Tempo de Advento
Evangelho:
Mt 9, 35 10, 1. 6-8
35 Jesus ia percorrendo todas as cidades e
aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando toda
a doença e toda a enfermidade.
1 Tendo convocado os Seus doze
discípulos, Jesus deu-lhes poder de expulsar os espíritos imundos e de curar
toda a doença e toda a enfermidade.
6 ide antes às ovelhas perdidas da casa
de Israel. 7 Ide, e anunciai que está próximo o Reino dos Céus. 8
«Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, lançai fora os
demónios. Dai de graça o que de graça recebestes.
Comentário:
No apostolado devemos começar pelos que mais precisam e que obviamente
são os que mais afastados estão de Deus.
Escolha nossa?
Não!
Correríamos o risco de elaborar uma lista interminável.
O director espiritual aconselhar-nos-á quem e como fazer, definir as
prioridades.
Assim, estaremos certos de fazer o que melhor convém para cumprir o
mandato do Senhor.
(ama, comentário sobre Mt 9, 35; 10, 1, 6-8,
2014.12.06)
Leitura espiritual
Resumos da Fé cristã
TEMA 40
Pai Nosso, que estais nos
céus
Com
o Pai Nosso, Jesus Cristo ensina-nos a dirigirmo-nos a Deus como Pai. É a
oração filial por excelência.
1. Jesus ensina-nos a
dirigirmo-nos a Deus como Pai
Com
o Pai Nosso, Jesus Cristo ensina-nos a dirigirmo-nos a Deus como Pai: «Orar ao
Pai é entrar no seu mistério, tal como Ele é, e tal como o Filho no-lo revelou:
«A
expressão Deus Pai nunca tinha sido revelada a ninguém. Quando o próprio Moisés
perguntou a Deus quem era, ouviu um nome diferente. A nós este nome foi
revelado no Filho, porque este nome (de Filho) implica o nome de Pai [i]»
[ii].
Ao
ensinar o Pai Nosso, Jesus descobre também aos seus discípulos que eles foram
tornados participantes da sua condição de Filho:
«Mediante
a Revelação desta oração, os discípulos descobrem uma especial participação
deles próprios na filiação divina, da qual São João dirá no Prólogo do seu
Evangelho:
“A quantos O receberam, àqueles que creem no
seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus” [iii].
Por
isso, rezam, com razão, de acordo com o seu ensinamento: Pai Nosso» [iv].
Jesus
Cristo distingue sempre entre «meu Pai»
e «vosso Pai» [v].
De
facto, quando Ele reza nunca diz «Pai
Nosso».
Isto
mostra que a sua relação com Deus é totalmente singular, é uma relação sua e de
mais ninguém.
Com
a oração do Pai-nosso, Jesus quer que os seus discípulos consciencializem a sua
condição de filhos de Deus, indicando ao mesmo tempo a diferença que há entre a
sua filiação natural e a nossa filiação divina adoptiva, recebida como dom
gratuito de Deus.
A
oração do cristão é a oração de um filho de Deus que se dirige ao seu Pai Deus
com confiança filial, a qual se exprime nas «liturgias do Oriente e do
Ocidente, pela bela expressão tipicamente cristã: “parrêsia”, simplicidade sem
desvio, confiança filial, segurança alegre, ousadia humilde, certeza de ser
amado [vi], [vii].
O
vocábulo “parrêsia” indica originalmente o privilégio da liberdade da palavra
do cidadão grego nas assembleias populares e foi adoptado pelos Padres da
Igreja para expressar o comportamento filial do cristão diante do seu Pai Deus.
2. Filiação divina e
fraternidade cristã
Ao
chamar a Deus Pai Nosso, reconhecemos que a filiação divina nos une a Cristo,
«primogénito entre muitos irmãos» [viii],
por meio de uma verdadeira fraternidade sobrenatural.
A
Igreja é esta nova comunhão de Deus com os homens [ix].
Por
isso, a santidade cristã, embora sendo pessoal e individual, nunca é individualista
ou egocêntrica:
«Se
rezamos em verdade o “Pai-nosso”, saímos do individualismo, pois o Amor que nós
acolhemos dele nos liberta.
O
“nosso” do princípio da oração do Senhor, tal como o “nos” das quatro últimas
petições, não é exclusivo de ninguém.
