Tempo comum XXXI Semana
São Nuno de Santa Maria
Evangelho:
Lc 16, 1-8
1 Disse também a
Seus discípulos: «Um homem rico tinha um feitor, que foi acusado diante dele de
ter dissipado os seus bens. 2 Chamou-o, e disse-lhe: Que é isto que
eu oiço dizer de ti? Dá conta da tua administração; não mais poderás ser meu
feitor. 3 Então o feitor disse consigo: Que farei, visto que o meu
senhor me tira a administração? Cavar não posso, de mendigar tenho vergonha. 4
Já sei o que hei-de fazer, para que, quando for removido da administração, haja
quem me receba em sua casa. 5 E, chamando cada um dos devedores do
seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? 6 Ele
respondeu: Cem medidas de azeite. Então disse-lhe: Toma o teu recibo, senta-te
e escreve depressa cinquenta. 7 Depois disse a outro: Tu quanto
deves? Ele respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o feitor: Toma o teu
recibo e escreve oitenta. 8 E o senhor louvou o feitor desonesto,
por ter procedido sagazmente. Porque os filhos deste mundo são mais hábeis no
trato com os seus semelhantes que os filhos da luz».
Comentário:
Esta
é uma daquelas Parábolas de Jesus que tem ser interpretada com o espírito são e
sem preconceitos, com o olhar puro e limpo de quem pretende, de facto, entender
o que o Mestre quer ensinar.
Normalmente,
depois de considerar a Parábola chega-se à conclusão que o que Jesus pretende é
dar-nos a entender a importância de preparar cuidadosamente o futuro enquanto
dispomos de tempo para isso.
Esperar
pelo último momento é uma atitude de “alto risco” pois pode acontecer que nesse
“último momento” não disponhamos da possibilidade de o fazer.
Preparar-se
para o inevitável – a morte – deve ser uma preocupação de agora, de hoje, sem
adiamentos nem hesitações.
O
que está em causa – como na Parábola – é que quem nos receber depois da morte
seja Aquele que nos convém, o nosso Pai, Deus.
(ama, comentário sobre Lc 16, 1-8, 2010.10.11)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo ([i])
119
Os
que seguiram Jesus Cristo comigo, pobre pecador, são: uma percentagem de sacerdotes
que exerciam antes uma profissão ou tinham uma ocupação laical; um grande
número de sacerdotes seculares de muitas dioceses do mundo - que confirmam
assim a obediência e amor aos seus Bispos respectivos, e a eficácia do seu
trabalho diocesano, com os braços sempre abertos em cruz para que todas as
almas caibam nos seus corações, e que estão como eu, em plena rua, no mundo, e
o amam; e a grande multidão, formada por homens e mulheres de diversas nações,
de diversas línguas, de diversas raças, que vivem do seu trabalho profissional,
casados na sua maior parte, solteiros muitos outros, que participam com os seus
concidadãos na grave tarefa de tornar mais humana e mais justa a sociedade temporal,
na nobre lide das ocupações diárias, com responsabilidade pessoal - repito -,
alcançando e sofrendo, ombro a ombro com os outros homens, êxitos e fracassos,
procurando cumprir os seus deveres e exercer os seus direitos sociais e
cívicos. E tudo isto, com naturalidade, como qualquer cristão consciente, sem
mentalidade de selectos, fundidos na massa dos seus colegas, enquanto procuram
detectar a luz divina que reverbera nas realidades mais vulgares.
Também
as obras promovidas pelo Opus Dei, como associação, têm essas características
eminentemente seculares: não são obras eclesiásticas. Não gozam de nenhuma
representação oficial da Hierarquia da Igreja. São obras de promoção humana,
cultural, social, realizadas por cidadãos que procuram iluminá-las com a luz do
Evangelho e aquecê-las com o amor de Cristo. Ficareis esclarecidos com um dado:
o Opus Dei não tem nem terá jamais, por exemplo, a missão de dirigir Seminários
diocesanos, onde os Bispos, instituídos pelo Espírito Santo [Ac 20, 28],
preparam os seus futuros sacerdotes.
