05/12/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual


 Tempo de Advento


Evangelho: Mt 9, 35 10, 1. 6-8

35 Jesus ia percorrendo todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando toda a doença e toda a enfermidade.
1 Tendo convocado os Seus doze discípulos, Jesus deu-lhes poder de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a doença e toda a enfermidade.
6 ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7 Ide, e anunciai que está próximo o Reino dos Céus. 8 «Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, lançai fora os demónios. Dai de graça o que de graça recebestes.

Comentário:

No apostolado devemos começar pelos que mais precisam e que obviamente são os que mais afastados estão de Deus.

Escolha nossa?
Não!
Correríamos o risco de elaborar uma lista interminável.

O director espiritual aconselhar-nos-á quem e como fazer, definir as prioridades.

Assim, estaremos certos de fazer o que melhor convém para cumprir o mandato do Senhor.

(ama, comentário sobre Mt 9, 35; 10, 1, 6-8, 2014.12.06)



Leitura espiritual



Resumos da Fé cristã

TEMA 40

Pai Nosso, que estais nos céus

Com o Pai Nosso, Jesus Cristo ensina-nos a dirigirmo-nos a Deus como Pai. É a oração filial por excelência.

1. Jesus ensina-nos a dirigirmo-nos a Deus como Pai

Com o Pai Nosso, Jesus Cristo ensina-nos a dirigirmo-nos a Deus como Pai: «Orar ao Pai é entrar no seu mistério, tal como Ele é, e tal como o Filho no-lo revelou:
«A expressão Deus Pai nunca tinha sido revelada a ninguém. Quando o próprio Moisés perguntou a Deus quem era, ouviu um nome diferente. A nós este nome foi revelado no Filho, porque este nome (de Filho) implica o nome de Pai [i]» [ii].

Ao ensinar o Pai Nosso, Jesus descobre também aos seus discípulos que eles foram tornados participantes da sua condição de Filho:

«Mediante a Revelação desta oração, os discípulos descobrem uma especial participação deles próprios na filiação divina, da qual São João dirá no Prólogo do seu Evangelho:

A quantos O receberam, àqueles que creem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus[iii].

Por isso, rezam, com razão, de acordo com o seu ensinamento: Pai Nosso» [iv].

Jesus Cristo distingue sempre entre «meu Pai» e «vosso Pai» [v].

De facto, quando Ele reza nunca diz «Pai Nosso».

Isto mostra que a sua relação com Deus é totalmente singular, é uma relação sua e de mais ninguém.

Com a oração do Pai-nosso, Jesus quer que os seus discípulos consciencializem a sua condição de filhos de Deus, indicando ao mesmo tempo a diferença que há entre a sua filiação natural e a nossa filiação divina adoptiva, recebida como dom gratuito de Deus.

A oração do cristão é a oração de um filho de Deus que se dirige ao seu Pai Deus com confiança filial, a qual se exprime nas «liturgias do Oriente e do Ocidente, pela bela expressão tipicamente cristã: “parrêsia”, simplicidade sem desvio, confiança filial, segurança alegre, ousadia humilde, certeza de ser amado [vi], [vii].

O vocábulo “parrêsia” indica originalmente o privilégio da liberdade da palavra do cidadão grego nas assembleias populares e foi adoptado pelos Padres da Igreja para expressar o comportamento filial do cristão diante do seu Pai Deus.


2. Filiação divina e fraternidade cristã


Ao chamar a Deus Pai Nosso, reconhecemos que a filiação divina nos une a Cristo, «primogénito entre muitos irmãos» [viii], por meio de uma verdadeira fraternidade sobrenatural.
A Igreja é esta nova comunhão de Deus com os homens [ix].

Por isso, a santidade cristã, embora sendo pessoal e individual, nunca é individualista ou egocêntrica:

«Se rezamos em verdade o “Pai-nosso”, saímos do individualismo, pois o Amor que nós acolhemos dele nos liberta.
O “nosso” do princípio da oração do Senhor, tal como o “nos” das quatro últimas petições, não é exclusivo de ninguém.
Para que seja dito em verdade [x], as nossas divisões e oposições têm de ser superadas» [xi].

