A voz dos Padres
«Chamava-se
Joaquim; era da casa de David, rei e profeta; a sua mulher chamava-se Ana.
Permaneceu sem filhos até à velhice, porque a sua esposa era estéril. E, no
entanto, precisamente a ela estava reservada a honra a que, segundo a lei de
Moisés, aspiravam todas as mulheres que dão à luz, honra que não tinha sido
concedida a nenhuma mulher privada de filhos».
«Joaquim
e Ana, com efeito, eram dignos de honra e de veneração, tanto em palavras como
em obras; eram conhecidos como pertencentes à estirpe de Judá e de David, à
descendência de reis. Quando se uniram as casas de Judá e de Leví, o ramo real
e o sacerdotal ficaram misturados. Assim está escrito tanto a respeito de
Joaquim como a respeito de José, com quem se desposou a Virgem santa. Deste
último se afirma directamente que era da casa e tribo de David [i]; mas eram-no os dois: um, segundo a descendência natural
de David, o outro, em virtude da lei segundo a qual eram levitas».
«Também
a bem-aventurada Ana era de um ramo eleito da mesma casa. Isto significava de
antemão que o rei que nasceria da sua filha seria sumo-sacerdote, enquanto Deus
e enquanto homem. Entretanto, os veneráveis e estimados pais da Virgem,
desconhecendo ainda o que neles se viria a realizar, sofriam uma grande dor pela
falta de filhos, por causa da lei de Moisés e também pelas zombarias de alguns
homens néscios. Desejavam o nascimento de um descendente que apagasse a
ignomínia e lhes devolvesse a honra diante dos seus olhos e diante do mundo
inteiro».
«Então
a bem-aventurada Ana, como aquela outra Ana mãe de Samuel [ii], foi ao templo e suplicou ao Criador do universo que lhe
concedesse um fruto das suas entranhas, com o voto de o consagrar, por o ter
recebido como dom. O bem-aventurado Joaquim também não estava inactivo, e pedia
a Deus que o livrasse da falta de filhos».
«O
Rei benigno, o Autor generoso de todos os dons, escutou a oração do justo e
enviou um anúncio aos dois cônjuges. Primeiro mandou uma mensagem a Joaquim
enquanto rezava no templo. Fez-lhe ouvir uma voz do Céu que lhe dizia:
"Terás uma filha que será glória, não só para ti, mas para o mundo
inteiro". Este mesmo anúncio foi feito à bem-aventurada Ana; ela não
cessava de rezar a Deus com lágrimas ardentes. Também a ela foi enviada a
mensagem da parte de Deus, no jardim onde oferecia sacrifícios com petições e
orações ao Senhor. O anjo de Deus veio junto dela e disse-lhe: "Deus
escutou a tua oração; darás à luz aquela que será o anúncio da alegria e
chamá-la-ás Maria, porque d’Ela nascerá a salvação do mundo"».
«Depois
da mensagem teve lugar a gravidez; e da estéril Ana nasceu Maria, luz para
todos: com efeito, assim se traduz o nome de Maria: "a que ilumina".
Então os veneráveis pais da feliz e santa menina ficaram cheios de uma grande
alegria. Joaquim organizou um banquete e convidou todos os seus vizinhos,
sábios e ignorantes e todos deram glória a Deus, que tinha feito para eles um
grande prodígio».
«Deste
modo, a angústia de Ana transformou-se numa glória mais sublime, a glória de se
converter na porta da porta de Deus, porta da Sua vida e começo da Sua gloriosa
conduta».
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