Apostas e jogos de sorte são uma realidade no meio
social, pois a diversão, o lazer e o entretenimento, nas suas várias expressões,
fazem parte de uma das dimensões do ser humano. Porém, a pergunta é se essas
práticas são convenientes ou não.
Diante do que a Igreja ensina sobre apostas e jogos de
sorte ou azar, sendo essa uma questão complexa, um aspecto imprescindível é destacar
o abandono e a confiança na Providência de Deus, que rege todas as coisas e
deve ter a primazia na vida de todo ser humano. Também é preciso a todos
disposição e empenho para o trabalho que “pode ser um meio de santificação”
(CIC 2427), que não deve ser descartado frente a possíveis acomodamentos por
motivos fúteis.
O que a Igreja ensina
O Catecismo da Igreja Católica, em sua terceira parte, na
segunda seção sobre os dez mandamentos, que trata do sétimo mandamento “não
roubarás” [i], traz as direções sobre os jogos de sorte e apostas, ou
seja, se são convenientes ou não, e os riscos que tais práticas podem trazer
quando excedem e causam dependência nas pessoas.
O Catecismo da Igreja
diz:
“Os jogos de azar (jogos de carta etc.) ou apostas em si
não são contrários à justiça. Tornam-se moralmente inaceitáveis quando privam a
pessoa daquilo que lhe é necessário para suprir suas necessidades e as dos
outros. A paixão pelo jogo corre o risco de se transformar em uma dependência
grave. Apostar injustamente ou trapacear nos jogos constitui matéria grave, a
menos que o dano infligido seja tão pequeno, que aquele que o sofre não possa
razoavelmente considerá-lo significativo [ii]”.
Perante esse ensinamento do Catecismo, verifica-se que os
jogos de sorte ou apostas, por eles mesmos, não são um problema para os
princípios conceituados justos. Entretanto, essa prática torna-se inadmissível
quando inflige valores primordiais da vida e seus direitos inalienáveis, ao
priorizar mais as coisas secundárias.
Exemplos de incoerência:
Um pai de família que deixa de comprar o necessário para
sua casa se manter com dignidade e gasta seu dinheiro com jogos de sorte e
apostas está dando prioridade ao que é secundário. Outra situação é quando uma
pessoa, devido a sua exagerada frequência nos jogos e apostas, acaba
viciando-se nessas práticas e deixa de fazer as coisas realmente necessárias em
sua vida, como cuidar da própria saúde, cumprir com responsabilidades
familiares e sociais.
Outro risco é acreditar mais em apostas e jogos de sorte
do que no próprio Deus, o que pode interferir tanto na espiritualidade da
pessoa quanto no seu equilíbrio na vivência social. Com efeito, o vício provoca
a perda da liberdade de filho de Deus e dos princípios básicos do Evangelho.
Assim, é importante ter claro que o ser humano também
deve trabalhar para sua sobrevivência, pois, em Génesis 3,17, ao falar sobre a
terra, diz que o homem “tirará dela com trabalhos penosos o teu sustento todos
os dias de tua vida”. Ou seja, não se deve confiar o sustento às apostas e
jogos.
Postura coerente face
a essa realidade
Diante da participação de apostas e jogos de sorte,
conforme a Igreja ensina, é importante que cada um saiba analisar as suas
próprias limitações e intenções por trás de cada prática, para não se viciar,
ou optar sempre por aquilo que pode ser supérfluo. Com isso, se for por simples
diversão, sem resquício de vícios e com uma consciência moral reta, não haverá
problemas nesse sentido.
Uma forma de não incorrer em riscos relacionados ao excesso
de jogos de sorte, cartas e apostas é perceber como e o quanto estamos
envolvidos, se temos o domínio sobre nós mesmos para dizer sim e não na hora de
começar e na hora de parar.
Assim, o que precisa reger nossa vida é a Providência de
Deus, tanto na parte material quanto a promoção de divertimentos que sejam
saudáveis para o corpo e a alma. Já que, na vida do cristão, “procura-se
ordenar para Deus e para a caridade fraterna os bens deste mundo” [iii].
O básico e necessário sempre nos será concedido pelo Senhor
por meio da Sua Providência juntamente com o nosso esforço e trabalho, pois
Jesus garante-nos: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e
todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” [iv].
char guillory CANÇÃO NOVA
18 DE NOVEMBRO DE 2016
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