A
fraternidade que estabelece a filiação divina estende-se também a todos os
homens, porque de certo modo todos são filhos de Deus – criaturas suas – e
estão chamados à santidade:
«Na terra há apenas uma raça: a raça dos
filhos de Deus» [xii].
Por
isso, o cristão há-de sentir-se solidário na tarefa de conduzir toda a
humanidade para Deus.
A
filiação divina impulsiona-nos para o apostolado, que é uma manifestação
necessária de filiação e de fraternidade:
«Tens de pensar nos outros – antes de mais,
nos que estão ao teu lado – vendo neles o que na verdade são: filhos de Deus,
com toda a dignidade que esse título maravilhoso lhes confere. Com os filhos de
Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há-de ser
abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício
calado, de entrega silenciosa» [xiii].
3. O sentido da filiação
divina como fundamento da vida espiritual
Quando
se vive com intensidade a filiação divina, esta chega a ser «uma atitude profunda da alma, que acaba por
informar toda a existência: está presente em todos os pensamentos, em todos os
desejos, em todos os afectos» [xiv].
É
uma realidade para ser vivida sempre, não só em circunstâncias particulares da
vida:
«Não podemos ser filhos de Deus só de vez em quando,
ainda que haja alguns momentos especialmente dedicados a considerá-lo, a
compenetrarmo-nos desse sentido da nossa filiação divina, que é a essência da
piedade» [xv].
São
Josemaria ensina que o sentido ou a consciência vivida da filiação divina «é o
fundamento do espírito do Opus Dei. Todos os homens são filhos de Deus, mas um
filho pode reagir de muitos modos diante do seu pai. Temos de esforçar-nos por
ser filhos que procuram lembrar-se de que o Senhor, querendo-nos como filhos,
fez com que vivamos em sua casa no meio deste mundo; que sejamos da sua
família; que o que é seu seja nosso e o nosso seu; que tenhamos com Ele a mesma
familiaridade e confiança com que um menino é capaz de pedir a própria Lua!» [xvi].
A
alegria cristã tem as suas raízes no sentido da filiação divina:
«A alegria é consequência necessária da
filiação divina, de nos sabermos queridos com predilecção pelo nosso Pai Deus,
que nos acolhe, nos ajuda e nos perdoa» [xvii].
Na pregação de São Josemaria reflecte-se muito
frequentemente que a sua alegria brotava da consideração desta realidade:
«Por motivos que não vem a propósito referir
– mas que são bem conhecidos de Jesus, que aqui temos a presidir no Sacrário –
a vida tem-me levado a sentir-me de um modo muito especial filho de Deus. Tenho
saboreado a alegria de me meter no coração de meu Pai, para rectificar, para me
purificar, para o servir, para compreender e desculpar a todos, tendo como base
o seu amor e a minha humilhação (…). Ao longo dos anos, tenho procurado
apoiar-me sem desfalecimento nesta feliz realidade» [xviii].
Uma
das questões mais delicadas que o homem encontra quando medita sobre a filiação
divina é o problema do mal.
Muitos
não conseguem perceber a experiência do mal no mundo face à certeza de fé da
infinita bondade divina.
No
entanto, os santos ensinam que tudo o que acontece na vida humana há-de ser
considerado como um bem, porque compreenderam profundamente a relação entre a
filiação divina e a Santa Cruz.
É
o que expressam, por exemplo, umas palavras de São Tomás Moro à sua filha mais
velha, quando estava encarcerado na Torre de Londres:
«Minha filha queridíssima, nunca se perturbe
a tua alma por qualquer coisa que me possa suceder neste mundo. Nada pode
acontecer senão aquilo que Deus quer. E eu estou muito seguro de que, seja o
que for por muito mau que pareça, será verdadeiramente o melhor» [xix].
E
o mesmo ensina São Josemaria em relação a situações menos dramáticas, mas nas
quais uma alma cristã pode sofrer e desconcertar-se:
«Penas? Contradições por aquele acontecimento
ou outro qualquer? … Não vês que é o teu Pai-Deus que o quer…, e Ele é bom…, e
Ele ama-te – a ti só! – mais que todas as mães do mundo juntas podem amar os
seus filhos?» [xx].
