A
VOZ DOS SANTOS
«E, abrindo os seus
tesouros, ofereceram-lhe presentes de ouro, incenso e mirra. Detenhamo-nos um
pouco para entender este passo do Santo Evangelho. Como é possível que nós, que
nada somos e nada valemos, ofereçamos alguma coisa a Deus?
Mas o Senhor sabe que o dar
é próprio dos apaixonados e Ele próprio nos diz o que deseja de nós. Não lhe
interessam riquezas, nem frutos, nem animais da terra, do mar ou do ar, porque
tudo isso lhe pertence. Quer algo de íntimo, que havemos de lhe entregar com
liberdade: dá-me, meu filho, o teu coração. Vedes? Se compartilha, não fica
satisfeito: quer tudo para si. Repito: não pretende o que é nosso; quer-nos a
nós mesmos. Daí – e só daí – advêm todas as outras ofertas que podemos fazer ao
Senhor.
Demos-lhe, portanto, ouro: o
ouro fino do espírito de desprendimento do dinheiro e dos bens materiais. Não
esqueçamos que são coisas boas, que vêm de Deus. Mas o Senhor dispôs que as
utilizemos sem deixar que o coração fique preso a elas, pelo contrário, tirando
delas proveito para bem da humanidade (…).
Oferecemos incenso: o desejo
– que elevamos até ao Senhor – de levar uma vida recta, de que se desprenda o bonus odor Christi, o perfume de Cristo.
Impregnar as nossas palavras e acções desse bonus
odor é semear compreensão e amizade. Que a nossa vida acompanhe as vidas
dos restantes homens, para que ninguém se encontre ou se sinta só. A caridade
há-de ser também carinho, calor humano (...).
E, com os Reis Magos,
oferecemos também mirra, isto é, o sacrifício, que não deve faltar na vida
cristã. A mirra traz à nossa lembrança a Paixão do Senhor: na cruz, dão-lhe a
beber mirra misturada com vinho, e com mirra ungiram o seu corpo para a
sepultura. Mas não penseis que meditar na necessidade de sacrifício e da
mortificação significa dar uma nota de tristeza (…). Mortificação não é
pessimismo nem espírito azedo. A mortificação nada vale sem a caridade: por
isso, havemos de procurar mortificações que, além de nos manterem livres em
relação às coisas da terra, não mortifiquem os que vivem à nossa volta. O
cristão não pode ser um verdugo nem um miserável; há-de ser um homem que sabe
amar com obras, que prova o seu amor na pedra de toque da dor».
São
Josemaría Escrivá de Balaguer (séc. XX). Cristo que passa, nn. 35-37.
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