perdesse o sabor
Quem preservará então a vida
da corrupção e da vaidade?
Quem terá a coragem de
repetir aos homens de hoje aquele verso tão cheio de sabedoria cristã:
“Tudo, a não ser o que é
eterno, no mundo é vão”?
Tudo é vão a não ser o que é
eterno e aquilo que, de algum modo, conduz a ele.
Filósofos, poetas, todos
podem falar de eternidade e de infinito, mas só a Igreja como guardiã do
mistério do homem Deus pode fazer desta palavra mais do que um vago sentimento
de “nostalgia do Totalmente Outro”.
Existe, de facto, também
este perigo: que “que se arraste a eternidade no tempo como um espectáculo para
a fantasia”.
“Representada assim ela
exerce um efeito fascinante; não se sabe se é o sonho ou a realidade; a
eternidade olha para o tempo com olhos melancólicos, meditabundos, sonhadores”.
O Evangelho impede que se
esvazie assim a eternidade, indicando-nos de imediato o discurso daquilo que se
deve fazer:
A eternidade torna-se o
grande “objectivo” da vida no qual nos devemos empenhar noite e dia.
(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.
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