Tempo de Advento
Evangelho:
Mt 11, 16-19
16 «A quem hei-de Eu
comparar esta geração? É semelhante às crianças que estão sentados na praça, e
que gritam aos seus companheiros, 17 dizendo: Tocámos flauta e não
bailastes; entoámos lamentações e não chorastes; 18 veio João, que
não comia nem bebia, e dizem: “Ele tem demónio”. 19 Veio o Filho do
Homem, que come e bebe, e dizem: “Eis um glutão e um bebedor de vinho, um amigo
dos publicanos e pecadores”. Mas a sabedoria divina foi justificada por suas
obras».
Comentário:
Este tempo que vivemos – agora! – é o único que temos e
teremos para merecer.
No primeiro momento depois da nossa morte já não haverá
lugar a mais merecimento e seremos julgados conforme nos apresentarmos perante
o Senhor e, não, por aquilo que, em tempos, possamos ter feito de mal ou bem.
E, das duas uma: ou merecemos a vida eterna na
contemplação da Sua Face ou seremos condenados para sempre.
Sim!
É verdade, poderá haver méritos que serão considerados
pela Justiça Divina e que poderão, de alguma forma, conciliar a Sua Suprema
Decisão e enviar a nossa alma para o Purgatório até que considere remida toda a
culpa e apagada toda a mancha.
Mas… porquê arriscar?
(ama,
comentário sobre Mt 11, 16-19, 2012.10.16)
Leitura espiritual
Resumos da Fé cristã
TEMA
37
O
oitavo mandamento do Decálogo
Com a graça de Cristo, o cristão pode
fazer que a sua vida seja dirigida pela verdade.
«O oitavo mandamento proíbe falsificar
a verdade nas relações com outrem.
Esta prescrição moral decorre da
vocação do povo santo para ser testemunha do seu Deus, que é e que quer a
verdade.
As ofensas à verdade exprimem, por
palavras ou por actos, a recusa em empenhar-se na rectidão moral» [i].
1.
Viver a verdade
«Em virtude da sua dignidade, todos os
homens, porque pessoas, (...) são impelidos pela sua própria natureza e
obrigados por exigência moral a procurar a verdade, em primeiro lugar aquela
que diz respeito à religião.
São obrigados também a aderir à
verdade desde que a conheçam e a regular toda a sua vida segundo as exigências
da verdade» [ii].
A inclinação do homem por conhecer a
verdade e manifestá-la por palavras e obras tem-se retorcido por causa do
pecado, que feriu a natureza com a ignorância do intelecto e a malícia da vontade.
Como consequência do pecado, diminuiu
o amor à verdade e os homens enganam-se uns aos outros, muitas vezes por
egoísmo e pelo próprio interesse.
Com a graça de Cristo, o cristão pode
fazer que a sua vida seja orientada pela verdade.
A virtude que inclina a dizer sempre a
verdade chama-se veracidade, sinceridade ou franqueza [iii].
Três aspectos fundamentais desta
virtude:
- Sinceridade consigo mesmo:
É reconhecer a verdade sobre a sua
conduta externa e interna: intenções, pensamentos, afectos, etc.;
Sem medo de esgotar a verdade;
Sem fechar os olhos à realidade [iv];
- Sinceridade com os outros:
a convivência humana seria impossível
se os homens não tivessem reciprocamente confiança, quer dizer, se não
dissessem a verdade uns aos outros ou não se comportassem adequadamente, por
exemplo, respeitando os contratos ou, em geral, os acordos, a palavra dada [v];
- Sinceridade com Deus:
Deus vê tudo, mas como somos seus
filhos quer que Lho manifestemos.
«Um filho de Deus trata o Senhor como
Pai. Não servilmente, nem com uma reverência formal, de mera cortesia, mas
cheio de sinceridade e de confiança.
Deus não se escandaliza com os homens.
Deus não Se cansa das nossas
infidelidades.
O nosso Pai do Céu perdoa qualquer
ofensa quando o filho volta de novo até Ele, quando se arrepende e pede perdão.
