04/12/2016

Leitura espiritual


DE MAGISTRO

(DO MESTRE)

CAPÍTULO XIV

CRISTO ENSINA INTERIORMENTE, O HOMEM AVISA

EXTERIORMENTE PELAS PALAVRAS

AGOSTINHO

– Porém agora admito que, quando as palavras tenham sido ouvidas por quem já as conhece, a este possa parecer que quem fala tenha realmente pensado no seu significado; mas significará talvez que também aprendeu o que agora estamos indagando, isto é, que aquele tenha falado a verdade?

E, porventura, os mestres pretendem que se aprendam e retenham os seus conceitos pessoais e não as disciplinas mesmas que querem ensinar quando falam?

Mas quem seria tão tolo em mandar o seu filho à escola para que aprenda o pensamento do professor?

Mas quando tiverem exposto com palavras todas as disciplinas que dizem professar, inclusive as que concernem à virtude e à sabedoria, então os discípulos irão considerar consigo mesmos se as coisas ditas são verdadeiras, consultando a verdade interior conforme sua capacidade.

E é então que, finalmente, aprendem; e, quando dentro de si descobrem que as coisas ditas são verdadeiras, louvam os mestres sem perceber que elogiam homens mais doutrinados que doutos, se é que aqueles, também sabem o que dizem.

Erram, pois, os homens ao chamar de mestres outros homens, porque na maioria dos casos entre o tempo da audição e o tempo da cognição não se interpõe tempo algum; e, como depois da admoestação do professor, logo aprendem em seu íntimo, julga que aprenderam pela fala do mestre exterior, que nada mais faz do que admoestar.

Mas sobre a importância das palavras, bem considerada no seu conjunto, não é pequena, falaremos, se Deus permitir, noutro lugar.

Por ora avisei-te apenas que não lhes atribuas importância maior do que é necessário, para que não se creias, mas também comece a compreender quão grande é a verdade do que está escrito nos livros sagrados que não se chame a ninguém de mestre na terra, pois o verdadeiro e único Mestre de todos está no céu.

E o que há nos céus, no-lo ensinará Aquele que, por meio dos homens, também nos admoesta com sinais exteriores, para que, voltados para Ele interiormente, sejamos instruídos.

Amar e conhecer a Ele constituem a bem-aventurança, que todos afirmam buscar, mas bem poucos são os que se alegram por tê-la encontrado.

E agora gostaria de ter as tuas impressões sobre este meu arrazoado.

 Se tu soubesses que eram verdadeiras as coisas expostas, dirias que as conhecias quando interrogado sobre cada uma separadamente; observa, portanto, de quem as aprendeste; não certamente de mim, a quem terias respondido, se te indagasse sobre elas.

Se, ao contrário, sabes que não são verdadeiras, nem eu nem Aquele tas ensinou: eu, porque nunca teria a possibilidade de ensinar; Aquele, por tu não teres ainda a possibilidade de aprender.

ADEODATO

– Eu, na verdade, pela admoestação das tuas palavras aprendi que servem apenas para estimular o homem a aprender, e que já é grande resultado se por meio da palavra transmite-se um pouco do pensamento de quem fala. Se foi dita a verdade, isto no-lo pode ensinar somente Aquele que, por sinais externos, avisa o que habita dentro de nós; Aquele que, pela sua graça, hei-de amar com tanto mais ardor quanto mais eu progredir no conhecimento.

Mas quanto a essa tua oração, que usaste continuamente, sou-te grato particularmente por isto: que ela previu e desfez todas as objecções que tinha preparado para te fazer, e nada descuidaste daquilo que me suscita dúvidas, e sobre o que não me responderia assim aquele secreto oráculo, como tuas palavras afirmaram.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Final do livro DE MAGISTRO

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