10/11/2016

Leitura espiritual



Leitura Espiritual


Amigos de Deus



São Josemaria Escrivá

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Além disso, seria bom que pensásseis que ninguém escapa ao mime­tismo.
Os homens, até inconscientemente, movem-se num contínuo afã de se imitarem uns aos outros.
E nós, abandonaremos o convite para imitar Jesus?
Cada indivíduo esforça-se por se identificar, pouco a pouco, com aquilo que o atrai, com o modelo que escolheu para a sua própria maneira de ser.
De acordo com o ideal que cada um forja para si mesmo, assim resulta o seu modo de proceder.
O nosso Mestre é Jesus Cristo: o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Imitando a Cristo, alcançamos a maravilhosa possibilidade de participar nessa corrente de amor, que é o mistério de Deus Uno e Trino.

Se em certas ocasiões não vos sentis com forças para seguir as pisadas de Jesus Cristo, conversai, como entre amigos, com aqueles que o conheceram enquanto permaneceu nesta nossa terra.
Em primeiro lugar, com Maria, que o trouxe para nós.
Com os Apóstolos. Vários gentios aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido, dizendo: desejamos ver Jesus.
Foi Filipe e disse-o a André; André e Filipe disseram-no a Jesus.
Não é verdade que isto nos anima?
Aqueles estrangeiros não se atrevem a apresentar-se ao Mestre e procuram um bom intercessor.

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Pensas que os teus pecados são muitos, que o Senhor não poderá ouvir-te?
Não é assim, porque tem entranhas de misericórdia.
Se, apesar desta maravilhosa verdade, dás conta da tua miséria, mostra-te como o publicano: Senhor, aqui estou, tal como Tu vês!
E observai o que nos conta S. Mateus, quando põem diante de Jesus um paralítico.
Aquele doente não diz nada: só está ali, na presença de Deus.
E Cristo, comovido por essa contrição, pela dor daquele que sabe que nada merece, não tarda em reagir com a sua misericórdia habitual: Tem confiança, são-te perdoados os teus pecados.

Eu aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais.
Primeiro, imaginas a cena ou o mistério, que te servirá para te reco­lheres e meditares.
Depois, aplicas o entendimento, para considerar aquele rasgo da vida do Mestre: o seu Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu cumprimento da Vontade do Pai.
Conta-lhe então o que te costuma suceder nestes assuntos, o que se passa contigo, o que te está a acontecer.
Mantém-te atento, porque talvez Ele queira indicar-te alguma coisa: surgirão essas moções interiores, o caíres em ti, as admoestações.

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Para orientar a oração, costumo - talvez isto possa ajudar algum de vós - materializar até o que há de mais espiritual.
Nosso Senhor utilizava este processo.
Gostava de ensinar por parábolas, tiradas do ambiente que o rodeava: do pastor e das ovelhas, da vide e dos sarmentos, de barcos e redes, da semente que o semeador lança às mãos cheias...

Na nossa alma caiu a Palavra de Deus.
Que tipo de terra é a que lhe preparámos?
Abundam as pedras?
Está cheia de espinhos?
É talvez um lugar demasiadamente calcado por pegadas meramente humanas, mesquinhas, sem brio?
Senhor, que a minha parcela seja terra boa, fértil, exposta generosamente à chuva e ao sol; que a tua semente pegue; que produza espigas gradas, trigo bom.

Eu sou a videira, vós os sarmentos.
Chegou Setembro e as cepas estão carregadas de vergônteas longas, finas, flexíveis e nodosas, abarrotadas de fruto, prontas já para a vindima.
Reparai nesses sarmentos repletos, porque participam da seiva do tronco.
Só assim aqueles minúsculos rebentos de alguns meses atrás puderam converter-se em polpa doce e madura, que encherá de alegria a vista e o coração das pessoas.
No solo ficam talvez algumas varas toscas, soltas, meias enterradas. Eram sarmentos também, mas secos, estiolados.
São o símbolo mais gráfico da esterilidade. Porque, sem mim, nada podeis fazer.

O tesouro. Imaginai a alegria imensa do afortunado que o encontra. Acabaram os apertos, as angústias.
Vende tudo o que possui e compra aquele campo.
Todo o seu coração pulsa aí: onde esconde a sua riqueza.
O nosso tesouro é Cristo; não nos deve importar o facto de deitarmos pela borda fora tudo o que for estorvo, para o poder seguir.
E a barca, sem esse lastro inútil, navegará directamente para o porto seguro do Amor de Deus.