Nosso Senhor é tão verdadeiramente
pai, que prevê os nossos desejos de sermos perdoados e se adianta com a sua
graça, abrindo-nos amorosamente os braços» [vi].
A sinceridade no sacramento da
Confissão e na direcção espiritual são meios de extraordinária eficácia para
crescer na vida interior:
na simplicidade, na humildade e nas
outras virtudes [vii].
2.
Verdade e caridade
A Sagrada Escritura ensina que é
preciso dizer a verdade com caridade [x].
A sinceridade, tal como as outras
virtudes, deve viver-se por amor e com amor (a Deus e aos homens): com
delicadeza e compreensão.
A correcção fraterna:
É a prática evangélica [xi] que
consiste em fazer notar a outro uma falta cometida ou um defeito para que se
corrija.
É uma grande manifestação de amor à
verdade e de caridade.
Em certas ocasiões pode ser um dever
grave.
A simplicidade na relação com os
outros.
Há simplicidade quando a intenção se
manifesta com naturalidade na conduta.
A simplicidade surge do amor à verdade
e do desejo de que esta se reflicta fielmente nos próprios actos com
naturalidade, sem afectação: isto é o que também se conhece por sinceridade de
vida.
Como as outras virtudes morais, a
simplicidade e a sinceridade hão-de ser dirigidas pela prudência para que sejam
verdadeiras virtudes.
Sinceridade e humildade.
A sinceridade é caminho para crescer
em humildade [xii].
A soberba, que tão facilmente vê as faltas
alheias – exagerando-as ou mesmo inventando-as –, não se dá conta das próprias
faltas.
O amor desordenado da excelência
pessoal procura sempre impedir que nos vejamos tal como somos, com todas as
nossas misérias.
3.
Dar testemunho da verdade
«O testemunho é um acto de justiça que
estabelece ou que dá a conhecer a verdade» [xiii].
Os cristãos têm o dever de dar
testemunho da Verdade que é Cristo. Portanto, devem ser testemunhas do
Evangelho, com claridade e coerência, sem esconder a fé.
O contrário – a simulação – seria
envergonhar-se de Cristo, que disse: «aquele
que me negar diante dos homens, também o hei-de negar diante do meu Pai que
está no Céu» [xiv].
«O martírio é o supremo testemunho
dado em favor da verdade da fé; designa um testemunho que vai até à morte.
O mártir dá testemunho de Cristo,
morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade» [xv].
Perante a alternativa entre negar a fé
(com palavras ou obras) ou perder a vida terrena, o cristão deve estar disposto
a dar a vida: «Que aproveita ao homem
ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?» [xvi].
Cristo foi condenado à morte por dar
testemunho da verdade [xvii].
Multidões de cristãos têm sido
mártires por se manterem fiéis a Cristo, e o «sangue (desses) mártires
transformou-se em semente de novos cristãos» [xviii].
«Se o martírio representa o ápice do
testemunho a favor da verdade moral, ao qual relativamente poucos podem ser
chamados, há, contudo, um testemunho coerente que todos os cristãos devem estar
prontos a dar cada dia, mesmo à custa de sofrimentos e de graves sacrifícios.
De facto, diante das múltiplas
dificuldades que, mesmo nas circunstâncias mais comuns, pode exigir a
fidelidade à ordem moral, o cristão é chamado, com a graça de Deus implorada na
oração, a um compromisso por vezes heróico, amparado pela virtude da fortaleza,
mediante a qual — como ensina S. Gregório Magno — ele até consegue “amar as dificuldades deste mundo, em vista
do prémio eterno” [xix]» [xx].
4.
As ofensas à verdade
«”A
mentira consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar” [xxi].
O Senhor denuncia na mentira uma obra
diabólica: “Vós tendes por pai o diabo,
(...) nele não há verdade; quando fala mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira” [xxii]» [xxiii].
«A gravidade da mentira mede-se pela
natureza da verdade que ela deforma, atendendo às circunstâncias, às intenções
de quem a comete e aos danos causados àqueles que são suas vítimas» [xxiv].
