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Sabeis muito bem, por o terdes ouvido e
meditado frequentemente, que para todos nós, cristãos, Jesus Cristo é o modelo.
Tê-lo-eis
ensinado a muitas almas, através desse apostolado - convívio humano com sentido
divino - que faz já parte do vosso eu.
Tê-lo-eis
recordado oportunamente, ao empregar esse meio maravilhoso da correcção
fraterna, possibilitando a quem vos escutava comparar o seu procedimento com o
do nosso Irmão primogénito, o Filho de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
Jesus é o modelo.
Ele
mesmo o disse: Discite a me, aprendei
de mim!
Quero
hoje falar-vos de uma virtude que, sem ser a única nem a primeira, actua na
vida cristã como o sal que preserva da corrupção e constitui a pedra de toque
da alma apostólica: a virtude da santa pureza.
É verdade que a caridade teologal é a virtude
mais alta, mas a castidade é a exigência sine qua non, condição imprescindível
para chegar ao diálogo íntimo com Deus.
Quem
não a guarda, se não luta, acaba por ficar cego.
Não
vê nada, porque o homem animal não pode perceber as coisas que são do Espírito
de Deus .
Animados pela pregação do Mestre, nós
queremos ver com olhos limpos: bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus.
A Igreja sempre apresentou estas palavras
como um convite à castidade.
Guardam
um coração sadio, escreve S. João Crisóstomo, os que possuem uma consciência
completamente limpa ou os que amam a castidade.
Nenhuma
virtude é tão necessária como esta para ver a Deus.
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O
exemplo de Cristo
Jesus Cristo, Nosso Senhor, foi, ao longo da
sua vida sobre a terra, coberto de impropérios e maltratado de todas as
maneiras possíveis.
Lembrais-vos?
Diziam
que se comportava como um revoltoso e afirmaram que estava endemoninhado.
Noutra
altura, interpretaram mal as manifestações do seu Amor infinito e
classificaram--no como amigo de pecadores.
Mais tarde, a Ele, que é a própria penitência
e a própria temperança, lançam-lhe à cara que frequentava a mesa dos ricos.
Também
lhe chamam depreciativamente fabri filius,
filho do trabalhador, do carpinteiro, como se isso fosse uma injúria.
Permite
que o rotulem de bebedor e comilão...
Deixa
que o acusem de tudo, excepto de que não é casto.
Não
os deixou dizer isso, porque quer que nós conservemos com toda a nitidez esse
exemplo: um modelo maravilhoso de pureza, de limpeza, de luz, de amor que sabe
queimar todo o mundo para o purificar.
Gosto de me referir à santa pureza,
contemplando sempre a conduta de Nosso Senhor, porque Ele a viveu com grande
delicadeza.
Reparai
no que relata S. João quando, Jesus, fatigatus
ex itinere, sedebat sic supra fontem, cansado no caminho se sentou à borda
do poço.
Procurai recolher-vos e reviver devagar a
cena: Jesus Cristo, perfectus Deus,
perfectus homo, está fatigado do caminho e do trabalho apostólico, tal como
algumas vezes deve ter sucedido convosco, que vos sentis arrasados por já não
poderdes mais.
É
comovedor observar o Mestre esgotado.
Além
disso, tem fome: os discípulos tinham ido ao povoado vizinho para buscar
alimentos.
E
tem sede.
Mas, mais do que a fadiga do corpo, consome-o
a sede de almas.
Por
isso, ao chegar a samaritana, aquela mulher pecadora, o coração sacerdotal de
Cristo derrama-se, diligente, para recuperar a ovelha perdida, esquecendo o
cansaço, a fome e a sede.
Ocupava-se o Senhor com aquela grande obra de
caridade, quando os apóstolos voltaram da cidade e mirabantur quia cum muliere loquebatur, ficaram surpreendidos por
estar a falar a sós com uma mulher.
Como
era cuidadoso!
Que
amor à virtude encantadora da santa pureza, que nos ajuda a ser mais fortes,
mais rijos, mais fecundos, mais capazes de trabalhar por Deus, mais capazes de
tudo o que é grande!
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Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação...
que cada um saiba usar o seu corpo santa e honestamente, não se abandonando às
paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus.
Pertencemos
totalmente a Deus, com a alma e com o corpo, com a carne e com os ossos, com os
sentidos e com as potências.
Pedi-lhe
com confiança: Jesus, guarda o nosso coração! Faz com que o meu coração seja
grande, forte e terno, afectuoso e delicado, transbordante de caridade para Ti,
para servir todas as almas.
