Tempo de Advento
Santo Ambrósio – Doutor da Igreja
Evangelho:
Lc 5, 17-26
17 Um dia, enquanto
ensinava, estavam ali sentados fariseus e doutores da lei vindos de todas as
aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor levava-O a fazer
curas. 18 E eis que uns homens, levando sobre um leito um homem que
estava paralítico, procuravam introduzi-lo dentro da casa e pô-lo diante d'Ele.
19 Porém, não encontrando por onde o introduzir por causa da
multidão, subiram ao telhado e, levantando as telhas, desceram-no com o leito
no meio de todos, diante de Jesus. 20 Vendo a fé deles, Jesus disse:
«Homem, são-te perdoados os teus pecados». 21 Então os escribas e os
fariseus começaram a pensar e a dizer: «Quem é este que diz blasfémias? Quem
pode perdoar pecados, senão só Deus?». 22 Jesus, conhecendo os seus
pensamentos, respondeu-lhes: «Que estais a pensar nos vossos corações? 23
Que coisa é mais fácil dizer: “São-te perdoados os pecados”, ou dizer:
“Levanta-te e caminha”? 24 Pois, para que saibais que o Filho do
Homem tem na terra o poder de perdoar pecados, Eu te ordeno - disse Ele ao
paralítico - levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa». 25
Levantando-se logo em presença deles, tomou o leito em que jazia e foi para a
sua casa, glorificando a Deus. 26 Ficaram todos estupefactos e
glorificavam a Deus. Possuídos de temor, diziam: «Hoje vimos coisas
maravilhosas».
Comentário:
Jesus Cristo é, de facto o médico
divino: cura o homem total, completo, no corpo e na alma.
E, com o poder que tem, a única coisa
que pede “em pagamento” é que quem quer ser curado tenha Fé, autêntica,
completa, sem condições ou restrições.
Ele, de facto, pode tudo porque, «a Deus nada é impossível».
(ama, comentário sobre Lc 5, 17-26, 2013.12.09)
Leitura espiritual
Catequeses sobre a família 6
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso caminho de catequeses sobre a
família, depois de ter meditado sobre o papel da mãe, do pai e dos filhos,
agora é a vez dos irmãos.
«Irmão» e «irmã» são palavras que o
cristianismo aprecia muito.
E, graças à experiência familiar, são
palavras que todas as culturas e épocas compreendem.
O laço fraternal ocupa um lugar
especial na história do povo de Deus, que recebe a sua revelação no vivo da
experiência humana.
O salmista canta a beleza do vínculo
fraterno:
«Como
é bom, como é agradável os irmãos viverem em unidade!» [i].
E é verdade, a irmandade é bonita!
Jesus Cristo levou à sua plenitude
também esta experiência humana do ser irmãos e irmãs, assumindo-a no amor
trinitário e fortalecendo-a para que vá muito além dos vínculos de parentela e
possa superar todos os muros de alienação.
Sabemos que quando a relação fraternal
se corrompe, quando se desvirtua o relacionamento entre os irmãos, abre-se o
caminho para dolorosas experiências de conflito, traição e ódio.
A narração bíblica de Caim e Abel
constitui o exemplo deste resultado negativo.
Após o assassínio de Abel, Deus
pergunta a Caim:
«Onde
está o teu irmão Abel?» [ii].
É uma interrogação que o Senhor
continua a repetir a cada geração. E infelizmente, em cada geração, não cessa
de se repetir também a dramática resposta de Caim:
«Não
sei. Sou porventura eu o guarda do meu irmão?» [iii].
A ruptura do vínculo entre irmãos é algo
desagradável e negativo para a humanidade.
Também em família, quantos irmãos
discutem por causa de coisas insignificantes, ou de uma herança, e depois
deixam de se comunicar, de se saudar uns aos outros.
Isto é feio!
A fraternidade é algo grandioso,
quando se pensa que todos os irmãos habitaram no ventre da mesma mãe, durante
nove meses, e vêm da carne da mesma mãe!
E não se pode interromper a
fraternidade.
