Páscoa
Evangelho:
Mt 28, 8-15
8 Saíram
logo do sepulcro com medo e grande alegria e correram para dar a notícia aos
discípulos. 9 E eis que Jesus lhes saiu ao encontro e lhes disse:
«Deus vos salve». Elas aproximaram-se, abraçaram os Seus pés e prostraram-se
diante d'Ele. 10 Então disse-lhes Jesus: «Não temais; ide dizer aos
Meus irmãos que vão para a Galileia; lá Me verão». 11 Enquanto elas
iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade e noticiaram aos príncipes dos
sacerdotes tudo o que tinha sucedido. 12 Tendo-se eles reunido com
os anciãos, depois de tomarem conselho, deram uma grande soma de dinheiro aos
soldados, 13 dizendo-lhes: «Dizei: “Os Seus discípulos vieram de
noite e, enquanto nós estávamos a dormir, roubaram-n'O”. 14 Se
chegar isto aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e estareis seguros».
15 Eles, recebido o dinheiro, fizeram como lhes tinha sido indicado.
E esta notícia divulgou-se entre os Judeus e dura até ao dia de hoje.
Comentário:
A Ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da nossa
Fé.
Assim o expressamos no Credo.
A nossa Fé é a única verdadeira porque nos foi
transmitida directamente por Deus como uma graça e não por exclusiva vontade
nossa.
Para acreditar há que pôr-se nas mãos de Deus que sabe
muito bem o que necessitamos para consolidar essa mesma Fé.
(ama, comentário sobre Mt
28, 8-15, 2015.04.06)
Leitura espiritual
SANTO
AGOSTINHO – CONFISSÕES
LIVRO
OITAVO
CAPÍTULO
II
Visita
a Simpliciano. Conversão de Vitorino
Fui ter pois com
Simpliciano, pai espiritual do então bispo Ambrósio, que o amava verdadeiramente
como pai. Contei-lhe os labirintos do meu erro. E quando lhe disse que havia
lido alguns livros dos platónicos, traduzidos para o latim por Vitorino,
outrora retórico em Roma – e do qual ouvira dizer que morrera cristão – ele me
felicitou por não ter caído nas obras de outros filósofos, falazes e enganosas,
segundo os elementos deste mundo, mas apenas estes, que insinuam por mil modos
Deus e o seu Verbo.
Depois, para me exortar à
humildade de Cristo, escondida aos sábios e revelada aos humildes, evocou a
lembrança do próprio Vitorino, que conhecera intimamente, quando estava em Roma.
Não guardarei silêncio sobre o que me contou dele, porque me dará azo de proclamar
os grandes louvores da tua graça a seu respeito. Esse erudito ancião, profundo
conhecedor de todas as ciências liberais, leitor e crítico de tantos livros de
filosofia, fora mestre de muitos nobres senadores. O prestígio do seu
magistério lhe valera uma estátua no foro romano, que ele aceitara (coisa que
os cidadãos desse mundo têm em grande conta). Até aquela idade avançada, havia adorado
os ídolos, participando de cultos sacrílegos, de que participava quase toda a
nobreza romana da época que inspirava ao povo a sua devoção por Osíris, por
“toda sorte de monstros divinizados, pelo lavrador Anúbis”, monstros que
outrora “pegaram em armas contra Neptuno, Vénus e Minerva”, e a quem, vencidos,
a própria Roma dirigia súplicas, esse velho Vitorino, que durante tantos anos
havia defendido esses deuses com sua terrível eloquência, não se envergonhou de
se tornar servo do teu Cristo e criança das tuas águas, dobrando o pescoço ao jugo
da humildade, e dobrando a sua fronte ante o opróbrio da cruz.
Senhor, Senhor, que
inclinaste os céus e o desceste, que tocaste os montes e estes fumegaram, de
que modo te insinuaste naquele coração?
Segundo me contou
Simpliciano, Vitorino lia as Escrituras e investigava e esquadrinhava com
grande curiosidade toda a literatura cristã, e confiava a Simpliciano, não em
público, mas muito em segredo e familiarmente: “Sabes que já sou cristão?” Ao
que respondia aquele: “Não hei-de acreditar, nem te contarei entre os cristãos
enquanto não te vir na Igreja de Cristo”. Mas ele ria e dizia: “Serão pois as
paredes que fazem os cristãos?” E isto, de que já era cristão, dizia-o muitas vezes,
contestando-lhe Simpliciano outras tantas vezes com a mesma resposta,
opondo-lhe sempre Vitorino o gracejo das paredes.
Vitorino receava desgostar
os seus amigos, os soberbos adoradores dos demónios, julgando que estes, do
alto da sua babilónica dignidade, como cedros do Líbano, ainda não abatidos
pelo Senhor, fariam cair sobre ele suas pesadas inimizades.
Mas depois que hauriu
forças nas leituras e orações, temeu ser renegado por Cristo diante dos seus
anjos, se tivesse medo de o confessar diante dos homens. Sentiu-se réu de um
grande crime por se envergonhar dos mistérios de humildade do teu Verbo, não se
envergonhando do culto sacrílego de demónios soberbos, que ele próprio aceitara
como soberbo imitador; envergonhou-se da vaidade, e enrubesceu diante da
verdade. De repente, disse a Simpliciano, segundo este mesmo contava: “Vamos à
Igreja; quero tornar-me cristão”. Simpliciano, não cabendo em si de alegria,
foi com ele. Recebidos os primeiros sacramentos da religião, não muito depois,
deu o seu nome para receber o baptismo que renegara, causando admiração em Roma
e alegria na Igreja. Viram-no os soberbos, e iraram-se; rangiam os dentes e consumiam-se
de raiva.