A fraternidade que estabelece a filiação divina estende-se também a todos os homens, porque de certo modo todos são filhos de Deus – criaturas suas – e estão chamados à santidade:

«Na terra há apenas uma raça: a raça dos filhos de Deus» [xii].

Por isso, o cristão há-de sentir-se solidário na tarefa de conduzir toda a humanidade para Deus.


A filiação divina impulsiona-nos para o apostolado, que é uma manifestação necessária de filiação e de fraternidade:

«Tens de pensar nos outros – antes de mais, nos que estão ao teu lado – vendo neles o que na verdade são: filhos de Deus, com toda a dignidade que esse título maravilhoso lhes confere. Com os filhos de Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há-de ser abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício calado, de entrega silenciosa» [xiii].


3. O sentido da filiação divina como fundamento da vida espiritual


Quando se vive com intensidade a filiação divina, esta chega a ser «uma atitude profunda da alma, que acaba por informar toda a existência: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afectos» [xiv].

É uma realidade para ser vivida sempre, não só em circunstâncias particulares da vida:

«Não podemos ser filhos de Deus só de vez em quando, ainda que haja alguns momentos especialmente dedicados a considerá-lo, a compenetrarmo-nos desse sentido da nossa filiação divina, que é a essência da piedade» [xv].

São Josemaria ensina que o sentido ou a consciência vivida da filiação divina «é o fundamento do espírito do Opus Dei. Todos os homens são filhos de Deus, mas um filho pode reagir de muitos modos diante do seu pai. Temos de esforçar-nos por ser filhos que procuram lembrar-se de que o Senhor, querendo-nos como filhos, fez com que vivamos em sua casa no meio deste mundo; que sejamos da sua família; que o que é seu seja nosso e o nosso seu; que tenhamos com Ele a mesma familiaridade e confiança com que um menino é capaz de pedir a própria Lua!» [xvi].



A alegria cristã tem as suas raízes no sentido da filiação divina:

«A alegria é consequência necessária da filiação divina, de nos sabermos queridos com predilecção pelo nosso Pai Deus, que nos acolhe, nos ajuda e nos perdoa» [xvii].

 Na pregação de São Josemaria reflecte-se muito frequentemente que a sua alegria brotava da consideração desta realidade:

«Por motivos que não vem a propósito referir – mas que são bem conhecidos de Jesus, que aqui temos a presidir no Sacrário – a vida tem-me levado a sentir-me de um modo muito especial filho de Deus. Tenho saboreado a alegria de me meter no coração de meu Pai, para rectificar, para me purificar, para o servir, para compreender e desculpar a todos, tendo como base o seu amor e a minha humilhação (…). Ao longo dos anos, tenho procurado apoiar-me sem desfalecimento nesta feliz realidade» [xviii].

Uma das questões mais delicadas que o homem encontra quando medita sobre a filiação divina é o problema do mal.
Muitos não conseguem perceber a experiência do mal no mundo face à certeza de fé da infinita bondade divina.
No entanto, os santos ensinam que tudo o que acontece na vida humana há-de ser considerado como um bem, porque compreenderam profundamente a relação entre a filiação divina e a Santa Cruz.
É o que expressam, por exemplo, umas palavras de São Tomás Moro à sua filha mais velha, quando estava encarcerado na Torre de Londres:
«Minha filha queridíssima, nunca se perturbe a tua alma por qualquer coisa que me possa suceder neste mundo. Nada pode acontecer senão aquilo que Deus quer. E eu estou muito seguro de que, seja o que for por muito mau que pareça, será verdadeiramente o melhor» [xix].

E o mesmo ensina São Josemaria em relação a situações menos dramáticas, mas nas quais uma alma cristã pode sofrer e desconcertar-se:

«Penas? Contradições por aquele acontecimento ou outro qualquer? … Não vês que é o teu Pai-Deus que o quer…, e Ele é bom…, e Ele ama-te – a ti só! – mais que todas as mães do mundo juntas podem amar os seus filhos?» [xx].


