04/07/2016

Leitura espiritual

Leitura Espiritual

Amar a Igreja 


São Josemaria Escrivá
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Sacerdócio comum e sacerdócio ministerial

Nem como homem, nem como fiel cristão, o sacerdote é mais do que o leigo.
Por isso é muito conveniente que o sacerdote professe uma profunda humildade, para entender como também no seu caso se cumprem plenamente, de modo especial, aquelas palavras de S. Paulo:
Que possuís que não tenhais recebido?
O recebido... é Deus!
O recebido é poder celebrar a Sagrada Eucaristia, a Santa Missa - fim principal da ordenação sacerdotal -, perdoar os pecados, administrar outros sacramentos e pregar com autoridade a Palavra de Deus, dirigindo os outros fiéis nas coisas que se referem ao Reino dos Céus.

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O sacerdócio dos presbíteros, que pressupõe os sacramentos da iniciação cristã, confere-se mediante um Sacramento particular, pelo qual os presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são selados com um carácter especial e se configuram com Cristo Sacerdote de tal modo que podem actuar na pessoa de Cristo cabeça.
A Igreja é assim, não por capricho dos homens, mas por expressa vontade de Jesus Cristo, seu Fundador.
O sacrifício e o sacerdócio estão tão unidos, por determinação de Deus, que em toda a Lei, na Antiga e na Nova Aliança, existiram os dois.
Tendo, pois, recebido a Igreja Católica no Novo Testamento, por instituição do Senhor, o sacrifício visível da Eucaristia, deve-se também confessar que há n'Ele um novo sacerdócio, visível e externo, no qual se transformou o antigo.

Nos que são ordenados este sacerdócio ministerial soma-se ao sacerdócio comum de todos os fiéis.
Portanto, seria um erro defender que um sacerdote é mais cristão do que qualquer outro fiel, mas pode afirmar-se que é mais sacerdote: pertence, como todos os cristãos, ao povo sacerdotal redimido por Cristo e, além disso, está marcado com o carácter do sacerdócio ministerial, que se diferencia essencialmente, e não apenas em grau, do sacerdócio comum dos fiéis.

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Não compreendo o empenho de alguns sacerdotes em se confundirem com os outros cristãos esquecendo ou descuidando a sua missão específica na Igreja, para a qual foram ordenados.
Pensam que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem mais Não é verdade.
No sacerdote querem admirar as virtudes próprias de qualquer cristão e de qualquer homem honrado: a compreensão, a justiça, a vida de trabalho - trabalho sacerdotal neste caso -, a caridade, a educação, a delicadeza no trato.
Mas, juntamente com isto, os fiéis pretendem que se destaque claramente o carácter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem se constituir chefe ou militante de partidarismos humanos, sejam de que tipo forem; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que conforte os doentes e os atormentados, que ensine catequese às crianças e aos adultos, que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana, que - mesmo que a conhecesse perfeitamente - não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que saiba aconselhar e ter caridade com os necessitados.

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Numa palavra: pede-se ao sacerdote que aprenda a não estorvar em si a presença de Cristo nele, especialmente no momento em que realiza o Sacrifício do Corpo e Sangue e quando, em nome de Deus, na Confissão sacramental auricular e secreta, perdoa os pecados.
A administração destes dois Sacramentos é tão capital na missão do sacerdote, que tudo o mais deve girar à sua volta.
As outras tarefas sacerdotais - a pregação e a instrução na fé - careceriam de base, se não estivessem dirigidas a ensinar a ter intimidade com Cristo, a encontrar-se com Ele no tribunal amoroso da Penitência e na renovação incruenta do Sacrifício do Calvário, na Santa Missa.

Deixai que me detenha ainda um pouco na consideração do Santo Sacrifício: porque, se para nós é o centro e a raiz da vida cristã, deve sê-lo, de modo especial, na vida do sacerdote.
Um sacerdote que, culpavelmente, não celebrasse diariamente o Santo Sacrifício do Altar, demonstraria pouco amor de Deus; seria como lançar em cara a Cristo que não compartilha da ânsia de Redenção, que não compreende a sua impaciência em se entregar, inerme, como alimento da alma.

