Art.
8 — Se Cristo nasceu no tempo conveniente.
O oitavo discute-se assim. — Parece que Cristo
não nasceu no tempo conveniente.
1. — Pois, Cristo veio ao mundo a fim
de dar liberdade aos seus filhos. Ora, nasceu num tempo de escravidão, em que
todo o mundo é descrito como sujeito ao império de Augusto, quase feito dele
tributário, como refere o Evangelho. Logo, parece que Cristo não nasceu no
tempo conveniente.
2. Demais. — As promessas sobre o
nascimento de Cristo não foram feitas aos gentios, segundo o Apóstolo: Dos quais é a promessa. Ora, Cristo
nasceu num tempo em que governava um rei alienígena, como se lê no Evangelho: Tendo nascido Jesus no tempo do rei Herodes.
Logo, parece que não nasceu no tempo conveniente.
3. Demais. — O tempo da presença de
Cristo no mundo é comparado ao dia, por ser a luz do mundo, como ele próprio
disse: Importa que eu faça as obras
daquele que me enviou enquanto é dia. Ora, no verão os dias são mais longos
que no inverno. Logo, tendo nascido no rigor do inverno, no oitavo dia das
Kalendas de Janeiro, parece que não nasceu no tempo conveniente.
Mas, em contrário, O Apóstolo: Quando veio o cumprimento do tempo, enviou
Deus a seu filho, feito de mulher, feito sujeito à lei.
A diferença entre Cristo e
os outros homens está em que estes nascem sujeitos às exigências do tempo, ao
passo que Cristo, como Senhor e Criador de todos os tempos, escolheu para si o
tempo em que nascesse, como escolheu sua mãe e a sua pátria. E como as coisas
que há foram por Deus ordenadas e convenientemente dispostas, resulta que
Cristo nasceu no tempo mais conveniente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Cristo veio tirar-nos do estado de escravidão para nos dar a liberdade. Por
isso, assim como assumiu a nossa mortalidade, para nos dar a vida, assim, no
dizer de Beda, dignou-se incarnar no tempo em que logo depois de nascido, foi
inscrito no censo o e César, conquistando assim a nossa liberdade com a sua
escravidão. - E além disso, nesse tempo, quando todo o mundo estava sujeito ao
mesmo poder, reinava a máxima paz. Por isso, convinha que em tal tempo nascesse
Cristo, que é a nossa paz, ele que de dois fez um, como diz o Apóstolo. Donde o
dizer Jerónimo: Se perscrutarmos as
histórias antigas, veremos que até o vigésimo oitavo ano de César Augusto,
houve discórdias em todo o universo: mas, com o nascimento do Senhor, cessaram
todas as guerras, como o diz a Escritura: Não levantará a espada uma nação contra
outra nação. - Era também conveniente que num tempo em que um só príncipe
governava todo o mundo. Cristo nascesse, ele que vinha congregar os seus numa
mesma unidade, a fim de existir um só
rebanho e um só pastor, no dizer do Evangelho.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo quis
nascer no tempo em que governava um rei alienígena para se cumprir a profecia
de Jacob, que reza: Não se tirará o ceptro
de Judá, nem general que proceda da sua coxa, a menos que não venha aquele que
deve ser enviado. Pois, como diz
Crisóstomo, enquanto a gente judaica era
governada pelos judeus, embora pecadores, os profetas eram enviados para
salvá-la. Mas então nasceu Cristo, quando a lei de Deus dependia do poder de um
rei iníquo; porque, uma doença grave e desesperadora exigia um médico mais
perito.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como se disse,
Cristo quis nascer quando começou a tomar incremento a luz do dia, para mostrar
que vinha para fazer crescerem os homens na luz divina, como diz o Evangelho:
Para alumiar os que vivem de assento nas trevas e na sombra da morte. -
Semelhantemente, escolheu para tempo da sua natividade o rigor do inverno, a
fim de sofrer por nós os padecimentos da carne.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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