26/12/2015

Tratado da vida de Cristo 62

Questão 38: Do baptismo de João

Art. 6 — Se os que já tinham recebido o baptismo de João deviam receber também o baptismo de Cristo.

O sexto discute-se assim. — Parece que os que já tinham recebido o baptismo de João não deviam receber depois o baptismo de Cristo.

1. — Pois, João não era menor que os Apóstolos segundo a ele se refere o Evangelho: Entre os nascidos de mulheres não se levantou outro maior que João Baptista. Ora, os que foram baptizados pelos Apóstolos não o foram de novo, mas só se lhes acrescentou a imposição das mãos. Assim, diz a Escritura, que alguns foram somente baptizados por Filipe em nome do Senhor Jesus; então os Apóstolos, isto é, Pedro e João, punham as mãos sobre eles e recebiam o Espírito Santo. Logo, parece que os baptizados por João não deviam receber também o baptismo de Cristo.

2. Demais. — Os Apóstolos receberam o baptismo de João, pois, alguns foram discípulos dele. Ora, parece que os Apóstolos não receberam o baptismo de Cristo; assim, diz o Evangelho: Jesus não baptizava, mas sim os seus discípulos. Logo, parece que os que tinham recebido o baptismo de João não deviam depois receber o de Cristo.

3. Demais. — O baptizado é inferior a quem o baptiza. Ora, não diz a Escritura que João tivesse recebido o baptismo de Cristo. Logo, com maior razão, os baptizados por João precisavam de ser depois baptizados por Cristo.

4. Demais. — Diz a Escritura: Paulo achou alguns discípulos e disse-lhes: Vós recebestes já o Espírito Santo quando abraçastes a fé? E eles lhe responderam: Antes nós nem sequer temos ainda ouvido se há Espírito Santo. E ele disse-lhes: Em que baptismo fostes vós baptizados? Eles disseram: No baptismo de João. Donde, foram baptizados de novo em nome do Senhor Jesus. E assim, parece que era preciso serem baptizados de novo, por ignorarem a existência do Espírito Santo, como dizem Jerónimo e Ambrósio. Ora, alguns receberam o baptismo de João, que tinham conhecimento pleno da Trindade. Logo, não deviam receber de novo o baptismo de Cristo.

5. Demais. — Segundo o Apóstolo: Esta é a palavra da fé que pregamos - diz a Glosa de Agostinho: Donde tira a água essa virtude tão maravilhosa de purificar à coração, ao mesmo tempo que lava o corpo, senão por efeito da palavra, não precisamente porque pronunciada, mas porque crida? Donde, é claro que a virtude do baptismo depende da fé. Ora, a forma do baptismo de João simbolizava a fé com a qual somos baptizados, conforme o Apóstolo: João baptizou ao povo com baptismo de penitência, dizendo: Que cressem naquele que havia de vir depois dele, isto é, em Jesus. Logo, parece que não era necessário os que receberam o baptismo de João terem que receber de novo o de Cristo.

Mas, em contrário, Agostinho: Aos que receberam o baptismo de João era preciso receberem depois o de Cristo.

Segundo a opinião do Mestre das Sentenças, os que receberam o baptismo de João, ignorando, a existência do Espírito Santo, mas pondo a esperança nesse baptismo, receberam depois o baptismo de Cristo; mas os que não punham a sua esperança no baptismo de João e criam no Pai, no Filho e no Espírito Santo, não foram baptizados depois, mas pela imposição das mãos feitas sobre eles pelos apóstolos, receberam o Espírito Santo. E isto é por certo verdade, quanto à primeira parte, confirmado por muitas autoridades. Mas, a segunda arte dessa afirmação é de todo irracional. - Primeiro, porque o baptismo de João não conferia a graça nem imprimia carácter, mas era só em água como ele próprio o diz. Por isso, a fé ou a esperança que o baptizado tivesse em Cristo não podia suprir essa falta. - Segundo, porque quando num sacramento se omite o que faz essencialmente parte dele, não só há necessidade de suprir essa omissão, mas é mister tornar a ministrar de novo o sacramento. Ora, o baptismo de Cristo exigia essencialmente que fosse ministrado, não só em água, mas no Espírito Santo, conforme o Evangelho: Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus. Donde, aos que só pela água receberam o baptismo de João, não era preciso suprir o que lhes faltava, de modo que lhes fosse conferido o Espírito Santo pela imposição das mãos, mas deviam de novo e totalmente ser baptizados na água e no Espírito Santo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz Agostinho, houve outro baptismo além do João, por que este não ministrava o baptismo de Cristo, mas o seu. Mas, o que fosse conferido por Pedro ou ainda por Judas, esse era de Cristo. Por isso, os que Judas baptizou não precisavam de novo baptismo; pois, o baptismo é tal qual foi instituído por quem tinha poderes para fazê-lo, em nada dependendo a sua essência daquele que o ministra. Por isso também os baptizados de Filipe diácono, que ministrava o baptismo de Cristo, não foram de novo baptizados, mas receberam dos Apóstolos a imposição das mãos; assim como os baptizados pelos sacerdotes são confirmados pelos bispos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz Agostinho, entendemos que os discípulos de Cristo foram baptizados, quer pelo baptismo de João, como alguns pensam, quer, o que é mais crível, pelo baptizado de Cristo; pois, não podia deixar de regular o ministério do baptismo, dando aos já baptizados o poder de baptizar os outros, aquele que se não eximiu de lavar os pés aos seus discípulos, para dar-lhes maior exemplo de humildade.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como ensina Crisóstomo, o ter Cristo respondido a João que dizia - Eu sou o que devo ser baptizado por ti, respondido - Deixa por ora - mostra que depois Cristo baptizou a João. E refere que tal está claramente escrito em alguns livros apócrifos. Mas é certo, como ensina Jerónimo, que assim como Cristo foi baptizado na água por João, assim João devia ser baptizado por Cristo no Espírito.

RESPOSTA À QUARTA. — A causa total, desses tais terem sido baptizados depois de haverem recebido o baptismo de João, não foi o desconhecerem o Espírito Santo, mas o não terem recebido o baptismo de Cristo.

RESPOSTA À QUINTA. — Como diz Agostinho, os nossos sacramentos são os sinais da graça presente; ao passo que os da lei antiga eram os da graça futura. Donde, o próprio facto de João baptizar, em nome do que devia vir, prova que não conferia o baptismo de Cristo, que é um sacramento da lei nova.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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