Pode ser matéria de pecado mortal:
«Torna-se
mortal quando lesa gravemente as virtudes da justiça e da caridade» [xxv].
Falar com ligeireza ou loquacidade [xxvi], pode
conduzir facilmente à mentira (apreciações inexactas ou injustas, exageros, às
vezes calúnias).
«Falso testemunho e perjúrio.
Uma afirmação contrária à verdade
feita publicamente reveste-se de gravidade particular: perante um tribunal, é
um falso testemunho; quando mantida sob juramento, é um perjúrio» [xxvii].
Há obrigação de reparar o dano.
«O respeito pela reputação das pessoas
proíbe toda e qualquer atitude ou palavra susceptíveis de lhes causar um dano
injusto» [xxviii].
O direito à honra e à boa fama – tanto
próprio como alheio – é um bem mais precioso do que as riquezas e de grande
importância para a vida pessoal, familiar e social.
Pecados
contra a boa fama do próximo são os seguintes:
- O juízo temerário:
Acontece quando se admite como
verdadeiro, sem prova suficiente, um defeito moral do próximo (por exemplo,
julgar que alguém tenha actuado com má intenção, sem que assim tenha sido).
- A difamação:
É qualquer atentado injusto contra a
fama do próximo.
Pode ser de dois tipos:
A detracção ou maledicência (“dizer
mal”), que consiste em revelar pecados ou defeitos realmente existentes do
próximo, sem uma razão proporcionalmente grave (chama-se murmuração quando se
realiza nas costas do acusado);
E a calúnia, que consiste em atribuir
ao próximo pecados ou defeitos falsos.
A calúnia encerra uma dupla malícia:
contra a veracidade e contra a justiça (tanto mais grave, quanto maior seja a
calúnia e quanto mais se difunda).
Actualmente, estas ofensas à verdade
ou à boa fama são muito frequentes nos meios de comunicação social.
Por este motivo, é necessário
exercitar um são espírito crítico ao receber as notícias e comentários dos
jornais, revistas, televisão, etc.
Uma atitude ingénua ou crédula leva à
formação de juízos falsos [xxxi].
Sempre que se difame alguém (quer seja
com a detracção ou com a calunia), existe a obrigação de utilizar todos os
meios possíveis para devolver ao próximo a boa fama que injustamente o lesou.
É preciso evitar a cooperação nestes
pecados.
Coopera na difamação, embora em grau
diferente, aquele que ouve com gosto o difamador e se delicia com o que ele
diz;
O superior que não impede a murmuração
sobre o súbdito;
E qualquer um que – embora
desagradando-lhe o pecado de detracção –, por temor, negligência ou vergonha,
não corrige ou rejeita o difamador ou caluniador;
E o que propaga com ligeireza
insinuações de outras pessoas contra a fama de um terceiro [xxxii].
Atenta também contra a verdade «toda a
palavra ou atitude que, por lisonja, adulação ou complacência, estimula e
confirma outrem na malícia dos seus actos e na perversidade da sua conduta.
A adulação é uma falta grave, se se
tornar cúmplice de vícios ou de pecados graves.
Nem o desejo de prestar um serviço nem
a amizade justificam a duplicidade de linguagem.
A adulação é um pecado venial quando
apenas se deseja ser agradável, evitar um mal, valer a uma necessidade ou obter
vantagens legítimas» [xxxiii].
5.
O respeito da intimidade
«O bem e a segurança de outrem, o
respeito pela vida privada e pelo bem comum, são razões suficientes para calar
o que não deve ser conhecido ou para usar uma linguagem discreta.
Muitas vezes, o dever de evitar o
escândalo impõe uma estrita discrição.
Ninguém é obrigado a revelar a verdade
a quem não tem o direito de a conhecer» [xxxiv].
O direito à comunicação da verdade não
é absoluto» [xxxv].
«O sigilo do sacramento da
Reconciliação é sagrado e não pode ser revelado sob pretexto algum.