120
O
Opus Dei fomenta, pelo contrário, centros de formação operária e de formação
agrícola, de ensino básico, secundário e universitário, e tantas outras e tão
variadas actividades em todo o mundo, porque os seus anseios apostólicos -
escrevi há muitos anos - são um mar sem limites.
Mas,
por que me hei-de alongar nesta matéria, se a vossa própria presença é mais
eloquente do que um prolongado discurso? Vós, Amigos da Universidade de
Navarra, sois parte de um povo que sabe estar comprometido no progresso da
sociedade a que pertence. O vosso alento cordial, a vossa oração, o vosso
sacrifício e a vossa contribuição material não seguem os caminhos de um
confessionalismo católico; ao prestardes a vossa cooperação, sois o perfeito
testemunho de uma recta consciência civil, preocupada pelo bem comum temporal;
testemunhais que uma Universidade pode nascer das energias do povo e ser
sustentada pelo povo.
Quero
agradecer uma vez mais nesta ocasião, a colaboração que prestam à nossa
Universidade a minha nobilíssima cidade de Pamplona, a grande e forte região
navarra; os Amigos procedentes de toda a geografia espanhola e - com particular
emoção o digo - os não espanhóis e até os não católicos e não cristãos que
compreenderam, e assim o demonstram com factos, a intenção e o espírito deste
empreendimento.
A
todos eles se deve que esta Universidade seja um foco, cada vez mais vivo, de
liberdade cívica, de preparação intelectual, de emulação profissional, e um
estímulo para o ensino universitário. O vosso generoso sacrifício serve de base
a um trabalho universal que procura o incremento das ciências humanas, a
promoção social, a pedagogia da fé.
O
que acabo de dizer foi visto com clareza pelo povo navarro, que também
reconhece na sua Universidade um factor de promoção económica para a região e,
especialmente, de promoção social, que permitiu a tantos dos seus filhos o
acesso às profissões intelectuais que, de outro modo, seria difícil e, em
certos casos, impossível. A compreensão do papel que a Universidade havia de
ter na sua vida motivou certamente o apoio que Navarra lhe dispensou desde o
começo; apoio que, sem dúvida, será cada vez mais amplo e entusiasta.
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Continuo
a manter a esperança - porque corresponde a um critério justo e à realidade vigente
em tantos países - de que chegará o momento em que o Estado espanhol
contribuirá, por seu lado, para aliviar os encargos de um empreendimento que
não tem em vista nenhum proveito privado e que, pelo contrário, totalmente
consagrado ao serviço da sociedade, procura trabalhar com eficácia para a
prosperidade presente e futura da nação.
E
agora, meus filhos e minhas filhas, permiti que me detenha noutro aspecto -
particularmente querido - da vida comum. Refiro-me ao amor humano, ao amor
casto entre um homem e uma mulher, ao noivado, ao matrimónio. Devo dizer uma
vez mais que esse amor humano santo não é algo de permitido, de tolerado, à
margem das verdadeiras actividades do espírito, como poderiam insinuar os
falsos espiritualismos a que antes aludia. Há quarenta anos que venho pregando
exactamente o contrário, através da palavra e da escrita, e os que não
compreendiam já o vão entendendo.
O
amor que conduz ao matrimónio e à família pode ser também um caminho divino,
vocacional, maravilhoso, meio para uma completa dedicação ao nosso Deus.
Realizai as coisas com perfeição, tenho-vos recordado, ponde amor nas pequenas
actividades da jornada, descobri - insisto - esse quê divino que se oculta nos
pormenores: toda esta doutrina encontra um lugar especial no espaço vital em
que o amor humano se enquadra.
