Art.
4 — Se Cristo, no tríduo da morte, cessou de ser homem.
O quarto discute-se assim. — Parece que
Cristo, no tríduo da morte, não cessou de ser homem.
1. — Pois, diz Agostinho: Foi tal a união do Verbo com a natureza
humana, que tornou Deus, homem, e o homem, Deus. Ora, essa união não cessou
com a morte. Logo, não cessou Cristo de ser homem, durante a morte.
2. Demais. — O Filósofo diz: Cada homem é o seu próprio intelecto.
Por isso, dirigindo-nos à alma de S. Pedro, depois da morte dele, dizemos: São
Pedro, ora por nós. Ora, depois da morte, o Filho de Deus não se separou da sua
alma racional. Logo, nesse tríduo o Filho de Deus continuou a ser homem.
3. Demais. — Todo sacerdote é homem.
Ora, durante o tríduo da sua morte Cristo foi sacerdote, de contrário não seria
verdadeiro o dito da Escritura - Tu és
sacerdote eternamente. Logo, durante esse tríduo Cristo foi homem.
Mas, em contrário. — Removido o
superior, removido fica o inferior. Ora, ser vivo ou animado é superior ao a
ser animal e homem; pois, o animal é uma substância animada sensível. Mas, no
tríduo da sua morte, o corpo de Cristo não foi nem vivo nem animado. Logo, não
foi homem.
Que Cristo morreu verdadeiramente
é artigo de fé. Portanto, qualquer afirmação contrária à verdade da morte de
Cristo é erro contra a fé. Por isso se diz numa Epístola Sinodal de Cirilo: Quem não confessar que o Verbo de Deus
sofreu na sua carne, foi crucificado ria sua carne e na sua carne padeceu a
morte, seja anátema. Ora, um homem ou um animal verdadeiramente morto deixa
de ser homem ou animal; pois, a morte do homem ou do animal resulta da
separação da alma, por ser esta a que completa a natureza animal ou humana. Por
onde, é erróneo dizer que Cristo, durante o tríduo da sua morte, foi homem,
simples e absolutamente falando. Podemos, porém, dizer, que durante esse tríduo
Cristo foi um homem morto. Alguns, porém, confessaram que Cristo, nesse tríduo,
foi homem, servindo-se assim de uma expressão errónea, sem, contudo darem à sua
fé um sentido erróneo. Como Hugo de S. Victor, que disse Cristo ter sido homem no tríduo da sua morte, porque considerava a alma
como o homem. Isso, porém, é falso, como demonstramos na Primeira Parte. Também
o Mestre das Sentenças afirmou que Cristo
foi homem no tríduo da sua morte, mas por outra razão. Era essa a de crer
que a união da alma e do corpo não é da natureza do homem, bastando para alguém
ser homem uma alma humana e um corpo, quer estejam unidas quer separadas. Mas a
falsidade dessa opinião também já o mostramos na Primeira Parte e pelo que
antes dissemos sobre o modo da união.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
O Verbo de Deus assumiu a alma unida com o corpo; e por isso essa assunção
tornou Deus o homem e o homem, Deus. Mas tal assunção não cessou pela separação
do Verbo, da alma e do corpo; cessou, porém, a união entre o corpo e a alma.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O dizer-se que o
homem é o seu intelecto não significa que o intelecto é o homem na sua
totalidade, mas que é a principal parte do homem, no qual existe virtualmente a
disposição total deste. Como se disséssemos que o chefe do Estado fosse todo o
Estado, porque é ele quem lhe dá a sua disposição total.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Ser sacerdote
convém ao homem em razão da alma, na qual está o carácter da ordem. Por isso,
pela morte, o homem não perde a ordem sacerdotal. E muito menos Cristo, origem
de todo sacerdócio.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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