Em seguida devemos tratar da
manifestação de Cristo nascido.
E nesta questão discutem-se oito
artigos:
Art. 1 — Se a natividade de Cristo
devia ser manifesta a todos.
Art. 2 — Se a natividade de Cristo
devia manifestar-se a alguns.
Art. 3 — Se foram bem escolhidos
aqueles a quem foi manifestada a natividade de Cristo.
Art. 4 — Se Cristo devia por si mesmo
manifestar a sua natividade.
Art. 5 — Se a natividade de Cristo devia
manifestar-se pelos anjos e pela estrela.
Art. 6 — Se a natividade de Cristo foi
manifestada na ordem conveniente.
Art. 7 — Se a estrela, que apareceu
aos Magos era uma das estrelas do céu.
Art. 8 — Se era conveniente que os
Magos viessem adorar e venerar a Cristo
Art.
1 — Se a natividade de Cristo devia ser manifesta a todos.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que a natividade de Cristo devia ser manifesta a todos.
1. — Pois, uma promessa deve ser
cumprida. Ora, da promessa do advento de Cristo diz a Escritura: Deus virá manifestamente. Ora, veio pela
natividade da carne. Logo, parece que a sua natividade devia ser manifesta a
todos.
2. Demais. — O Apóstolo diz: Jesus Cristo veio a este mundo para salvar
os pecadores. Ora, isso só se dá por se lhes manifestar a graça de Cristo,
segundo ainda o Apóstolo: A Graça de Deus
nosso Salvador apareceu a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à
impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste século sóbria, justa e piamente.
Logo, parece que a natividade de Cristo devia ser manifesta a todos.
3. Demais. — Deus é, por excelência,
inclinado à compaixão, segundo a Escritura: As
suas misericórdias são sobre todas as suas obras. Ora, no seu segundo
advento, quando julgar as justiças, virá de um modo manifesto a todos, segundo
o dito do Evangelho: Como um relâmpago
sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim há-de ser também a vida do
Filho do Homem. Logo, com muito maior razão, a sua primeira ainda, quando
nasceu neste mundo, segundo a carne, devia ser manifesta a todos.
Mas, em contrário, a Escritura: Tu verdadeiramente és um Deus escondido, o
Deus de Israel, o salvador. E noutro lugar: O seu rosto se achava como encoberto e parecia desprezível.
A natividade de Cristo não
devia ser, em geral, manifesta a todos. - Primeiro, porque teria assim ficado
impedida a redenção humana, que havia de realizar-se pela sua cruz; pois, como
diz o Apóstolo, se eles a conheceram, não
crucificaram nunca ao Senhor da glória. - Segundo, por que ficaria
diminuído o mérito da fé, pela qual viera justificar os homens, segundo o
Apóstolo: A justiça de Deus é infundida
pela fé de Jesus Cristo. Se, pois, por indícios manifestos, a natividade de
Cristo fosse, na ocasião do seu nascimento, manifesta a todos, desapareceria a
razão de ser da fé, que é um argumento das coisas que não aparecem. - Terceiro,
porque lançaria dúvidas sobre a verdade da sua humanidade. Por isso diz
Agostinho: Se não mudasse de idade,
passando da infância para a juventude: se não tomasse nenhum alimento nem o
repouso do sono, não confirmaria assim uma opinião errônea e não daria a crer
que de nenhum modo assumiu verdadeiramente a humanidade? E depois de ter feito
tantos milagres iria privar-nos das riquezas da sua misericórdia?
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O lugar citado entende-se do advento de Cristo no dia do juízo, como o expõe
a Glosa a esse lugar.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Todos os homens
deviam, para se salvarem, ser instruídos na graça de Deus Salvador. Não porém
logo, no princípio da sua natividade, mas num tempo mais avançado, quando obrou
a salvação no meio da terra. Por isso, depois da sua paixão e ressurreição,
disse aos seus discípulos: Ide e ensinai
a todas as gentes.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O juízo implica
no conhecimento da autoridade do juiz; e por isso é necessário que seja
manifesto o advento de Cristo quando vier julgar. Ora, o seu primeiro advento
foi para a salvação de todos, que se operam pela fé; e esta tem por argumento
as coisas que não aparecem. Por isso o primeiro advento de Cristo devia ser
oculto.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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