JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
PRÓLOGO
«Que procures Cristo: Que encontres Cristo:
Que ames Cristo».[i]
Este santo e experiente conselho marca todo um itinerário de vida espiritual
que nos conduz até à união e identificação com Jesus Cristo.
A primeira
etapa desse itinerário corresponde à aspiração de fé viva que o salmista
expressa: «Senhor, procuro o Teu rosto»
[ii].
Para tal faz falta em primeiro lugar a leitura assídua da sagrada Escritura,
assim como contemplar na intimidade do nosso coração todos os actos e palavras
do Senhor, tal como fazia Maria Santíssima. E é indubitável também que a
leitura de outras obras adequadas pode servir-nos de grande ajuda.
Pois bem,
este livro de iniciação à Cristologia integra-se nessa tarefa e tem a
finalidade de facilitar a um amplo círculo de pessoas um maior conhecimento da
maravilhosa riqueza e profundidade insondável do mistério de Cristo [iii].
Por ser
teologia, este manual quer ser um pouco mais profundo e explicativo que uma
simples catequese. Tem o método e a estrutura de um tratado teológico
sistemático, assim como a terminologia própria, que temos procurado explicar
com simplicidade. Por este motivo também se incluíram citações e referências da
Sagrada Escritura, assim como muitas outras do Magistério da Igreja e algumas
de São Tomás de Aquino, a quem o Concílio Vaticano II recomenda como guia
nestes estudos [iv]. E,
naturalmente, cita-se com frequência o catecismo da Igreja Católica que
sintetiza com precisão e autoridade os diferentes temas.
E por ser
só uma iniciação, este livro é necessariamente breve. E por este motivo se
omitiram alguns temas que parecem mais secundários, assim como se evitou o mais
possível incluir nomes, opiniões e citações de outros diversos autores.
Desta
forma, como se trata de um texto teológico conciso e resumido, e não de uma
obra histórica ou ascética, requer do leitor um certo esforço de estudo detido
e atento.
Que a
Virgem Santíssima faça com que este livro sirva para «crescer no conhecimento
de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo», como nos propõe São Pedro [v],
e que nos estimule a percorrer as etapas seguintes da vida cristã de modo que
cheguemos a um encontro pessoal com o nosso salvador, participemos da Sua obra
salvífica e O sirvamos na extensão do Seu Reino na terra, tornando partícipes
da redenção salvadora, todos os homens. Assim contribuiremos para transformar o
mundo e a história de acordo com a amável vontade de Deus.
Capítulo I
INTROD UÇÃO:
A CRISTOLOGIA, CIÊNCIA TEOLÓGICA ACERCA DE JESUS CRISTO.
1.
O tratado
teológico sobre Jesus Cristo
a) O objecto da cristologia
A
cristologia é uma parte da teologia que trata sobre Cristo. Estuda Jesus Cristo
em Si mesmo – o mistério da Sua pessoa, como Deus e homem verdadeiro que viveu
numas determinadas condições históricas -, e Jesus na economia da salvação –
como Messias, Redentor e nosso Salvador -, tal como nos propõe da fé da Igreja.
O objecto
da nossa fé sobre Cristo, que é, por sua vez, o objecto da cristologia, não é
uma fórmula vazia, nem uma ideologia determinada, mas uma realidade concreta
que podemos declarar assim: «Nós acreditamos e confessamos que Jesus de Nazaré,
nascido de uma judia de Israel, em Belém no tempo do rei Herodes o Grande e do
imperador César Augusto; carpinteiro de ofício, morto crucificado em Jerusalém,
sob o procurador Pôncio Pilatos, durante o reinado do imperador Tibério, é o
Filho eterno de Deus feito homem, que ‘saiu
de Deus’ [vi], ‘baixou do céu’ [vii],
‘veio em carne’ [viii],
porque ‘a Palavra se fez carne (…) e
vimos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho único, cheio de graça e
de verdade (…) Pois da sua plenitude recebemos todos, e graça por graça’ [ix].
[x]
b) O mistério de Cristo
Sabemos que
«o mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã.
É o mistério de Deus em si mesmo. É, pois, a fonte de todos os outros mistérios
da fé; á a luz que nos ilumina» [xi]
A fé da Igreja resume-se no mistério da Santíssima Trindade em si mesma e no
mistério do «desígnio benevolente da sua
vontade» [xii]
acerca da salvação de todos os homens.
