Apresentação
de Jesus no Templo
Com
a humildade simples de sempre, foste, Senhora, cumprir a Lei: Passados os dias
estabelecidos depois do nascimento, a jovem Mãe tem de purificar-se no Templo.
Pelo filho deve oferecer um casal de pombas ou rolas brancas e ser
circuncidado.
E
tu, Senhora, foste purificar-te ao Templo!
Tu, sem
mancha de pecado, sem qualquer defeito que pudesse macular a brancura do teu
coração e a limpidez da tua alma, não hesitaste um segundo em cumprir o que
estava escrito que os filhos da Casa de Israel fizessem!
Quantas
vezes eu não pensei que estava dispensado de rezar mais, de me humilhar, de me
declarar disponível para o Senhor; quantas vezes não pensei comigo mesmo que
sou melhor que estes, porque eu faço, eu penso, eu desejo muito mais e melhor!
Tudo
porque o meu coração tem uma carapaça que turva a sua limpidez. A minha alma
cheia de equimoses de pecados antigos e recentes; feridas e lanhos de defeitos
que não consigo rebater nem ultrapassar.
Não
consigo porque não dedico a essa luta um esforço humilde, continuado e
perseverante que me leve a estar sempre pronto para a luta contra a minha falta
de carácter.
Toda
a tua vida, Senhora minha, é uma lição de humildade simples e serena. Não fazes
nada de extraordinário, não dás nas vistas, não sobressais no meio das outras
mulheres e, no entanto, cumpres com alegria e simplicidade todas as prescrições
da Lei como se tuas obrigações fossem. E nisto está o teu segredo, Maria:
Cumprir o que Deus manda, sem discutir, sem argumentar, a tempo e horas, quando
e como deve ser feito.
Esta
singela disponibilidade cumpridora dos deveres é sem dúvida, a característica
mais extraordinária da Mãe do meu Senhor e minha Mãe.
Não
a vemos nunca em êxtase em frente das multidões, sentada numa cadeira especial,
ou nos primeiros lugares das assembleias. Não. Uma mulher simples, em que as
coisas, os actos e as palavras não são estudados ou arquitectados de acordo e
com conveniências ou objectivos.
Apenas
uma serena certeza: Obedecer com prontidão e total disponibilidade.
E,
no entanto, esta mulher é a Mãe de Deus!
Que
lugar mais alto, que maior honra, que pergaminho, que nome ilustre pode
comparar-se: A Mãe de Deus!
Ah
Senhora minha, conseguiste com a tua serena calma, impor ao mundo um nome doce
e vigoroso ao mesmo tempo que se nos coloca na boca com amoroso deleite, ou com
esperançada angústia?
Nos
nossos lábios um último grito, um último apelo, dos aflitos, dos que sofrem,
dos que, em último recurso, para ti apelam. Dos que, acabrunhados pela dor
buscam lenitivo. Dos que, esmagados pela alegria te agradecem. Dos que, como
eu, doidos de amor apenas pronunciam o teu nome lentamente, deixando-o ecoar
por todo o seu ser até ao mais profundo do seu coração.
Obedecer.
Obedecer prontamente, sem hesitações ou desvios. Não dai a pouco, ou mais logo
quando houver mais tempo, mais sossego, melhor luz… todas as mil desculpas que
invento para adiar o que tem de ser feito já.
Obedecer!
É
isto, Senhora, que procuro. É isto, Senhora, que quero: Obedecer.
Para
isso, bem o sei, preciso expurgar de mim todos os invólucros que me cingem, as
preocupações com coisas pequenas, as cobardias constantes, as faltas de
atenção, as interrupções, os devaneios. Para isto é preciso estar pronto.
Só
tu, Senhora minha, podes ajudar-me a conseguir este estado de alma. Só tu podes
ajudar-me a eliminar tudo aquilo que tenho a mais e que tanto é, que não me
deixa ver o essencial, o que realmente vale a pena. A ti recorro, Mãe
Santíssima, para que me conduzas pela mão ao Templo da Purificação, onde eu,
com os olhos finalmente libertos de escamas e o coração nu, de fora do peito,
veja com toda a clareza a Vontade de Deus meu Senhor.
Tenho a certeza que
serei também purificado e o fogo interior que se me acende no peito, incendiará
todo o meu ser, purificando-me assim de todas as minhas faltas.
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