Art.
6 — Se os que já tinham recebido o baptismo de João deviam receber também o baptismo
de Cristo.
O sexto discute-se assim. — Parece que os que
já tinham recebido o baptismo de João não deviam receber depois o baptismo de
Cristo.
1. — Pois, João não era menor que os
Apóstolos segundo a ele se refere o Evangelho: Entre os nascidos de mulheres não se levantou outro maior que João
Baptista. Ora, os que foram baptizados pelos Apóstolos não o foram de novo,
mas só se lhes acrescentou a imposição das mãos. Assim, diz a Escritura, que alguns
foram somente baptizados por Filipe em nome do Senhor Jesus; então os
Apóstolos, isto é, Pedro e João, punham as mãos sobre eles e recebiam o
Espírito Santo. Logo, parece que os baptizados por João não deviam receber
também o baptismo de Cristo.
2. Demais. — Os Apóstolos receberam o baptismo
de João, pois, alguns foram discípulos dele. Ora, parece que os Apóstolos não
receberam o baptismo de Cristo; assim, diz o Evangelho: Jesus não baptizava, mas sim os seus discípulos. Logo, parece que
os que tinham recebido o baptismo de João não deviam depois receber o de
Cristo.
3. Demais. — O baptizado é inferior a
quem o baptiza. Ora, não diz a Escritura que João tivesse recebido o baptismo
de Cristo. Logo, com maior razão, os baptizados por João precisavam de ser
depois baptizados por Cristo.
4. Demais. — Diz a Escritura: Paulo
achou alguns discípulos e disse-lhes: Vós
recebestes já o Espírito Santo quando abraçastes a fé? E eles lhe responderam:
Antes nós nem sequer temos ainda ouvido se há Espírito Santo. E ele disse-lhes:
Em que baptismo fostes vós baptizados? Eles disseram: No baptismo de João.
Donde, foram baptizados de novo em nome do Senhor Jesus. E assim, parece
que era preciso serem baptizados de novo, por ignorarem a existência do
Espírito Santo, como dizem Jerónimo e Ambrósio. Ora, alguns receberam o baptismo
de João, que tinham conhecimento pleno da Trindade. Logo, não deviam receber de
novo o baptismo de Cristo.
5. Demais. — Segundo o Apóstolo: Esta é a palavra da fé que pregamos -
diz a Glosa de Agostinho: Donde tira a
água essa virtude tão maravilhosa de purificar à coração, ao mesmo tempo que
lava o corpo, senão por efeito da palavra, não precisamente porque pronunciada,
mas porque crida? Donde, é claro que a virtude do baptismo depende da fé.
Ora, a forma do baptismo de João simbolizava a fé com a qual somos baptizados,
conforme o Apóstolo: João baptizou ao povo com baptismo de penitência, dizendo:
Que cressem naquele que havia de vir
depois dele, isto é, em Jesus. Logo, parece que não era necessário os que
receberam o baptismo de João terem que receber de novo o de Cristo.
Mas, em contrário, Agostinho: Aos que receberam o baptismo de João era
preciso receberem depois o de Cristo.
Segundo a opinião do Mestre
das Sentenças, os que receberam o baptismo de João, ignorando, a existência do
Espírito Santo, mas pondo a esperança nesse baptismo, receberam depois o baptismo
de Cristo; mas os que não punham a sua esperança no baptismo de João e criam no
Pai, no Filho e no Espírito Santo, não foram baptizados depois, mas pela
imposição das mãos feitas sobre eles pelos apóstolos, receberam o Espírito
Santo. E isto é por certo verdade, quanto à primeira parte, confirmado por
muitas autoridades. Mas, a segunda arte dessa afirmação é de todo irracional. -
Primeiro, porque o baptismo de João não conferia a graça nem imprimia carácter,
mas era só em água como ele próprio o diz. Por isso, a fé ou a esperança que o baptizado
tivesse em Cristo não podia suprir essa falta. - Segundo, porque quando num
sacramento se omite o que faz essencialmente parte dele, não só há necessidade
de suprir essa omissão, mas é mister tornar a ministrar de novo o sacramento.
Ora, o baptismo de Cristo exigia essencialmente que fosse ministrado, não só em
água, mas no Espírito Santo, conforme o Evangelho: Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino
de Deus. Donde, aos que só pela água receberam o baptismo de João, não era
preciso suprir o que lhes faltava, de modo que lhes fosse conferido o Espírito
Santo pela imposição das mãos, mas deviam de novo e totalmente ser baptizados
na água e no Espírito Santo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Como diz Agostinho, houve outro
baptismo além do João, por que este não ministrava o baptismo de Cristo, mas o
seu. Mas, o que fosse conferido por
Pedro ou ainda por Judas, esse era de Cristo. Por isso, os que Judas baptizou
não precisavam de novo baptismo; pois, o baptismo é tal qual foi instituído por
quem tinha poderes para fazê-lo, em nada dependendo a sua essência daquele que
o ministra. Por isso também os baptizados de Filipe diácono, que ministrava o
baptismo de Cristo, não foram de novo baptizados, mas receberam dos Apóstolos a
imposição das mãos; assim como os baptizados pelos sacerdotes são confirmados
pelos bispos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz
Agostinho, entendemos que os discípulos
de Cristo foram baptizados, quer pelo baptismo de João, como alguns pensam,
quer, o que é mais crível, pelo baptizado de Cristo; pois, não podia deixar de
regular o ministério do baptismo, dando aos já baptizados o poder de baptizar
os outros, aquele que se não eximiu de lavar os pés aos seus discípulos, para
dar-lhes maior exemplo de humildade.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como ensina
Crisóstomo, o ter Cristo respondido a
João que dizia - Eu sou o que devo
ser baptizado por ti, respondido - Deixa
por ora - mostra que depois Cristo baptizou a João. E refere que tal está
claramente escrito em alguns livros apócrifos. Mas é certo, como ensina Jerónimo,
que assim como Cristo foi baptizado na água por João, assim João devia ser baptizado
por Cristo no Espírito.
RESPOSTA À QUARTA. — A causa total,
desses tais terem sido baptizados depois de haverem recebido o baptismo de
João, não foi o desconhecerem o Espírito Santo, mas o não terem recebido o baptismo
de Cristo.
RESPOSTA À QUINTA. — Como diz
Agostinho, os nossos sacramentos são os
sinais da graça presente; ao passo que os da lei antiga eram os da graça futura.
Donde, o próprio facto de João baptizar, em nome do que devia vir, prova que
não conferia o baptismo de Cristo, que é um sacramento da lei nova.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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