23/12/2017

CONTO DE NATAL 2017

Faltavam dois dias para o Natal.
Ao pensar nisso uma tristeza imensa tomou conta dele, porque sabia que seria já o segundo Natal sem o seu filho.
A última discussão por causa da vida de drogas sem sentido que o filho levava, tinha chegado a um tal extremo, que o filho tinha saído de casa, e ele, pai, nada tinha feito para o impedir.
Queria convencer-se de que fora melhor assim, porque o filho tinha que ser confrontado com a realidade da vida, e, se ele continuasse a sustentar-lhe aquele vício, o fim, com certeza, não estaria longe.

Mas vivia atormentado pela ausência do filho, (nunca mais o tinha visto ou falado com ele desde há cerca de dois anos), pelo medo de ter errado na sua decisão, e também porque via a sua mulher definhar em tristeza todos os dias, com a ausência total daquele seu filho único.

Absorto nos seus pensamentos, guiava como um autómato, e por isso só deu conta no último momento, daquela mulher que atravessava a rua na passadeira de peões.
Deu uma guinada repentina com o volante e foi bater com grande violência num poste de iluminação na berma da rua.
Apercebeu-se de imediato que o acidente tinha sido muito grave, sobretudo para ele, porque sentiu-se coberto do seu sangue, perdendo rapidamente a consciência.

Um estranho vazio tomou conta dele e percebeu que ouvia umas vozes, mas nada conseguia entender e também não conseguia abrir os olhos, não conseguia acordar, enfim, era mesmo um vazio imenso que ele sentia profundamente em todo o seu ser.

Neste espaço de tempo, sem tempo, (para ele), ouviu a certa altura, nitidamente, a palavra Natal, e percebeu que já conseguia abrir os olhos, que estava agora “acordado”!

Abriu então os olhos e encontrou logo à sua direita a cara sorridente da sua mulher, que lhe agarrava numa mão, e percebeu-se deitado numa cama de hospital.
Achou no entanto muito estranho aquele sorriso tão rasgado da sua mulher.
Com o seu olhar perguntava-lhe insistentemente a razão de tal sorriso, e reparou então que ela olhava para si e logo de seguida para o seu lado esquerdo.

Voltou a cabeça com alguma dificuldade, e o seu olhar encontrou o olhar do seu filho, que, com lágrimas nos olhos e inclinando-se para ele, lhe disse ao ouvido: Desculpa, pai, desculpa.

Respondeu-lhe com a voz sumida, carregada de emoção: Não te preocupes, meu filho. Que dia é hoje?

O filho olhou para ele e respondeu: É noite de Natal, pai, e estás no hospital há dois dias!

Fechou os olhos e interiormente disse com o coração: Obrigado Jesus, pela mais bela prenda de Natal que me podias dar.

Depois, apertando com mais força a mão da sua mulher, pediu ao seu filho que se inclinasse para ele, e dando-lhe um beijo terno na testa, disse: Feliz Natal, meu filho, Feliz Natal!


Marinha Grande, de 19 Dezembro de 2017
Joaquim Mexia Alves

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