09/01/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual



Tempo de Natal
Epifania


Evangelho: Jo 3, 22-30

22 Depois disto, foi Jesus com os Seus discípulos para a terra da Judeia. Convivia com eles e baptizava. 23 João estava também a baptizar em Enon, junto a Salim, porque havia ali muita água e o povo concorria para ser baptizado. 24 João ainda não tinha sido metido na prisão. 25 Levantou-se uma questão entre os discípulos de João e um judeu acerca da purificação. 26 Foram ter com João e disseram-lhe: «Mestre, O que estava contigo além Jordão, de Quem tu deste testemunho, ei-l'O que está a baptizar e todos vão a Ele». 27 João respondeu: «O homem não pode receber coisa alguma se lhe não for dada do céu. 28 Vós próprios sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante d'Ele. 29 O que tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo, que está ao lado e o ouve, enche-se de gozo com a voz do esposo. Esta é a minha alegria e ela é perfeita. 30 Convém que Ele cresça e eu diminua.

Comentário:

A importância do Baptismo fica bem patente neste trecho de São João.
O anúncio da chegada eminente do Messias começou com o Baptismo de João; a confirmação da Pessoa de Jesus Cristo como esse mesmo Messias, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade confirma-se no Baptismo de Jesus.
A admissão na Igreja Católica instituída por Jesus Cristo começa com o Sacramento do Baptismo e, também, a constituição fundamental do Baptizado em Filho de Deus.

(ama, comentário sobre Jo 3, 22-30 2015.01.10)


Leitura espiritual



CARTA ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM



CAPÍTULO IV

UMA ECOLOGIA INTEGRAL

1. Ecologia ambiental, económica e social

3. Ecologia da vida quotidiana

147. Para se poder falar de autêntico progresso, será preciso verificar que se produza uma melhoria global na qualidade de vida humana; isto implica analisar o espaço onde as pessoas transcorrem a sua existência.
Os ambientes onde vivemos influem sobre a nossa maneira de ver a vida, sentir e agir.
Ao mesmo tempo, no nosso quarto, na nossa casa, no nosso lugar de trabalho e no nosso bairro, usamos o ambiente para exprimir a nossa identidade.
Esforçamo-nos por nos adaptar ao ambiente e, quando este aparece desordenado, caótico ou cheio de poluição visiva e acústica, o excesso de estímulos põe à prova as nossas tentativas de desenvolver uma identidade integrada e feliz.

148. Admirável é a criatividade e generosidade de pessoas e grupos que são capazes de dar a volta às limitações do ambiente, modificando os efeitos adversos dos condicionalismos e aprendendo a orientar a sua existência no meio da desordem e precariedade.
Por exemplo, nalguns lugares onde as fachadas dos edifícios estão muito deterioradas, há pessoas que cuidam com muita dignidade o interior das suas habitações, ou que se sentem bem pela cordialidade e amizade das pessoas.
A vida social positiva e benfazeja dos habitantes enche de luz um ambiente à primeira vista inabitável.
É louvável a ecologia humana que os pobres conseguem desenvolver, no meio de tantas limitações.
A sensação de sufocamento, produzida pelos aglomerados residenciais e pelos espaços com alta densidade populacional, é contrastada se se desenvolvem calorosas relações humanas de vizinhança, se se criam comunidades, se as limitações ambientais são compensadas na interioridade de cada pessoa que se sente inserida numa rede de comunhão e pertença.
Deste modo, qualquer lugar deixa de ser um inferno e torna-se o contexto duma vida digna.

149. Inversamente está provado que a penúria extrema vivida nalguns ambientes privados de harmonia, magnanimidade e possibilidade de integração, facilita o aparecimento de comportamentos desumanos e a manipulação das pessoas por organizações criminosas. Para os habitantes de bairros periféricos muito precários, a experiência diária de passar da superlotação ao anonimato social, que se vive nas grandes cidades, pode provocar uma sensação de desenraizamento que favorece comportamentos anti-sociais e violência.
Todavia tenho a peito reiterar que o amor é mais forte.
Muitas pessoas, nestas condições, são capazes de tecer laços de pertença e convivência que transformam a superlotação numa experiência comunitária, onde se derrubam os muros do eu e superam as barreiras do egoísmo.
Esta experiência de salvação comunitária é o que muitas vezes suscita reacções criativas para melhorar um edifício ou um bairro.[i]

150. Dada a relação entre os espaços urbanizados e o comportamento humano, aqueles que projectam edifícios, bairros, espaços públicos e cidades precisam da contribuição dos vários saberes que permitem compreender os processos, o simbolismo e os comportamentos das pessoas.
Não é suficiente a busca da beleza no projecto, porque tem ainda mais valor servir outro tipo de beleza: a qualidade de vida das pessoas, a sua harmonia com o ambiente, o encontro e ajuda mútua.
Por isso também, é tão importante que o ponto de vista dos habitantes do lugar contribua sempre para a análise da planificação urbanista.