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Há mil maneiras de rezar, digo-vos de novo.
Os filhos de Deus não precisam de um método, quadriculado e artificial, para se dirigirem ao seu Pai.
O amor é inventivo, industrioso; se amamos, saberemos descobrir ca­minhos pessoais, íntimos, que nos levam a este diálogo contínuo com o Senhor.

Queira Deus que tudo o que acabamos de contemplar hoje, não passe pela nossa alma como uma tormenta de verão: quatro gotas, sol e de novo a seca.
Esta água de Deus tem de remansar-se, chegar às raízes e dar fruto de virtudes.
Assim irão passando os nossos anos - dias de trabalho e de oração - na presença do Pai.
Se fraquejarmos, recorreremos ao amor de Santa Maria, Mestra de oração; e a S. José, Pai e Senhor nosso, a quem tanto veneramos, que é quem mais intimamente privou neste mundo com a Mãe de Deus e - depois de Santa Maria - com o seu Filho Divino. E eles apresentarão a nossa debilidade a Jesus, para que Ele a converta em fortaleza.

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A vocação cristã, que é um chamamento pessoal do Senhor, leva cada um de nós a identificar-se com Ele.
Não devemos esquecer-nos, porém, de que Ele veio à Terra para redi­mir o mundo inteiro, porque quer que os homens se salvem.
Não há uma só alma que não interesse a Cristo. Cada uma lhe custou o preço do seu Sangue.

Ao considerar estas verdades, vem-me à memória a conversa dos Apóstolos com o Mestre momentos antes do milagre da multiplicação dos pães.
Uma grande multidão acompanhara Jesus.
Nosso Senhor ergue os olhos e pergunta a Filipe: Onde compraremos pão para dar de comer a toda esta gente?
Fazendo um cálculo rápido, Filipe responde: Duzentos dinheiros de pão não bastam para cada um receber um pequeno bocado.
Como não dispõem de tanto dinheiro, lançam mão de uma solução caseira.
Diz-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que é isto para tanta gente.

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O fermento e a massa

Nós queremos seguir o Senhor e desejamos difundir a sua Palavra. Humanamente falando, é lógico que também perguntemos a nós mesmos: mas que somos nós para tanta gente?
Em comparação com o número de habitantes da Terra, ainda que nos contemos por milhões, somos poucos.
Por isso, temos de considerar-nos como uma pequena levedura, preparada e disposta a fazer o bem à humanidade inteira, recordando as palavras do Apóstolo: Um pouco de levedura fermenta toda a massa, transforma-a.
Precisamos, portanto, de aprender a ser esse fermento, essa levedura, para modificar e transformar as multidões.

Por si mesmo é o fermento melhor do que a massa?
Não.
Mas é o meio necessário para que a massa se transforme, tornando-se alimento comestível e são.

Pensai mesmo que seja a traços largos, na eficácia do fermento, que serve para fabricar o pão, alimento básico, simples, ao alcance de to­dos.
A preparação da fornada, em muitos sítios, é uma verdadeira cerimónia, e dali sai um produto estupendo, saboroso que se come "com os olhos"...
Talvez já a tenhais presenciado.
Escolhem farinha boa; se é possível, da melhor.
Trabalham a massa na masseira, para a misturar bem com o fermento, em longo e paciente labor.
Depois um tempo de repouso, imprescindível para que a levedura cumpra a sua missão, inchando a massa.

Entretanto arde o lume no forno, animado pela lenha que se consome...
E aquela massa, metida no calor do lume, torna-se o pão fresco, esponjoso, de grande qualidade.
Resultado impossível de conseguir, se não fosse pela levedura - em pouca quantidade - que se diluiu, que desapareceu no meio dos outros elementos, num trabalho eficiente, mas que não se vê...

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Se meditarmos com sentido espiritual no texto de S. Paulo, compreenderemos que temos de trabalhar em serviço de todas as almas. O contrário seria egoísmo.
Se olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé.
Nenhum de nós é um ser repetido.
O Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os seus filhos diverso número de bens.
Pois temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrirem Cristo.

Não vejais este afã como um acrescentamento, como uma espécie de enfeite que se junta à nossa condição de cristãos.
Se a levedura não fermenta, apodrece.
Pode desaparecer dando vida à massa, mas também pode desaparecer porque se perde em homenagem à ineficácia e ao egoísmo.
Não prestamos um favor a Deus Nosso Senhor quando o damos a co­nhecer aos outros: por pregar o Evangelho não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação, por mandato de Jesus Cristo; e ai de mim se eu não evangelizar!

(cont)


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