Art.
5 — Se os perseguidores de Cristo o conheceram.
O
quinto discute-se assim. — Parece que os perseguidores de Cristo o conheciam.
1. — Pois, como diz o Evangelho, os lavradores, vendo o filho, disseram entre
si - este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, o que comenta Jerônimo: Manifestamente o Senhor prova, com essas
palavras, que os príncipes dos judeus crucificaram o Filho de Deus não por
ignorância, mas por inveja; pois entendiam ser ele a quem o Pai disse, por meio
do Profeta — Pede-me e eu te darei as nações em tua herança. Logo, parece
que sabiam ser Cristo o Filho de Deus.
2. Demais. — No Evangelho o Senhor diz: Agora eles não somente viram, mas ainda me
aborreceram tanto a mim como a meu Pai. Ora, o que é visto é manifestamente
conhecido. Logo, os judeus conhecendo a Cristo, infligiram-lhe a Paixão levados
do ódio.
3. Demais. — Um sermão do Concilio
Efesino diz: Quem rasga uma carta
imperial é conduzido à morte, por ter como infringido uma ordem do imperador.
Assim também o judeu, tendo crucificado aquele a quem via, será punido como se
tivesse feito injúria ao próprio Verbo de Deus. Ora, tal não se daria se não
conhecessem que Cristo era o Filho de Deus, ignorância que os escusaria. Logo,
parece que os judeus, crucificando a Cristo, sabiam ele ser o Filho de Deus.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Se eles o conhecessem, nunca crucificariam
ao Senhor da glória. E Pedro diz, dirigindo-se aos Judeus: Sei que o fizestes por ignorância, como
também os vossos magistrados. E o Senhor, pendente da cruz, exclamou: Pai perdoai-lhes, porque não sabem o que
fazem.
Dentre os Judeus, uns eram os
grandes e outros, a plebe. — Os grandes chamados príncipes deles, sabiam como
também os demónios, que Jesus era o Cristo prometido na lei; pois, viam
realizarem-se nele todos os sinais preditos pelos profetas. Mas ignoravam-lhe o
mistério da divindade; por isso o Apóstolo diz, que se a conhecessem nunca crucificariam ao Senhor da glória. Devemos,
porém saber que a ignorância deles não os excusava do crime; pois era de certo
modo uma ignorância afectada. Porquanto viam sinais evidentes da sua divindade;
mas por ódio e inveja de Cristo, pervertiam-lhes o sentido e não queriam
acreditar nas palavras com que se confessava Filho de Deus. Por isso deles
disse Cristo: Se eu não viera e não lhes
tivera falado, não teriam eles pecado; mas agora não têm desculpa do seu
pecado. E assim podemos considerar como referentes à pessoa deles as
palavras da Escritura: Disseram a Deus —
Retira-te de nós, pois nós não queremos conhecer os teus caminhos. — Quanto
à plebe, isto é, a gente do povo, não conhecedores dos mistérios da Escritura,
não sabiam plenamente que ele fosse nem Cristo nem Filho de Deus. Assim, embora
alguns cressem em Cristo, contudo a multidão acreditava nele. E se por vezes
duvidavam se era Cristo, por causa dos inúmeros milagres e da eficácia da sua
doutrina, como se lê no Evangelho, contudo, foram depois iludidos pelos seus
chefes de modo a não acreditarem que fosse o Filho de Deus nem Cristo. Donde o
dizer Pedro: Sei que o fiz estes por
ignorância, como também os vossos magistrados, isto é, porque foram
enganados pelos magistrados.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. —
As palavras citadas se referem à pessoa dos lavradores da vinha, os quais são
os símbolos dos chefes do povo judaico, que sabiam ele ser o herdeiro, porque
sabiam que era o Cristo prometido na lei. - Mas, contra essa resposta parece
irem às palavras do salmo — Pede-me e eu
te darei as nações em tua herança, dirigidas ao mesmo a quem o foram
àquelas outras — Tu és meu filho, eu te
gerei hoje. Se, pois, sabiam que Cristo era aquele a quem foi dito — Pede-me e eu te darei as nações em tua
herança, segue-se que sabiam ser o Filho de Deus. — E Crisóstomo também
diz, no mesmo lugar, que sabiam ser ele o
Filho de Deus. — Beda, por sua vez, comentando o Evangelho — não sabem o que fazem, diz: Devemos notar que não ora por aqueles que,
sabendo ser Cristo o Filho de Deus, preferiram antes crucificá-lo que o
confessar. — Mas a isto pode-se responder, que o conheceram como Filho de
Deus, não por natureza, mas pela excelência de uma graça singular. — Podemos
contudo dizer que são considerados como conhecedores que Cristo era o
verdadeiro Filho de Deus por terem sinais evidentes disso; não quiseram, porém
assentir neles, por ódio e inveja, de modo a reconhecerem-no como Filho de
Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Antes das palavras
citadas veem as seguintes: Se eu não
tivera feito entre eles tais obras quais não fez outro algum, não haveria da
parte deles pecado. E a seguir acrescenta: Mas agora as viram e me aborreceram tanto a mim como a meu Pai. O
que mostra ter sido por ódio que não o reconheceram como Filho de Deus, depois
de terem presenciado as obras milagrosas de Cristo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A ignorância afectada
não escusa da culpa, mas ao contrário, a agrava: pois, mostra que o agente tem
um afeto tão veemente pelo pecado que quer incorrer em ignorância a fim de não
o evitar. Por isso os Judeus pecaram, tendo crucificado a Cristo, não só como
homem, mas também como Deus.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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