20/08/2017

Fátima: Centenário - Vida de Maria - 62



Centenário das aparições da Santíssima 

Virgem em Fátima


Regresso a Nazaré




A VOZ DO MAGISTÉRIO

Depois da morte de Herodes, quando se dá o retorno da sagrada família a Nazaré, inicia-se o longo período da vida oculta. Aquela que "acreditou no cumprimento das coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" [i] vive no dia-a-dia o conteúdo dessas palavras. O Filho a quem deu o nome de Jesus está diariamente ao seu lado; assim, no contacto com Ele, usa certamente este nome, o que não devia, aliás, causar estranheza a ninguém, tratando-se de um nome que era usual, desde havia muito tempo, em Israel. Maria sabe, no entanto, que aquele a quem foi posto o nome de Jesus, foi chamado pelo Anjo "Filho do Altíssimo" [ii]. Maria sabe que o concebeu e deu à luz "sem ter conhecido homem", por obra do Espírito Santo, com o poder do Altíssimo que sobre ela estendeu a sua sombra [iii], tal como nos tempos de Moisés e dos antepassados a nuvem velava a presença de Deus [iv]. Maria sabe, portanto, que o Filho, por ela dado à luz virginalmente, é precisamente aquele "Santo", "o Filho de Deus" de que lhe havia falado o Anjo.

Durante os anos da vida oculta de Jesus na casa de Nazaré, também a vida de Maria "está escondida com Cristo em Deus" [v] mediante a fé. A fé é, efectivamente, um contacto com o mistério de Deus. Maria está constante e quotidianamente em contacto com o mistério inefável de Deus que se fez homem, mistério que supera tudo aquilo que foi revelado na Antiga Aliança. Desde o momento da Anunciação, a mente da Virgem-Mãe foi introduzida na "novidade" radical de auto-revelação de Deus e tomou consciência do mistério. Ela é a primeira daqueles "pequeninos" dos quais um dia Jesus dirá: "Pai, ... escondeste estas coisas aos sábios e aos sagazes e as revelaste aos pequeninos" [vi]. Na verdade, "ninguém conhece o Filho senão o Pai" [vii].

Como poderá então Maria "conhecer o Filho"? Certamente, não como o Pai o conhece; e no entanto, ela é a primeira entre aqueles aos quais o Pai "o quis revelar" [viii]. Se, porém, desde o momento da Anunciação lhe foi revelado o Filho, que apenas o Pai conhece completamente, como Aquele que o gera no "hoje" eterno [ix], então Maria, a Mãe, está em contacto com a verdade do seu Filho somente na fé e mediante a fé! Portanto, é feliz porque "acreditou"; e acredita cada dia, no meio de todas as provações e contrariedades do período da infância de Jesus e, depois, durante os anos da sua vida oculta em Nazaré, quando ele "lhes era submisso" [x]: submisso a Maria e também a José, porque José, diante dos homens, fazia para ele as vezes de pai; e era por isso que o Filho de Maria era tido pela gente do lugar como "o filho do carpinteiro" [xi].

A Mãe daquele Filho, por conseguinte, lembrando tudo quanto lhe tinha sido dito na Anunciação e nos acontecimentos sucessivos, é portadora em si mesma da "novidade" radical da fé: o início da Nova Aliança. Este é o início do Evangelho, isto é, da boa nova e jubilosa nova. Não é difícil, porém, perceber naquele início um particular aperto do coração, unido a uma espécie de "noite da fé" - para usar as palavras de São João da Cruz - como que um "véu" através do qual é forçoso aproximar-se do Invisível e viver na intimidade com o mistério [xii]. Foi deste modo, efectivamente, que Maria, durante muitos anos, permaneceu na intimidade com o mistério do seu Filho, e avançou no seu itinerário de fé, à medida em que Jesus "crescia em sabedoria ... e graça, diante de Deus e dos homens" [xiii]. Manifestava-se cada vez mais aos olhos dos homens a predilecção que Deus tinha por ele. A primeira entre estas criaturas humanas admitidas à descoberta de Cristo foi Maria que, com Ele e com José, vivia na mesma casa em Nazaré.

João Paulo II (século XX). Carta encíclica Redemptoris Mater, 25-III-1987, n. 17.




[i] Lc 1, 45
[ii] cf. Lc 1, 32
[iii] cf. Lc 1, 35
[iv] cf. Ex 24, 16; 40, 34-35; 1 Rs 8, 10-12
[v] cf. Col 3, 3
[vi] Mt 11, 25
[vii] Mt 11, 27
[viii] cf. Mt 11, 26-27; 1 Cor 2, 11
[ix] cf. Sl 2, 7
[x] Lc 2, 51
[xi] Mt 13, 55
[xii] cfr. Subida do Monte Carmelo, II, cap. 3, 4-6
[xiii] Lc 2, 52

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