Perante o mistério da
morte ficamos surpreendidos com a confusão que, por vezes, se instala no nosso
espírito.
Há uma mescla de
sentimentos, onde, naturalmente, avulta a tristeza que o sentimento de perda
provoca, mas que, surpreendentemente, não é o principal e é isto que mais nos
causa estranheza e incompreensão.
Fere-nos singularmente
algum sentimento de alívio, do terminar de um sofrimento, do arrastar de uma
situação séria, grave, por vezes dolorosa, em que a pessoa querida se vai
degradando fisicamente, perdendo gradualmente a sua autonomia até acabar
totalmente dependente para os mais elementares e simples actos fisiológicos.
E este "sentirmo-nos
feridos" quase nos envergonha porque pensamos – e bem – que não
desejávamos que essa pessoa morresse, ao mesmo tempo que não queríamos que
continuasse, assim, naquele estado de vida tão condicionada e sofredora.
Não é por essa morte ser
previsível num espaço de tempo não muito longo, que se torna menos “cortante” –
porque se trata de um corte definitivo e sem remédio -, porque, graças a uma
espécie de esperança que nunca morre, esperamos sempre estar enganados e que
uma súbita alteração das circunstâncias, mesmo sem explicação aparente – mas
que sabemos, acontece por vezes – venha alterar definitivamente a situação.
(AMA, reflexões, 2013)
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