Para
São Josemaria, a filiação divina não é uma realidade adocicada, alheia ao
sofrimento e à dor.
Pelo
contrário, afirma que esta realidade está intrinsecamente ligada à Cruz,
presente de modo inevitável em todos os que queiram seguir Cristo de perto:
«Jesus ora no horto: Pater mi [xxi]!
Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura, mesmo quando
me bate. Jesus sofre, para cumprir a Vontade do Pai... E eu, que também quero
cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei
queixar-me, se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?
Constituirá um sinal certo
da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como
Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsémani; mas, prostrado por terra,
reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha
alma: Pater mi, Abba, Pater,... fiat!» [xxii].
Outra
consequência importante do sentido da filiação divina é o abandono filial nas
mãos de Deus, que não se deve tanto à luta ascética pessoal – ainda que a
pressuponha – mas ao deixar-se levar por Deus, e, por isso, se fale de
abandono.
Trata-se
de um abandono activo, livre e consciente por parte do filho. Esta atitude deu
origem a um modo concreto de viver a filiação divina – que não é o único, nem é
caminho obrigatório para todos – chamado «infância espiritual»; consiste em
reconhecer-se não só filho, mas filho pequeno, menino muito necessitado diante
de Deus.
Assim
o exprimia São Francisco de Sales:
«Se não vos tornardes como crianças, não
entrareis no reino dos céus [xxiii].
Enquanto a criança é pequenina,
conserva-se com grande simplicidade; conhece apenas a sua mãe; tem um só amor,
a sua mãe; uma única aspiração, o regaço da sua mãe; não deseja outra coisa
senão recostar-se em tão amável descanso.
A alma perfeitamente
simples só tem um amor, Deus; e neste único amor, uma só aspiração, repousar no
peito do Pai celestial, e estabelecer aí o seu descanso, como filho amoroso,
deixando completamente todos os cuidados para Ele, não olhando para outra coisa
senão em manter-se nesta santa confiança» [xxiv].
Por
seu lado, São Josemaria aconselhava também a percorrer o caminho da infância
espiritual:
«Sendo
crianças não tereis penas: os miúdos esquecem rapidamente os desgostos para
voltar aos seus divertimentos habituais. – Por isso, com o “abandono”, não tereis
de vos preocupar, pois descansareis no Pai» [xxv].
(cont)
2 São Josemaria, Cristo que Passa, 13.
3 Ibidem, 36.
4 São Josemaria, Amigos de Deus, 146.
5 São Josemaria, Temas Actuais do
Cristian
[i] tertuliano, De oratione, 3
[ii] Catecismo, 2779
[iii] Jo 1, 12
[iv] João
Paulo II, Alocução, 1-VII-1987, 3.
[v] cf. Jo 20, 17
[vi] cf. Ef 3, 12; Heb 3,
6; 4, 16; 10, 19; 1 Jo 2, 28; 3, 21; 5, 14
[vii] Catecismo, 2778
[viii] Ef 8, 29
[ix] cf. Catecismo, 2790
[x] cf. Mt 5, 23-24; 6,
14-16
[xi] Catecismo, 2792
[xii] São Josemaria, Cristo que Passa, 13.
[xiii] Ibidem,
36.
[xiv] São
Josemaria, Amigos de Deus, 146.
[xv] São Josemaria, Temas Actuais do Cristianismo, 102.
[xvi] São
Josemaria, Cristo que passa, 64.
[xvii] São
Josemaria, Forja, 332.
[xviii] São
Josemaria, Amigos de Deus, 143.
[xix] São
Tomás Moro, Um homem só. Cartas da Torre, n. 7 (Carta de Margaret a Alice,
Agosto de 1534, relatando uma longa entrevista com o pai na prisão), Madrid
1988, p. 65.
[xx] São
Josemaria, Forja, 929.
[xxi] Mt XXVI, 39), Abba,
Pater (Mc XIV, 36
[xxii] São
Josemaria, Via Sacra, I Estação, Ponto de meditação, n. 1.
[xxiii] Mt 18, 3
[xxiv] São
Francisco de Sales, Conversaciones espirituales, n. 16, 7, en Obras Selectas de
San Francisco de Sales, vol. I, p. 724.
[xxv] São
Josemaria, Caminho, 864.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.