No dia, 7 de Dezembro de 2016, faleceu uma grande
amiga nossa. Fui à Igreja onde estava o corpo para cumprimentar o Marido. Era o
meu dever.
Ver o seu cadáver teve um efeito devastador.
A memória de uma situação similar por mim vivida provocou tal desassossego e abatimento que estive até de madrugada com um nó no peito num choro incontrolável... enfim, um sofrimento indizível.
Para mais, no dia Oito seria o cinquentenário do meu casamento.
De madrugada, olhando para a televisão - sem de facto ver - algo me chamou a atenção.
Tratava-se de um filme policial em que um homem desesperado e completamente devastado pela perda da esposa na explosão das Torres Gémeas, em Nova Iorque, tinha sequestrado várias pessoas exigindo uma reparação que no seu perturbado espírito seria a "devolução" da esposa perdida.
Um agente do FBI tinha conseguido introduzir-se no ambiente e aos poucos convencido o pobre homem a libertar todos os reféns.
Estavam os dois sozinhos.
Depois de troca de argumentos o agente diz-lhe:
‘Você pensa que é o único que perdeu alguém nesse
fatídico acontecimento em que pereceram centenas de pessoas?’
(Foi aqui que comecei a prestar atenção).
‘Quantos casais não perderam um dos cônjuges, pais que ficaram sem filhos, filhos sem pais etc., etc.? O que o torna a si tão especial?’
O homem caiu em si e pouco depois tudo acabava sem mais complicações.
Um filme como tantos outros...
Porém, esta parte final foi o "sinal " que
eu precisava. Também eu caí em mim considerando que o meu sofrimento não é
exclusivo, que não sou ninguém "especial", que devo lembrar-me de
tantos que não têm ninguém com quem desabafar, que lhes faça companhia, que
estão absolutamente sós!
Então, envergonhado, pedi perdão, fiquei tranquilo e fui deitar-me.
Deus Nosso Senhor envia-nos sinais como quer e
entende, até mesmo num vulgar filme na televisão.
(ama, Reflexões, 201512.10)
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