Em seguida devemos tratar da
manifestação da ressurreição.
E nesta questão discutem-se seis
artigos:
Art. 1 — Se a ressurreição de Cristo
devia manifestar-se a todos.
Art. 2 — Se deviam os discípulos ver
Cristo ressuscitar.
Art. 3 — Se Cristo, depois da
ressurreição devia conviver continuamente com os discípulos.
Art. 4 — Se Cristo devia aparecer aos
discípulos sob figura diferente.
Art. 5 — Se Cristo devia declarar com
provas a verdade da sua ressurreição.
Art. 6 — Se as provas aduzidas por
Cristo manifestaram suficientemente a verdade da sua ressurreição.
Art.
1 — Se a ressurreição de Cristo devia manifestar-se a todos.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que a ressurreição de Cristo devia manifesta-se a todos.
1 — Pois, a um pecado público
é devida uma pena pública, segundo ao Apóstolo: Aos que pecarem repreende-os diante de todos. Assim também a quem
publicamente mereceu é devido um prémio público. Ora, a glória da ressurreição foi o prémio das humilhações da Paixão,
como diz Agostinho. Logo, tendo a Paixão de Cristo sido manifesta a todos, pois
publicamente a sofreu, parece que a glória da sua ressurreição também devia
manifestar-se a todos.
2. Demais. — Assim como a Paixão de
Cristo se ordenava à nossa salvação, assim também a sua ressurreição, conforme o
Apóstolo: Ressuscitou para a nossa
justificação. Ora, o respeitante à utilidade pública deve manifestar-se a
todos. Logo, a ressurreição de Cristo devia manifestar-se a todos e não
especialmente a alguns.
3. Demais. — Aqueles a quem se
manifestou a ressurreição de Cristo foram testemunhas da ressurreição, conforme
a Escritura: A quem Deus ressuscitou
dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. Ora, esse testemunho davam-no
proclamando-o publicamente. O que não é próprio das mulheres, segundo o
Apóstolo: As mulheres estejam caladas na
Igreja. E noutro lugar: Eu não
permito à mulher, que ensine. Logo, parece que inconvenientemente a
ressurreição de Cristo foi manifestada primeiro às mulheres que aos homens em
geral.
Mas, em contrário, a Escritura: A quem Deus ressuscitou ao terceiro dia e
quis que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia
ordenado antes.
As coisas que
conhecemos, umas as conhecemo-las pela lei geral da natureza; outras por um
especial dom da graça, como as reveladas por Deus. E estas como diz Dionísio, estão
sujeitas à lei divina, de serem por Deus reveladas imediatamente ao superior,
mediante aos quais chegam ao conhecimento dos inferiores, como o demonstra a
ordenação dos espíritos celestes. Ora, o concernente à glória futura excede
o conhecimento comum dos homens, conforme da Escritura: O olho não viu, excepto tu, ó Deus, o que tens preparado para os que te
esperam. Por isso, tais coisas o homem não as conhece senão revelados por
Deus conforme o diz o Apóstolo: Deus no-lo
revelou a nós pelo seu Espírito. Ora, como Cristo ressuscitou
gloriosamente, por isso a sua ressurreição não foi manifestada a todo o povo,
mas só a alguns, cujo testemunho deu a conhecer aos demais.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA
OBJECÇÃO. — A Paixão de Cristo consumou-se num corpo dotado ainda de
uma natureza passível, conhecida de todos por uma lei comum. Por isso a Paixão
de Cristo podia manifestar-se imediatamente a todo o povo. Ao passo que a Ressurreição de Cristo se operou pela
glória do Pai, como diz o Apóstolo. Por isso manifestou-se imediatamente,
não a todos, mas a alguns. — Quanto a ser uma pena pública imposta
aos pecadores públicos, isso entende-se das penas da vida presente. E
semelhantemente, méritos públicos hão de premiar-se em público, para estímulo dos
outros. Mas as penas e os prémios da vida futura não são manifestados
publicamente a todos; mas especialmente àqueles a quem Deus o pre-ordenou.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A ressurreição de
Cristo, ordenada à salvação de todos, também chegou ao conhecimento de todos,
não que se manifestasse a todos Imediatamente, mas a alguns, mediante cujo
testemunho, a conhecessem os demais.
RESPOSTA À TERCEIRA. — À mulher não
é permitido ensinar publicamente na Igreja; mas é-lhe permitido instruir
privadamente a alguns, num ensinamento doméstico. Donde como Ambrósio diz, uma mulher foi enviada aos da família de
Cristo; mas não a dar testemunho da ressurreição do povo. — E se
Cristo apareceu primeiro às mulheres, foi para a mulher, que fora a primeira a
levar ao homem a mensagem da morte, fosse também a primeira a anunciar a vida
de Cristo ressuscitado para a glória. Donde o dizer Cirilo: A mulher, outrora ministra da morte, foi a
primeira a perceber e a anunciar o venerando mistério da redenção. Assim, o
género feminino alcançou tanto a absolvição da ignomínia como o repúdio da
maldição. E também se mostrava desse modo simultaneamente que no concernente ao
estado da glória, o sexo feminino não sofreria nenhum detrimento; mas, se
tiverem mais ardente a caridade, de maior glória também gozarão da visão
divina. Por isso as mulheres, que mais ardentemente amaram o Senhor, a ponto de
não se afastarem do seu sepulcro, que os próprios discípulos tinham abandonado,
também foram as primeiras a ver o Senhor na glória da ressurreição.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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