Já
o sabeis muito bem, professores, alunos e todos os que dedicais o vosso
trabalho à Universidade de Navarra: pus os vossos amores sob a protecção de
Santa Maria, Mãe do Amor Formoso. E aí tendes a ermida que construímos com
devoção no campus universitário, para recolher as vossas orações e a oblação
desse amor maravilhoso e limpo que Ela abençoa.
Não
sabíeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que recebestes de Deus, e
que não vos pertenceis? [I Cor 6, 19]. Quantas vezes, diante da imagem da
Virgem Santa, da Mãe do Amor Formoso, respondereis com uma alegre afirmação à
pergunta do Apóstolo: sabemos, sim, e queremos vivê-lo com a tua ajuda
poderosa, ó Virgem Mãe de Deus!
A
oração contemplativa surgirá em vós sempre que meditardes nesta realidade
impressionante: uma coisa tão material como o meu corpo foi escolhida pelo
Espírito Santo para estabelecer a Sua morada...; já não me pertenço...; o meu
corpo e a minha alma - o meu ser inteiro - são de Deus... E essa oração será
rica em resultados práticos, derivados da grande consequência que o próprio
Apóstolo apresenta: glorificai a Deus no vosso corpo [I Cor 6, 20].
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Por
outro lado, não podeis desconhecer que só entre os que compreendem e valorizam
em toda a sua profundidade o que acabamos de considerar acerca do amor humano,
pode surgir aquela outra compreensão inefável de que Jesus falou [Cfr Mt 19,
11], que é um puro dom de Deus e que conduz a entregar o corpo e a alma a Nosso
Senhor, a oferecer-Lhe o coração indiviso, sem a mediação do amor terreno.
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Tenho
de terminar, meus filhos. Disse-vos ao começar que a minha palavra gostaria de
vos anunciar alguma coisa da grandeza e da misericórdia de Deus. Julgo tê-lo
cumprido, ao falar-vos de viver santamente a vida corrente: porque uma vida
santa no meio da realidade secular - sem ruído, com simplicidade, com
veracidade - não será porventura hoje a mais consoladora manifestação das
magnalia Dei [Edes 18, 5], dessas portentosas misericórdias que Deus sempre realizou,
e não deixa de realizar para salvar o mundo?
Peço-vos
agora com o salmista que vos unais à minha oração e ao meu louvor: magnificate
Dominum mecum, et extollamus nomen eius simul [Ps. XXXIII, 4]; louvai comigo o
Senhor e exaltemos todos juntos o Seu nome. Ou seja, meus filhos: vivamos de
Fé.
Tomemos
o escudo da Fé, o elmo da salvação e a espada do espírito que é a Palavra de
Deus. Assim nos anima o Apóstolo S. Paulo na Epístola aos de Éfeso [Ef 6, 11 e
ss] que há momentos se proclamava liturgicamente.
Fé,
virtude de que os cristãos tanto necessitamos, especialmente neste ano da Fé
promulgado pelo nosso amadíssimo Santo Padre o Papa Paulo VI, pois, faltando a
Fé, falta o próprio fundamento da santificação da vida corrente.
Fé
viva nestes momentos, porque nos aproximamos do mysterium fidei [I Tim 3, 9],
da Sagrada Eucaristia; porque vamos participar nesta Páscoa do Senhor, que
resume e realiza as misericórdias de Deus para com os homens.
Fé,
meus filhos, para confessar que, dentro de instantes, sobre esta ara, se vai
renovar a obra da nossa Redenção [Secreta do IX Domingo depois de Pentecostes].
Fé, para saborear o Credo e sentir, em torno deste altar e nesta Assembleia, a
presença de Cristo que faz de nós cor unum et anima una [Act 4, 32], um só
coração e uma só alma; e nos converte em família, em Igreja una, santa,
católica, apostólica e romana, que para nós é o mesmo que universal.
Fé,
finalmente, filhas e filhos queridíssimos, para demonstrarmos ao mundo que tudo
isto não são cerimónias e palavras, mas uma realidade divina, ao apresentarmos
aos homens o testemunho de uma vida corrente santificada, em Nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo e de Santa Maria.
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