E todo esse
desígnio divino da nossa salvação centra-se em Cristo: O Pai realiza o «mistério da sua vontade» [xiii]
enviando o seu Filho amado para a salvação de todo o mundo, e por meio d’Ele
comunicando-nos o seu espírito. Este admirável desígnio divino é o «mistério que estava escondido em Deus desde
séculos» [xiv], e
que se revelou e se realiza na história por meio de Jesus Cristo.
A dispensa
ou realização desse plano da benevolência divina da salvação dos homens é
designada no Novo testamento como «o
mistério de Cristo», pois Ele é o seu centro [xv].
Assim, pois, pode dizer-se que o mistério
de Cristo que se refere à sua pessoa e à sua obra de salvação, reúne e
resume todos os artigos da fé: os que se referem à Trindade, pois Ele é Deus, o
Filho do Pai, e nos revela a Trindade; e os que se referem aos desígnios e
obras de Deus, pois Ele realizou o plano da sua vontade salvífica.
2. A fé e a razão humana ante o mistério de Cristo
a) Necessidade da fé para conhecer Cristo
Ao falar do
mistério de Cristo, estamos afirmando que n’Ele há uma realidade oculta e
divina que nos transcende, e que nele também há uma realidade visível, sinal
dessa realidade oculta, e que ao mesmo tempo a encobre, e que é a sua presença
física entre os homens e a sua actuação na história.
Mediante os
métodos próprios da história podemos chegar a conhecer cada vez melhor a
realidade visível da vida de Jesus. Mas unicamente mediante a revelação divina
e a fé podemos transcender o externo e chegar a conhecer quem é Ele
verdadeiramente, já que «ninguém conhece
o Filho senão o Pai» [xvi],
e, como Ele mesmo dizia: «Ninguém pode
vir a mim se não o atrair o Pai que me enviou» [xvii].
Vejamo-lo
no episódio que nos narra São Mateus, testemunha desse acontecimento: «Vindo Jesus à região de Cesareia de Filipe,
perguntou aos discípulos: Quem dizem os homens que é o Filho homem? Eles
responderam: uns, que João Baptista; outros, que Elias; outros, que Jeremias ou
outro dos Profetas» [xviii].
São diversas opiniões ante a figura de Cristo e as suas admiráveis obras: «É um homem de Deus». Esta é uma resposta
humana, uma conclusão a que chega a razão dos homens.
Mas Jesus
continua perguntando: «E vós, quem dizeis
que eu sou?». E Pedro responde:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».
E Jesus acrescenta: «bem-aventurado és,
Simão, filho de João, porque não tal não te foi revelado nem a carne nem o
sangue, mas sim meu Pai que está nos céus» [xix].
Essa confissão não era fruto de uma dedução de Pedro
a partir das suas luzes naturais mas um dom e revelação de Deus; não é uma
resposta humana, mas uma resposta de Deus Pai que declara a verdade e a realidade
de Jesus muito acima da opinião dos homens.
Assim,
pois, não é suficiente considerar Jesus como um personagem digno de interesse
histórico, teológico, espiritual ou social; nem o considerar, inclusive, como o
ideal humano de uma religiosidade sincera e profunda, o do amor aos outros, ou
de uma profunda sabedoria moral. É necessário ver Jesus com os olhos da fé para
o conhecer verdadeiramente e confessar como Pedro :
«Tu és o Messias. O Filho de Deus vivo».
b) O papel da razão ante o mistério de Cristo
A nossa fé
tem uma base real e histórica: parte integrante da nossa fé são os
acontecimentos históricos do nascimento de Cristo, da sua vida e da sua
actividade neste mundo, da sua Morte e da sua Ressurreição, etc. Jesus Cristo,
que é o objecto da fé da Igreja, não é um mito: é um homem que viveu num
contexto histórico concreto, e os acontecimentos da sua existência foram reais
e comprováveis.
Por isso,
ainda que a razão humana não possa só com a suas forças chegar a conhecer os
mistérios de Deus, nem pode chegar a compreender Cristo, todavia, desempenha
uma função importante no conhecimento de muitas coisas da vida histórica do
Senhor.
Precisamente
o Novo testamento está escrito como uma narração do, realmente acontecido e do
ensinado por Jesus [xx],
certamente com o fim de suscitar a fé [xxi],
mas sem que essa finalidade retire algo ao carácter real e histórico do
consignado. Com efeito, os apóstolos apresentam-se como testemunhas desses
acontecimentos.
Mais, os
conhecimentos da vida de Cristo que a razão humana pode aportar facilitam a fé,
pois as suas obras dão testemunho d’Ele [xxii],
são o selo da missão divina, e fazem ver que a fé é razoável e não um movimento
cego do espírito.
(cont)
Vicente
Ferrer Barriendos
(Tradução do castelhano por ama)
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