Para São Josemaria, a filiação divina não é uma realidade adocicada, alheia ao sofrimento e à dor.
Pelo contrário, afirma que esta realidade está intrinsecamente ligada à Cruz, presente de modo inevitável em todos os que queiram seguir Cristo de perto:

«Jesus ora no horto: Pater mi [xxi]! Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura, mesmo quando me bate. Jesus sofre, para cumprir a Vontade do Pai... E eu, que também quero cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me, se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?

Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsémani; mas, prostrado por terra, reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha alma: Pater mi, Abba, Pater,... fiat!» [xxii].


Outra consequência importante do sentido da filiação divina é o abandono filial nas mãos de Deus, que não se deve tanto à luta ascética pessoal – ainda que a pressuponha – mas ao deixar-se levar por Deus, e, por isso, se fale de abandono.
Trata-se de um abandono activo, livre e consciente por parte do filho. Esta atitude deu origem a um modo concreto de viver a filiação divina – que não é o único, nem é caminho obrigatório para todos – chamado «infância espiritual»; consiste em reconhecer-se não só filho, mas filho pequeno, menino muito necessitado diante de Deus.

Assim o exprimia São Francisco de Sales:

«Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus [xxiii].
Enquanto a criança é pequenina, conserva-se com grande simplicidade; conhece apenas a sua mãe; tem um só amor, a sua mãe; uma única aspiração, o regaço da sua mãe; não deseja outra coisa senão recostar-se em tão amável descanso.
A alma perfeitamente simples só tem um amor, Deus; e neste único amor, uma só aspiração, repousar no peito do Pai celestial, e estabelecer aí o seu descanso, como filho amoroso, deixando completamente todos os cuidados para Ele, não olhando para outra coisa senão em manter-se nesta santa confiança» [xxiv].

Por seu lado, São Josemaria aconselhava também a percorrer o caminho da infância espiritual:

«Sendo crianças não tereis penas: os miúdos esquecem rapidamente os desgostos para voltar aos seus divertimentos habituais. – Por isso, com o “abandono”, não tereis de vos preocupar, pois descansareis no Pai» [xxv].


(cont)




1 João Paulo II, Alocução, 1-VII-1987, 3.
2 São Josemaria, Cristo que Passa, 13.
3 Ibidem, 36.
4 São Josemaria, Amigos de Deus, 146.
5 São Josemaria, Temas Actuais do Cristian
[i] tertuliano, De oratione, 3
[ii] Catecismo, 2779
[iii] Jo 1, 12
[iv] João Paulo II, Alocução, 1-VII-1987, 3.
[v] cf. Jo 20, 17
[vi] cf. Ef 3, 12; Heb 3, 6; 4, 16; 10, 19; 1 Jo 2, 28; 3, 21; 5, 14
[vii] Catecismo, 2778
[viii] Ef 8, 29
[ix] cf. Catecismo, 2790
[x] cf. Mt 5, 23-24; 6, 14-16
[xi] Catecismo, 2792
[xii] São Josemaria, Cristo que Passa, 13.
[xiii] Ibidem, 36.
[xiv] São Josemaria, Amigos de Deus, 146.
[xv] São Josemaria, Temas Actuais do Cristianismo, 102.
[xvi] São Josemaria, Cristo que passa, 64.
[xvii] São Josemaria, Forja, 332.
[xviii] São Josemaria, Amigos de Deus, 143.
[xix] São Tomás Moro, Um homem só. Cartas da Torre, n. 7 (Carta de Margaret a Alice, Agosto de 1534, relatando uma longa entrevista com o pai na prisão), Madrid 1988, p. 65.
[xx] São Josemaria, Forja, 929.
[xxi] Mt XXVI, 39), Abba, Pater (Mc XIV, 36
[xxii] São Josemaria, Via Sacra, I Estação, Ponto de meditação, n. 1.
[xxiii] Mt 18, 3
[xxiv] São Francisco de Sales, Conversaciones espirituales, n. 16, 7, en Obras Selectas de San Francisco de Sales, vol. I, p. 724.
[xxv] São Josemaria, Caminho, 864.

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