Tempo de Advento
São João da Cruz – Doutor da Igreja
Evangelho:
Mt 21, 23-27
23
Tendo ido ao templo, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo
aproximaram-se d'Ele, quando estava a ensinar, e disseram-Lhe: «Com que
autoridade fazes estas coisas? E quem Te deu tal direito?». 24 Jesus
respondeu-lhes: «Também Eu vos farei uma pergunta; se Me responderdes, Eu vos
direi com que direito faço estas coisas. 25 Donde era o baptismo de
João? Do céu ou dos homens?». Mas eles reflectiam consigo: 26 «Se
Lhe dissermos que é do céu, Ele dirá: “Então porque não crestes nele?”. Se Lhe
dissermos que é dos homens, tememos o povo»; porque todos tinham João como um
profeta. 27 Portanto, responderam a Jesus: «Não sabemos». Ele
disse-lhes também: «Pois então nem Eu vos digo com que autoridade faço estas
coisas».
Comentário:
Ensinar é um
privilégio de quem tem sabedoria e ninguém pode outorgar-se esse exclusivo além
de que nunca se sabe o suficiente para ensinar tudo.
O mestre é
antes de mais aquele que tendo pessoalmente comprovado o que aprendeu sabe que
é certo e correcto o que ensina e age com humildade de quem transmite a outros
o que recebeu.
(ama,
comentário sobre Mt 21 23-27, 2014.12.15)
Leitura espiritual
Santificação do trabalho quotidiano
O
que é "Santificar o trabalho"?
Dizia
São Josemaria que o espírito do Opus Dei recolhe a realidade formosíssima de
que qualquer tarefa digna e humanamente nobre, pode converter-se num trabalho
divino.
"Homens
e mulheres que trabalham apenas com horizontes terrenos, de duas dimensões,
entusiasmam-se ao saber que o seu trabalho profissional pode adquirir uma
dimensão transcendente". A vida de muitas pessoas deu uma volta ao
conhecerem esta doutrina e, por vezes, por ouvirem falar de santificação do trabalho.
Homens e mulheres que trabalham só com horizontes terrenos, de duas dimensões,
entusiasmam-se ao saber que o seu trabalho profissional pode adquirir uma
dimensão transcendente, com relevo de vida eterna. Como não pensar no gozo
daquele personagem do Evangelho que ao encontrar um tesouro escondido num
campo, foi e vendeu tudo o que tinha para comprar aquele campo? 1
O
Espírito Santo fez descobrir a São Josemaria este tesouro na doutrina do
Evangelho, especialmente nos longos anos da vida de Jesus em Nazaré, anos de
sombra, mas para nós claros como a luz do sol 2, porque esses anos
ocultos do Senhor não são algo sem significado, nem uma simples preparação dos
anos que viriam depois, os da Sua vida pública. Desde 1928 compreendi
claramente que Deus deseja que os cristãos tomem exemplo de toda a vida do
Senhor. Entendi especialmente a Sua vida escondida, a Sua vida de trabalho
corrente no meio dos homens 3.
"O
trabalho é ocasião de desenvolvimento da própria personalidade, vínculo de
união com os outros seres".
Graças
à luz de Deus, o Fundador do Opus Dei ensinou constantemente que o trabalho
profissional é realidade santificável e santificadora. Verdade simples e
grandiosa que o Magistério da Igreja ensinou sobretudo a partir do Concilio
Vaticano II 4 e recolheu depois no Catecismo, assinalando que «o trabalho pode
ser um meio de santificação e de animação das realidades terrenas no Espírito
de Cristo» 5.
«Com
sobrenatural intuição» – afirmou João Paulo II – «o Beato Josemaria pregou
incansavelmente a chamada universal à santidade e ao apostolado. Cristo convoca
todos a santificarem-se na realidade da vida quotidiana; por isso, o trabalho é
também meio de santificação pessoal e de apostolado quando se vive em união com
Jesus Cristo» 6.
O
nosso Fundador foi instrumento querido por Deus para difundir esta doutrina
abrindo perspectivas imensas à santidade pessoal de uma multidão de cristãos e
para a santificação da sociedade humana a partir de dentro, ou seja, a partir
da própria malha das relações profissionais que a configuram.
"O
trabalho acompanha inevitavelmente a vida do homem sobre a terra".
Esta
semente dará os frutos que o Senhor espera, se nós pusermos o empenho
necessário para a meditar na presença de Deus, a pusermos em prática com a Sua
ajuda, porque a santificação do trabalho não é só una ideia que basta explicar
para que se aprenda; é um ideal que se procura e se conquista por amor a Deus,
conduzidos pela Sua graça.
SENTIDO DO TRABALHO
Logo
no início da Sagrada Escritura, no livro do Génesis, se nos revela o sentido do
trabalho. Deus, que fez boas todas as coisas, «quis livremente criar um mundo
"em estado de caminho" para a perfeição última» 7, e criou
o homem ut operaretur 8,
para que com o seu trabalho «prolongasse de certo modo a obra criadora e
alcançasse a sua própria perfeição» 9.
Como
consequência do pecado, o trabalho é acompanhado de fadiga e muitas vezes de
dor 10.
Mas
ao assumir a nossa natureza para nos salvar, Jesus Cristo Nosso Senhor
transformou a fadiga e a dor em meios para manifestar o amor e a obediência à
Vontade divina e reparar a desobediência do pecado.
Assim
viveu Jesus durante seis lustros: era fabri
filius [i],
o filho do carpinteiro. (...)