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Sacerdote para a Santa Missa

Convém recordar, com importuna insistência, que todos nós, sacerdotes, quer sejamos pecadores quer santos, quando celebramos a Santa Missa não somos nós próprios.
Somos Cristo, que renova no altar o seu divino Sacrifício do Calvário. A obra da nossa Redenção cumpre-se continuamente no mistério do Sacrifício Eucarístico, no qual os sacerdotes exercem o seu principal ministério, e por isso recomenda-se encarecidamente a sua celebração diária pois, mesmo que os fiéis não possam estar presentes, é um acto de Cristo e da sua Igreja.

Ensina o Concilio de Trento que na Missa se realiza, se contém e incruentamente se imola aquele mesmo Cristo que uma só vez se ofereceu Ele mesmo cruentamente no altar da Cruz...
Com efeito, a vítima é uma e a mesma: e O que agora se oferece pelo ministério dos sacerdotes, é O mesmo que então se ofereceu na Cruz, sendo apenas diferente a maneira de se oferecer.

A assistência ou a falta de assistência de fiéis à Santa Missa não altera em nada esta verdade de fé.
Quando celebro rodeado de povo, sinto-me satisfeito, sem necessidade de me considerar presidente de nenhuma assembleia.
Sou, por um lado, um fiel como os outros, mas sou, sobretudo, Cristo no Altar!
Renovo incruentamente o divino Sacrifício do Calvário e consagro in persona Christi, representando realmente Jesus Cristo, porque lhe empresto o meu corpo, a minha voz e as minhas mãos, o meu pobre coração, tantas vezes manchado, que quero que Ele purifique.

Quando celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que ajuda à Missa, também aí há povo.
Sinto junto de mim todos os católicos, todos os crentes e também os que não crêem.
Estão presentes todas as criaturas de Deus - a terra, o céu, o mar, e os animais e as plantas -, dando glória ao Senhor da Criação inteira.

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E especialmente - di-lo-ei com palavras do Concilio Vaticano II - unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja celestial, comunicando e venerando sobretudo a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e Mártires e de todos os santos.

Peço a todos os cristãos que rezem muito por nós, sacerdotes, para que saibamos realizar santamente o Santo Sacrifício.
Rogo-lhes que mostrem um amor tão delicado à Santa Missa, que nos leve, a nós, sacerdotes, a celebrá-la com dignidade - com elegância - humana e sobrenatural: com asseio nos paramentos e nos objectos destinados ao culto, com devoção, sem pressas.

Porquê pressa?
Têm-na por acaso os namorados ao despedir-se?
Parece que se vão embora e não vão: voltam uma e outra vez, repetem palavras correntes como se acabassem de as descobrir...
Não receeis aplicar exemplos do amor humano, nobre, limpo, às coisas de Deus.
Se amarmos o Senhor com este coração de carne - não temos outro - não sentiremos pressa em terminar esse encontro, essa entrevista amorosa com Ele.

Alguns vivem com calma e não se importam de prolongar até ao cansaço leituras, avisos, anúncios mas, ao chegarem ao momento principal da Santa Missa, ao Sacrifício propriamente dito, precipitam-se, contribuindo assim para que os outros fiéis não adorem com piedade Cristo, Sacerdote e Vítima; nem aprendam a dar-lhe graças depois - com pausa, sem precipitações -, por ter querido vir de novo até nós

Todos os afectos e necessidades do coração do cristão encontram na Santa Missa o melhor caminho: aquele que, por Cristo, chega ao Pai no Espirito Santo.
O sacerdote deve pôr especial empenho em que todos o saibam e vivam.
Não há actividade alguma que possa antepor-se normalmente à de ensinar e fazer amar e venerar a Sagrada Eucaristia.


(cont)

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