Pensemos um pouco: todos nós
conhecemos famílias com irmãos divididos, que discutiram; peçamos ao Senhor por
estas famílias — talvez na nossa família haja alguns casos — que as ajude a
reunir os irmãos, a reconstruir a família.
A fraternidade não se deve
interromper, porque quando se interrompe, verifica-se o que aconteceu com Caim
e Abel.
Quando o Senhor pergunta a Caim onde
estava o seu irmão, ele responde:
«Não sei, não me interesso pelo meu
irmão!».
Isto é desagradável, é algo muito
doloroso de ouvir.
Nas nossas preces oremos sempre pelos
irmãos que se dividiram.
O laço de fraternidade que se forma em
família, entre os filhos, quando se verifica num clima de educação para a
abertura ao próximo, é uma grande escola de liberdade e paz.
Em família, entre irmãos, aprendemos a
convivência humana, como devemos conviver na sociedade.
Talvez nem sempre estejamos
conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a fraternidade no
mundo!
A partir desta primeira experiência de
fraternidade, alimentada pelos afectos e pela educação familiar, o estilo da
fraternidade irradia-se como uma promessa sobre a sociedade inteira e sobre as
relações entre os povos.
A bênção que Deus, em Jesus Cristo,
derrama sobre este vínculo de fraternidade dilata-o de modo inimaginável,
tornando-o capaz de ultrapassar todas as diferenças de nação, língua, cultura e
até de religião.
Pensai no que se torna o vínculo entre
os homens, mesmo que sejam muito diversos entre si, quando podem dizer uns aos
outros:
«Para mim, ele é como um irmão, ela é
como uma irmã!».
Isto é bonito!
De resto, a história demonstrou
suficientemente que, sem a fraternidade, até a liberdade e a igualdade podem
encher-se de individualismo e conformismo, também de interesse pessoal.
A fraternidade em família resplandece
de modo especial quando vemos o esmero, a paciência e o carinho com os quais
são circundados o irmãozinho ou a irmãzinha mais frágeis, doentes ou
deficientes.
Os irmãos e as irmãs que agem assim
são muitíssimos, no mundo inteiro, e talvez não apreciemos de modo suficiente a
sua generosidade.
E quando numa família os irmãos são
numerosos — hoje saudei uma família com nove filhos: o mais velho ou a mais
velha ajuda o pai, a mãe, a cuidar dos mais pequeninos.
Como é bonito este trabalho de ajuda
entre os irmãos!
Ter um irmão, uma irmã que nos ama é
uma experiência forte, inestimável, insubstituível.
Acontece o mesmo com a fraternidade
cristã.
Os mais pequeninos, frágeis e pobres
devem enternecer-nos: eles têm o «direito» de arrebatar a nossa alma, o nosso
coração.
Sim, eles são nossos irmãos, e como
tais devemos amá-los e tratá-los.
Quando isto acontece, quando os pobres
vivem como em casa, a nossa fraternidade cristã retoma vida.
Com efeito, os cristãos vão ao
encontro dos mais pobres e frágeis não para seguir um programa ideológico, mas
porque a palavra e o exemplo do Senhor nos dizem que somos todos irmãos.
Este é o princípio do amor de Deus e
de toda a justiça entre os homens.
Sugiro-vos algo: antes de concluir, só
me faltam poucas linhas, cada um de nós pense nos próprios irmãos e irmãs e, no
silêncio do coração, reze por eles.
Um momento de silêncio!
Eis que com esta prece os trouxemos
todos, irmãos e irmãs, com o pensamento, com o coração, aqui à praça para
receber a bênção.
Hoje é mais necessário do que nunca
repor a fraternidade no centro da nossa sociedade tecnocrática e burocrática:
assim, também a liberdade e a igualdade tomarão a sua correcta modulação.
Por isso, não privemos com leviandade
as nossas famílias, por sujeição ou medo, da beleza de uma ampla experiência
fraternal de filhos e filhas.
E não percamos a nossa confiança na
vastidão de horizonte que a fé é capaz de obter desta experiência, iluminada
pela Bênção de Deus.
papa francisco, Audiência Geral 18 de Fevereiro de 2015
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