Era
o faber, filius Mariae [ii],
o carpinteiro, filho de Maria. E era Deus e estava a realizar a redenção do
género humano, e estava a atrair a Si todas as coisas [iii],
11.
Para
um cristão "o trabalho aparece como participação na obra criadora de
Deus".
Juntamente
com esta realidade do trabalho de Jesus Cristo, que nos mostra a plenitude do
seu sentido, temos de considerar que, por graça sobrenatural, fomos feitos
filhos de Deus formando uma só coisa com Jesus Cristo, um só corpo.
A
Sua Vida sobrenatural é vida nossa e fez-nos participantes do Seu sacerdócio
para que sejamos co-redentores com Ele.
Esta
profunda união do cristão com Cristo ilumina o sentido de todas as nossas
actividades e, em particular, o trabalho.
Nos
ensinamentos de São Josemaria, o fundamento da santificação do trabalho, é o
sentido da filiação divina, a consciência de que Cristo quer encarnar nos
nossos afazer 12.
Toda
esta visão cristã do sentido do trabalho, se compendia nas palavras seguintes:
O
trabalho acompanha necessariamente a vida do homem sobre a terra. Com ele
nascem o esforço, a fadiga, o cansaço, as manifestações de dor e de luta que
fazem parte da nossa existência humana actual e que são sinais da realidade do
pecado e da necessidade da redenção.
Mas
o trabalho, em si mesmo, não é uma pena nem uma maldição ou castigo: os que
assim falam não leram bem a Sagrada Escritura.
(...)
O trabalho, todo o trabalho, é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio
sobre a criação.
É
um meio de desenvolvimento da personalidade.
É
um vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para sustentar a
família; meio de contribuir para o melhoramento da sociedade em que se vive e
para o progresso de toda a Humanidade.
"O
trabalho santifica-se de facto quando se realiza por amor a Deus".
Para um cristão, essas perspectivas alargam-se
e ampliam-se, porque o trabalho aparece como participação na obra criadora de
Deus que, ao criar o homem, o abençoou dizendo-lhe:
Procriai
e multiplicai-vos e enchei a terra e subjugai-a, e dominai sobre todo o animal
que se mova à superfície da terra.
Além
disso, ao ser assumido por Cristo, o trabalho apresenta-se-nos como uma
realidade redimida e redentora: é, não só o âmbito em que o homem vive, mas
também meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora. 13.
SANTIFICAR A ACTIVIDADE DE
TRABALHAR
Uma
expressão de São Josemaria, que saía com frequência dos seus lábios e da sua
caneta, introduz-nos no esplêndido panorama da santidade e do apostolado no
exercício de um trabalho profissional: para a grande maioria dos homens, ser
santo supõe santificar o próprio trabalho, santificar-se no seu trabalho, e
santificar os outros com o trabalho 14.
São
três aspectos de uma mesma realidade, inseparáveis e ordenados entre si.
Primeiro
santificar – fazer santo – o trabalho, a actividade de trabalhar 15.
Santificar
o trabalho é tornar santa essa actividade, fazer santo o acto da pessoa que
trabalha.
Disto
dependem os outros dois aspectos, porque o trabalho santificado é também
santificador; santifica-nos a nós próprios e é meio para a santificação dos
outros e para empapar a sociedade com o espírito cristão.
Convém,
portanto, que nos detenhamos a considerar o primeiro ponto; o que significa
tornar santo o trabalho profissional.
"É
imprescindível procurar de um ou de outro modo a presença de Deus".
Um acto nosso é santo quando é um acto de amor
a Deus e aos outros por Deus, um acto de amor sobrenatural – de caridade – o
que pressupõe, nesta terra, a fé e a esperança.
Um
acto assim é santo porque a caridade é participação da infinita Caridade, que é
o Espírito Santo 16, o Amor subsistente do Pai e do Filho, de modo
que um acto de caridade é um tomar parte na Vida sobrenatural da Santíssima
Trindade, um tomar parte na santidade de Deus.
No
caso do trabalho profissional, há que ter em conta que a actividade de
trabalhar tem por objecto as realidades deste mundo – cultivar um campo,
investigar uma ciência, proporcionar serviços, etc. – e que, para ser humanamente
boa e santificável, há-de ser exercício das virtudes humanas.
Mas
isto não basta para que seja santa.
O
trabalho santifica-se de facto quando se realiza por amor a Deus, para Lhe dar
glória – e, consequentemente, como Deus quer, cumprindo a Sua Vontade,
praticando as virtudes cristãs informadas pela caridade – para o oferecer a
Deus em união com Cristo, já que «por Ele, com Ele e n’Ele, a Ti, Deus Pai
todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória» 17.
Dá
um motivo sobrenatural à tua actividade profissional de cada dia e terás
santificado o trabalho 18.
Com
estas breves palavras o fundador do Opus Dei mostra a chave da santificação do
trabalho.
A
actividade humana de trabalhar santifica-se quando se leva a cabo por um motivo
sobrenatural.
O
decisivo não é, portanto, que saia bem, mas que trabalhemos por amor a Deus, já
que é isto o que Ele procura em nós: Deus olha o coração 19.
O
decisivo é o motivo sobrenatural, a finalidade última, a rectidão de intenção
da vontade, o realizar o trabalho por amor a Deus e para servir os outros por
Deus.
Eleva-se
assim o trabalho à ordem da graça, santifica-se, converte-se em obra de Deus, operatio Dei, opus Dei. 20.
"O
decisivo não é, portanto, que saia bem, mas que trabalhemos por amor a Deus.
Deus olha o coração".
(cont)
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