151. É preciso cuidar dos espaços comuns, dos marcos visuais e das estruturas urbanas que melhoram o nosso sentido de pertença, a nossa sensação de enraizamento, o nosso sentimento de «estar em casa» dentro da cidade que nos envolve e une.
É importante que as diferentes partes duma cidade estejam bem integradas e que os habitantes possam ter uma visão de conjunto em vez de se encerrarem num bairro, renunciando a viver a cidade inteira como um espaço próprio partilhado com os outros.
Toda a intervenção na paisagem urbana ou rural deveria considerar que os diferentes elementos do lugar formam um todo, sentido pelos habitantes como um contexto coerente com a sua riqueza de significados.
Assim, os outros deixam de ser estranhos e podemos senti-los como parte de um «nós» que construímos juntos.
Pela mesma razão, tanto no meio urbano como no rural, convém preservar alguns espaços onde se evitem intervenções humanas que os alterem constantemente.

152. A falta de habitação é grave em muitas partes do mundo, tanto nas áreas rurais como nas grandes cidades, nomeadamente porque os orçamentos estatais em geral cobrem apenas uma pequena parte da procura.
E não só os pobres, mas uma grande parte da sociedade encontra sérias dificuldades para ter uma casa própria.
A propriedade da casa tem muita importância para a dignidade das pessoas e o desenvolvimento das famílias.
Trata-se de uma questão central da ecologia humana.
Se num lugar concreto já se desenvolveram aglomerados caóticos de casas precárias, trata-se primariamente de urbanizar estes bairros, não de erradicar e expulsar os habitantes.
Mas, quando os pobres vivem em subúrbios poluídos ou aglomerados perigosos, «no caso de ter de se proceder à sua deslocação, para não acrescentar mais sofrimento ao que já padecem, é necessário fornecer-lhes uma adequada e prévia informação, oferecer-lhes alternativas de alojamentos dignos e envolver directamente os interessados».[ii]
Ao mesmo tempo, a criatividade deveria levar à integração dos bairros precários numa cidade acolhedora:
«Como são belas as cidades que superam a desconfiança doentia e integram os que são diferentes, fazendo desta integração um novo factor de progresso! Como são encantadoras as cidades que, já no seu projecto arquitectónico, estão cheias de espaços que unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro!»[iii]

153. Nas cidades, a qualidade de vida está largamente relacionada com os transportes, que muitas vezes são causa de grandes tribulações para os habitantes.
Nelas, circulam muitos carros utilizados por uma ou duas pessoas, pelo que o tráfico torna-se intenso, eleva-se o nível de poluição, consomem-se enormes quantidades de energia não-renovável e torna-se necessário a construção de mais estradas e parques de estacionamento que prejudicam o tecido urbano.
Muitos especialistas estão de acordo sobre a necessidade de dar prioridade ao transporte público.
Mas é difícil que algumas medidas consideradas necessárias sejam pacificamente acolhidas pela sociedade, sem uma melhoria substancial do referido transporte, que, em muitas cidades, comporta um tratamento indigno das pessoas devido à superlotação, ao desconforto, ou à reduzida frequência dos serviços e à insegurança.

154. O reconhecimento da dignidade peculiar do ser humano contrasta frequentemente com a vida caótica que têm de fazer as pessoas nas nossas cidades.
Mas isto não deveria levar a esquecer o estado de abandono e desleixo que sofrem também alguns habitantes das áreas rurais, onde não chegam os serviços essenciais e há trabalhadores reduzidos a situações de escravidão, sem direitos nem expectativas duma vida mais dignificante.

155. A ecologia humana implica também algo de muito profundo que é indispensável para se poder criar um ambiente mais dignificante: a relação necessária da vida do ser humano com a lei moral inscrita na sua própria natureza.
Bento XVI dizia que existe uma «ecologia do homem», porque «também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece».[iv]
Nesta linha, é preciso reconhecer que o nosso corpo nos põe em relação directa com o meio ambiente e com os outros seres vivos.
A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação. Aprender a aceitar o próprio corpo, a cuidar dele e a respeitar os seus significados é essencial para uma verdadeira ecologia humana.
Também é necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente.
Assim, é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente.
Portanto, não é salutar um comportamento que pretenda «cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela».[v]

(cont)





[i] Alguns autores puseram em evidência os valores que muitas vezes se vivem, por exemplo, nas «villas», «chabolas» ou favelas da América Latina: ver Juan Carlos Scannone S.I., «La irrupción del pobre y la lógica de la gratuidad», in Juan Carlos Scannone e Marcelo Perine (eds.), Irrupción del pobre y quehacer filosófico. Hacia una nueva racionalidad (Buenos Aires 1993), 225-230.
[ii] Pontifício Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 482.
[iii] Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium (24 de Novembro de 2013), 210: AAS 105 (2013), 1107.
[iv] Discurso ao Bundestag, Berlim (22 de Setembro de 2011): AAS 103 (2011), 668; L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 24/IX/2011), 5.
[v] Francisco, Catequese (15 de Abril de 2015): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 16/IV/2015), 20.

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