Art.
3 — Se foram bem escolhidos aqueles a quem foi manifestada a natividade de
Cristo.
O terceiro discute-se assim. — Parece que não
foram bem escolhidos aqueles a quem foi manifestada a natividade de Cristo.
1. — Pois, o Senhor ordenou aos
discípulos: Não ireis caminho de gentios,
i. é, para que fosse manifestado aos Judeus antes de o ser aos gentios. Logo,
parece, com maioria de razão, que a natividade de Cristo não devia, desde o
princípio, ser revelada aos gentios, que vieram do Oriente, como se lê no
Evangelho.
2. Demais — A manifestação da verdade
divina deve ser feita sobretudo aos amigos de Deus, segundo a Escritura: Não vos encaminheis aos mágicos, nem
procureis saber causa alguma dos adivinhos. Logo, a natividade de Cristo
não devia ser manifestada aos Magos.
3. Demais. — Cristo veio libertar todo
o mundo do poder do diabo; donde o dizer a Escritura: Desde o nascente do sol até o poente é o meu nome grande entre as
gentes. Logo, não só aos habitantes do Oriente devia manifestar-se a
natividade de Cristo, mas a alguns outros, no resto do mundo.
4. Demais — Todos os sacramentos da
lei antiga foram a figura de Cristo, Ora, os sacramentos da lei antiga eram
dispensados pelo ministério dos sacerdotes da lei. Logo, parece que a
natividade de Cristo devia manifestar-se, antes, aos sacerdotes no templo, que
aos pastores no campo.
5. Demais - Cristo nasceu da Virgem
Mãe e em forma de criancinha. Logo, fora mais conveniente Cristo ter-se
manifestado aos jovens e às virgens, que aos velhos e aos casados ou viúvos,
como a Simeão e a Ana.
Mas, em contrário, o Evangelho: Eu sei os que tenho escolhido. Ora, a
sabedoria de Deus faz bem tudo o que faz. Logo, foram bem escolhidos aqueles a
quem se manifestou a natividade de Cristo.
A salvação que Cristo vinha
trazer era a da totalidade dos homens, sem diferenças, conforme o Apóstolo: Em Cristo não há diferença de homem e de
mulher, de gentio e de judeu, de servo e de livre, como não há nenhuma outra
diferença semelhante. E a fim de o
anunciar, a natividade de Cristo foi manifestada aos homens de todas as
condições. Pois, como diz Agostinho, os
pastores eram Israelitas, os Magos gentios; aqueles estavam próximos, estes
afastados; tanto uns como outros, porém, vieram apoiar-se na pedra angular. Mas
ainda havia entre eles outra diversidade; pois, ao passo que os Magos eram
sábios e poderosos, simples e humildes eram os pastores. E também se manifestou aos justos, como Simeão e Ana,
e aos pecadores, como os Magos. E enfim, aos homens e às mulheres como Ana. E
isso tudo mostra que Cristo não privou da sua salvação nenhuma condição humana.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Essa manifestação da natividade de Cristo foi uma como prelibação da
manifestação plena, que havia de realizar-se. E assim como na segunda
manifestação, primeiro foi anunciada a graça de Cristo aos Judeus, pelo próprio
Cristo e pelos seus Apóstolos, e depois aos gentios, assim também com Cristo
vieram ter primeiro os pastores, as primícias dos Judeus, como habitando mais
perto, e depois vieram de regiões remotas os Magos, que foram as primícias das gentes, na expressão de Agostinho.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Diz Agostinho: Assim como domina a ignorância na
rusticidade dos pastores, assim a impiedade nos sacrilégios dos magos. A uns e
outros, porém, deu abrigo aquela pedra angular, como quem veio escolher os
ignorantes para confundir os sábios, e chamar, não os justos, mas os pecadores;
de modo que nenhum grande se intumescesse de soberba e nenhum humilde
desesperasse. — Mas alguns dizem, que esses Magos não eram maléficos, senão
astrólogos sábios, que recebem aquela denominação, entre os Persas e os
Caldeus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz
Crisóstomo, do Oriente vieram os Magos,
porque, donde nasce o dia, daí começasse a irradiar a fé, ela - a luz das almas.
- Ou, porque todos os que vêm a Cristo, dele e por ele vêm, donde o dizer a
Escritura: Eis aqui o homem, que tem por
nome o Oriente. — Mas, diz a Escritura que os Magos vieram do Oriente, ou
por terem partido dos últimos confins dele, segundo uns; ou de certas partes
vizinhas da Judeia situadas porem ao Oriente da região dos Judeus. — É contudo
crível, que também nas outras partes do mundo aparecessem uns indícios da
natividade de Cristo; assim, em Roma, correu óleo, e na Espanha surgiram três
sóis, aos poucos confundidos num só.
RESPOSTA À QUARTA. — Como diz
Crisóstomo,.
o Anjo
que revelou a natividade, não foi a Jerusalém, não procurou Escribas nem
Fariseus, cheios de corrupção e ralados de inveja. Ao contrário, os pastores
eram rectos e viviam no espírito dos Patriarcas e de Moisés. — E além disso
esses pastores significavam os Doutores da Igreja, a quem Cristo revelou os
seus mistérios, que permaneceram ocultos aos Judeus.
RESPOSTA À QUINTA. — Como diz
Ambrósio, a geração do Senhor devia ser
testemunhada não só pelos pastores, mas também pelos anciãos e pelos justos. E
também por ser esse testemunho, mais digno de crédito, pela santidade de tais
personagens.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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