Mas o teu servo havia
posto no Senhor Deus a sua esperança, e não tinha mais olhos para as vaidades e
as enganosas loucuras.
Enfim, chegou a hora da
profissão de fé. Em Roma, os que se preparam para receber a tua graça,
pronunciam de um lugar elevado, diante dos fieis, formulas consagradas
aprendidas de cor.
Os presbíteros, dizia-me
Simpliciano, propuseram a Vitorino que recitasse a profissão de fé em segredo,
como era costume fazer com os que poderiam perturbar-se pela timidez. Mas ele
preferiu confessar a sua salvação na presença da plebe santa, uma vez que
nenhuma salvação havia na retórica que ensinara publicamente. Quanto menos, pois,
devia temer diante da tua mansa grei pronunciar a tua palavra, ele que não
havia temido as turbas insanas em seus discursos!
Assim, logo que subiu à
tribuna para dar testemunho da sua fé, em uníssono, conforme o iam conhecendo,
todos repetiram o seu nome como num aplauso – e quem ali não o conhecia? – e um
grito reprimido, saiu da boca de todos os que se alegravam: “Vitorino! Vitorino!”
Ao verem-no, puseram-se a gritar de júbilo, mas logo emudeceram pelo desejo de
ouvi-lo. Vitorino pronunciou a sua profissão de verdadeira fé com grande
firmeza, e todos queriam raptá-lo para dentro dos seus corações. E realmente
fizeram-no: o seu amor e alegria eram as mãos que o arrebatavam.
CAPÍTULO
III
A
alegria das coisas perdidas
Bom Deus, que se passa no homem
para que se alegre mais com a salvação de uma alma desesperada, quando salva de
grande perigo, do que se ela sempre tivesse tido esperança, ou se o perigo
tivesse sido menor? Também tu, Pai misericordioso, sentes mais alegria por um
pecador arrependido do que por noventa e nove justos que não têm necessidade de
penitência. Grande é o nosso prazer ao falar da alegria do pastor trazendo de
volta sobre os ombros a ovelha desgarrada, e da mulher que repõe nos teus
tesouros, para satisfação geral dos vizinhos, a dracma perdida. E nos arranca lágrimas
a alegria das festas da tua casa quando lemos que o teu filho menor estava
morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.
Tu te alegras em nós e em nos
teus anjos, santificados pelo santo amor; pois és sempre o mesmo, e conheces do
mesmo modo e sempre as coisas que nem sempre existem, nem da mesma maneira.
Mas, que se passa na alma,
para que se alegre mais com as coisas que estima, encontradas ou reavidas, do
que se sempre as tivesse possuído? Na verdade, tudo o atesta, e há inúmeros
testemunhos que afirmam: “É assim mesmo!”
O general celebra o
triunfo da vitória, e não teria vencido sem combate; e quanto mais foi árdua a
batalha, tanto maior é o gozo no triunfo.
A tempestade cai sobre os
navegantes com ameaça de naufrágio. Todos empalidecem diante da morte iminente.
O céu e o mar se acalmam, é grande sua alegria, e nasce do muito que temeram.
Adoece uma pessoa amiga: o
seu pulso revela um desfecho fatal. Todos os que desejam a sua cura sofrem com
ela, por simpatia. Havendo melhora, embora ainda não recuperado o vigor de
outrora, já reina tal alegria como não existia antes, quando andava sadia e
forte.
Até os prazeres da vida
humana, não só compensam os homens de desgraças casuais e involuntárias, mas
também de moléstias premeditadas e desejadas. Não há prazer algum em beber ou
comer sem que haja antes o estímulo da sede ou da fome. Os ébrios costumam
comer antes alguma coisa salgada, que lhes cause sede ardente e que
transformará em prazer quando acalmada com a bebida. O costume quer que as
esposas não sejam entregues imediatamente aos maridos: o marido desprezaria a
noiva se não tivesse que esperar e suspirar por ela.
Assim ocorre tanto na
alegria torpe e vil, como na alegria lícita e permitida, na mais sincera e
honesta amizade, como na aventura daquele que estava morto e tornou a viver,
que se havia perdido e foi encontrado; em todos os casos uma alegria maior é
precedida de uma dor também maior.
Por que isto, Senhor, meu
Deus, quando tu mesmo és tua própria alegria eterna, e as criaturas à tua volta
em ti se alegram? Por que esta parte do universo sofre as alternâncias de progressos
e quedas, de uniões e separações? Será este o modo de ser que lhe concedeste quando,
do mais alto dos céus até às profundezas da terra, desde o princípio dos tempos
até o fim dos séculos, desde o anjo até o pequenino verme, e desde o primeiro
movimento até o último, dispuseste todos os géneros de bens e todas as tuas
obras justas, cada uma em seu lugar e tempo?
Ai de mim! Quão alto és
nas alturas e quão profundo nos abismos! Jamais te afastas de nós e, contudo,
quanta dificuldade para voltar a ti!
(Revisão
de versão portuguesa por ama)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.