«O
sigilo sacramental é inviolável; pelo que o confessor não pode denunciar o
penitente, nem por palavras nem por qualquer outro modo, nem por causa alguma»
[xxxvi]» [xxxvii].
Devem guardar-se os segredos
profissionais e, geralmente, qualquer segredo natural.
Revelar esses segredos representa uma
falta de respeito pela intimidade das pessoas e pode constituir um pecado
contra a justiça.
Deve guardar-se a justa reserva a
respeito da vida privada das pessoas.
A ingerência na vida privada das
pessoas comprometidas em alguma actividade política ou pública para a divulgar
nos meios de comunicação social é condenável na medida em que vai contra a sua
intimidade e liberdade [xxxviii].
Os meios de comunicação social
influenciam decisivamente a opinião pública.
São um importantíssimo campo de
apostolado para a defesa da verdade e a cristianização da sociedade.
juan ramón
areitio
Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica,
2464-2499.
Leituras recomendadas:
S. Josemaria, Homilia «O Respeito
Cristão pela pessoa e pela sua liberdade», em Cristo que Passa, 67-72.
T. Trigo, «El bien de la verdad», em
A. Sarmiento, T. Trigo, E. Molina, Moral de la persona, Eunsa, Pamplona 2006,
Quinta Parte, pp. 302-391.
[i] Catecismo, 2464
[ii] Concílio
Vaticano II, Decl. Dignitatis Humanae,
2. Cf. Catecismo, 2467.
[iii] cf. Catecismo, 2468
[iv] Cf.
S. Josemaria, Caminho, 33 e 34; Sulco, 148: «sinceridade selvagem» no exame de
consciência.
[v] cf. Catecismo, 2469
[vi] S.
Josemaria, Cristo que Passa, 64.
[vii] Cf.
S. Josemaria, Forja, 126-128.
[viii] cf. Jo 14,6
[ix] «Sinceridade
com Deus, com o director, com os teus irmãos, os homens. Assim, estou certo da
tua perseverança» (S. Josemaria, Sulco, 325)
[x] Ef 4, 15
[xi] cf. Mt 18,15
[xiii] Catecismo, 2472
[xiv] Mt 10,33
[xv] Catecismo, 2473
[xvi] Mc 8,36
[xvii] cf. Mt 26,63-66
[xviii] «Martyrum sanguis est semen christianorum»
(Tertuliano, Apologeticus, 50. Cf. S.
Justino, Dialogus cum Tryphone, 110:
PG 6,729).
[xix] Moralia in Job ,
7,21,24
[xx] João
Paulo II, Enc. Veritatis Splendor,
6-VIII-93, 93. Cf, S. Josemaria, Caminho, 204.
[xxi] Santo Agostinho, De Mendacio, 4, 5
[xxii] Jo 8, 44
[xxiii] Catecismo, 2482
[xxiv] Catecismo, 2484
[xxv] Ibidem
[xxvi] cf. Mt 12,36
[xxvii] Catecismo, 2476
[xxviii] Catecismo, 2477
[xxix] Lc 6,37
[xxx] cf. Catecismo, 2477
[xxxi] «Os
meios de comunicação social (em particular os mass-media) podem gerar uma certa
passividade nos utentes, fazendo deles consumidores pouco cautelosos de
mensagens e espectáculos. Os utentes devem impor a si próprios moderação e
disciplina em relação aos mass-media. Hão-de formar-se uma consciência
esclarecida e recta, para resistir mais facilmente às influências menos
honestas» (Catecismo, 2496).
[xxxii] Cf.
S. Josemaria, Caminho, 49. A murmuração é particularmente um inimigo nefasto da
unidade no apostolado: «é crosta que suja e entorpece o apostolado. - Vai
contra a caridade, tira forças, rouba a paz, e faz perder a união com Deus»
Ibidem, 445. Cf. ibidem, 453).
[xxxiii] Catecismo, 2480
[xxxiv] Catecismo, 2489
[xxxv] Catecismo, 2488
[xxxvi] CDC, 983, §1
[xxxvii] Catecismo, 2490
[xxxviii] cf. Catecismo, 2492
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