CRISTO
ENSINA INTERIORMENTE, O HOMEM AVISA
EXTERIORMENTE
PELAS PALAVRAS
AGOSTINHO
– Porém agora admito que,
quando as palavras tenham sido ouvidas por quem já as conhece, a este possa
parecer que quem fala tenha realmente pensado no seu significado; mas significará
talvez que também aprendeu o que agora estamos indagando, isto é, que aquele
tenha falado a verdade?
E, porventura, os mestres
pretendem que se aprendam e retenham os seus conceitos pessoais e não as
disciplinas mesmas que querem ensinar quando falam?
Mas quem seria tão tolo em
mandar o seu filho à escola para que aprenda o pensamento do professor?
Mas quando tiverem exposto
com palavras todas as disciplinas que dizem professar, inclusive as que concernem
à virtude e à sabedoria, então os discípulos irão considerar consigo mesmos se
as coisas ditas são verdadeiras, consultando a verdade interior conforme sua
capacidade.
E é então que, finalmente,
aprendem; e, quando dentro de si descobrem que as coisas ditas são verdadeiras,
louvam os mestres sem perceber que elogiam homens mais doutrinados que doutos, se
é que aqueles, também sabem o que dizem.
Erram, pois, os homens ao
chamar de mestres outros homens, porque na maioria dos casos entre o tempo da
audição e o tempo da cognição não se interpõe tempo algum; e, como depois da
admoestação do professor, logo aprendem em seu íntimo, julga que aprenderam
pela fala do mestre exterior, que nada mais faz do que admoestar.
Mas sobre a importância das
palavras, bem considerada no seu conjunto, não é pequena, falaremos, se Deus
permitir, noutro lugar.
Por ora avisei-te apenas que
não lhes atribuas importância maior do que é necessário, para que não se
creias, mas também comece a compreender quão grande é a verdade do que está
escrito nos livros sagrados que não se chame a ninguém de mestre na terra, pois
o verdadeiro e único Mestre de todos está no céu.
E o que há nos céus, no-lo
ensinará Aquele que, por meio dos homens, também nos admoesta com sinais exteriores,
para que, voltados para Ele interiormente, sejamos instruídos.
Amar e conhecer a Ele constituem
a bem-aventurança, que todos afirmam buscar, mas bem poucos são os que se alegram
por tê-la encontrado.
E agora gostaria de ter as
tuas impressões sobre este meu arrazoado.
Se tu soubesses que eram verdadeiras as coisas
expostas, dirias que as conhecias quando interrogado sobre cada uma
separadamente; observa, portanto, de quem as aprendeste; não certamente de mim,
a quem terias respondido, se te indagasse sobre elas.
Se, ao contrário, sabes que
não são verdadeiras, nem eu nem Aquele tas ensinou: eu, porque nunca teria a possibilidade
de ensinar; Aquele, por tu não teres ainda a possibilidade de aprender.
ADEODATO
– Eu, na verdade, pela
admoestação das tuas palavras aprendi que servem apenas para estimular o homem
a aprender, e que já é grande resultado se por meio da palavra transmite-se um
pouco do pensamento de quem fala. Se foi dita a verdade, isto no-lo pode
ensinar somente Aquele que, por sinais externos, avisa o que habita dentro de
nós; Aquele que, pela sua graça, hei-de amar com tanto mais ardor quanto mais
eu progredir no conhecimento.
Mas quanto a essa tua oração,
que usaste continuamente, sou-te grato particularmente por isto: que ela previu
e desfez todas as objecções que tinha preparado para te fazer, e nada
descuidaste daquilo que me suscita dúvidas, e sobre o que não me responderia
assim aquele secreto oráculo, como tuas palavras afirmaram.
Final do livro DE MAGISTRO
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