3. Os pressupostos da
ideologia do género
Esta teoria parte da distinção entre sexo e género,
forçando a oposição entre natureza e cultura. O sexo assinala a condição
natural e biológica da diferença física entre homem e mulher. O género baliza a
construção histórico-cultural da identidade masculina e feminina. Mas, partindo
da célebre frase de Simone de Beauvoir, «uma mulher não nasce mulher, torna-se
mulher», a ideologia do género considera que somos homens ou mulheres não na
base da dimensão biológica em que nascemos, mas nos tornamos tais de acordo com
o processo de socialização (da interiorização dos comportamentos, funções e
papéis que a sociedade e cultura nos distribui). Papéis que, para estas teorias,
são injustos e artificiais. Por conseguinte, o género deve sobrepor-se ao sexo
e a cultura deve impor-se à natureza.
Como, para esta ideologia, o género é uma construção
social, este pode ser desconstruído e reconstruído. Se a diferença sexual entre
homem e mulher está na base da opressão desta, então qualquer forma de
definição de uma especificidade feminina é opressora para a mulher. Por isso,
para os defensores do gender, a maternidade, como especificidade feminina, é
sempre uma discriminação injusta. Para superar essa opressão, recusa-se a
diferenciação sexual natural e reconduz-se o género à escolha individual. O
género não tem de corresponder ao sexo, mas pertence a uma escolha subjetiva,
ditada por instintos, impulsos, preferências e interesses, o que vai para além
dos dados naturais e objetivos.
O gender sustenta a irrelevância da diferença sexual na
construção da identidade e, por consequência, também a irrelevância dessa
diferença nas relações interpessoais, nas uniões conjugais e na constituição da
família. Se é indiferente a escolha do género a nível individual, podendo
escolher-se ser homem ou mulher independentemente dos dados naturais, também é
indiferente a escolha de se ligar a pessoas de outro ou do mesmo sexo. Daqui a
equiparação entre uniões heterossexuais e homossexuais. Ao modelo da família
heterossexual sucedem-se vários tipos de família, tantos quantas as
preferências individuais, para além de qualquer modelo de referência. Deixa de
se falar em família e passa a falar-se em famílias. Privilegiar a união
heterossexual afigura-se-lhe uma forma de discriminação. Igualmente, deixa de
se falar em paternidade e maternidade e passa a falar-se, exclusivamente, em
parentalidade, criando um conceito abstrato, pois desligado da geração
biológica.
(cont)
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