O
nosso corpo é santo, templo de Deus, precisa S. Paulo.
Esta
exclamação do Apóstolo recorda-me o chamamento à santidade, que o Mestre dirige
a todos os homens: Estote perfecti sicut
et Pater vester caelestis perfectus est.
O
Senhor pede a todos, sem discriminação alguma, correspondência à graça.
O
Senhor exige a cada um, de acordo com a sua situação pessoal, a prática das
virtudes próprias dos filhos de Deus.
Por isso, ao recordar-vos que o cristão tem
de guardar uma castidade perfeita, estou a referir-me a todos: aos solteiros,
que devem cingir-se a uma completa continência, e aos casados, que vivem
castamente, cumprindo as obrigações próprias do seu estado.
Com o espírito de Deus, a castidade, longe de
ser um peso incómodo e humilhante, torna-se uma afirmação gozosa, porque o
querer, o domínio e a vitória não são dados pela carne nem vêm do instinto, mas
procedem da vontade, sobretudo se está unida à do Senhor.
Para
ser castos e não simplesmente continentes ou honestos, temos de submeter as
paixões à razão, por uma causa elevada, por um impulso de Amor.
Comparo esta virtude a umas asas que nos
permitem levar os mandamentos, a doutrina de Deus por todos os ambientes da
terra, sem receio de ficar enlameados.
Essas
asas, tal como as da aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens, pesam e
pesam muito, mas, se faltassem, não seria possível voar.
Gravai
isto na vossa mente, decididos a não ceder quando sentirdes a garra da
tentação, que se insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável.
Ânimo!
Subi
até ao sol, em busca do Amor!
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Com
Deus nos nossos corpos
Causou-me sempre muita pena o costume de
algumas pessoas - tantas! - que escolhem como nota constante dos seus
ensinamentos a impureza.
Com
isso, conseguem - comprovei-o em bastantes almas - exactamente o contrário do
que pretendem, porque a impureza é matéria mais pegajosa que o pez e deforma as
consciências com complexos ou medos, como se a pureza da alma fosse um
obstáculo quase insuperável.
Nós
não faremos assim!
Temos
de tratar da santa pureza com pensamentos positivos e limpos, com palavras
modestas e claras.
Discorrer sobre este tema, significa dialogar
sobre o Amor.
Tenho
de vos dizer que para esse efeito me ajuda considerar a Humanidade Santíssima
de Nosso Senhor, a maravilha inefável de Deus que se humilha, até fazer-se
homem.
E
que não se sente aviltado por ter tomado carne igual à nossa, com todas as suas
limitações e fraquezas, menos o pecado, porque nos ama com loucura!
Ele
não se rebaixa com o seu aniquilamento e, em troca, levanta-nos, deificando-nos
o corpo e a alma.
Responder
afirmativamente ao seu Amor com um carinho claro, ardente e ordenado, isso é a
virtude da castidade.
Temos de gritar a todo o mundo com a palavra
e com o testemunho da nossa conduta: não empeçonhemos o coração, como se fôssemos
pobres animais dominados pelos instintos mais baixos.
Um
escritor cristão exprime-o assim:
Reparai
que o 0coração do homem não é pequeno, pois abraça muitas coisas.
Medi
essa grandeza, não pelas suas dimensões físicas, mas pelo poder do seu pensamento,
capaz de alcançar o conhecimento de tantas verdades.
É
possível preparar o caminho do Senhor no coração, traçar uma vereda direita,
para que passem por ali o Verbo e a Sabedoria de Deus.
Preparai
com uma conduta honesta e com obras irrepreensíveis o caminho do Senhor,
aplanai a estrada para que o Verbo de Deus caminhe por vós sem tropeçar e vos
dê o conhecimento dos seus mistérios e da sua vinda.
Revela-nos a Escritura Santa que a grandiosa
obra da santificação, tarefa oculta e magnífica do Paráclito, se verifica na
alma e no corpo.
Não sabeis que os vossos
corpos são membros de Cristo? - clama o Apóstolo.
Tomarei eu, pois, os membros
de Cristo e fá-los-ei membros de uma prostituta? (...)
Não sabeis, porventura, que
os vossos corpos são templos do Espírito Santo, que habita em vós, o qual vos
foi dado por Deus e que não pertenceis a vós mesmos, porque fostes comprados
por um grande preço? Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.
(cont)
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