25/10/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo comum XXX Semana


Evangelho: Mc 10, 46-52

46 Chegaram a Jericó. Ao sair Jesus de Jericó, com os Seus discípulos e grande multidão, Bartimeu, mendigo cego, filho de Timeu, estava sentado junto ao caminho. 47 Quando ouviu dizer que era Jesus Nazareno, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!». 48 Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele cada vez gritava mais forte: «Filho de David, tem piedade de mim!».49 Jesus, parando, disse: «Chamai-o». Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Tem confiança, levanta-te, Ele chama-te». 50 Ele, lançando fora a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus. 51 Tomando Jesus a palavra, disse-lhe: «Que queres que te faça?». O cego respondeu: «Rabboni, que eu veja!». 52 Então Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou». No mesmo instante recuperou a vista, e seguia-O no caminho.

Comentário:

Não tenho qualquer receio de Te pedir seja o que for porque sei que esperas uma resposta minha à Tua pergunta: ‘que queres que te faça!’

Esperas uma resposta sincera e honesta e não Te preocupa se o que peço é desajustado ou inconveniente porque bem sabes que peço como quem sou: um pobre homem que precisa de tudo. 

(ama, comentário sobre MC 10 46-52, 2015.05.28)


Leitura espiritual

São Josemaria Escrivá




Temas actuais do cristianismo

68
                  
pergunta:

Talvez possa pensar-se que, até agora, o Opus Dei se viu favorecido pelo entusiasmo dos primeiros sócios, embora sejam já vários milhares.
Existe alguma medida que garanta a continuidade da Obra, contra o risco, conatural a todas as instituições, de um possível arrefecimento do fervor e do impulso iniciais?

resposta:

A Obra não se baseia no entusiasmo, mas na fé.
Os anos do princípio - longos anos - foram muito duros, e só se viam dificuldades.
O Opus Dei foi avante, pela graça divina e pela oração e pelo sacrifício dos primeiros, sem meios humanos.
Só havia juventude, bom humor e o desejo de fazer a vontade de Deus.

Desde o princípio, a arma do Opus Dei foi sempre a oração, a vida entregue, a renúncia silenciosa a tudo o que é egoísmo, para servir as almas.
Como lhe dizia antes, ao Opus Dei vem-se receber um espírito que leva precisamente a dar tudo, enquanto se continua trabalhando profissionalmente por amor a Deus e às criaturas por Ele.

A garantia de que não se dê um arrefecimento é que os meus filhos nunca percam este espírito.
Sei que as obras humanas se desgastam com o tempo; mas isto não acontece com as obras divinas, a não ser que os homens as rebaixem.
Só quando se perde o impulso divino é que vem a corrupção, a decadência.
No nosso caso, vê-se claramente a Providência do Senhor, que, em tão pouco tempo - quarenta anos - faz que seja recebida e praticada esta específica vocação divina entre cidadãos correntes iguais aos outros, de tão diversas nações.

O fim do Opus Dei, repito uma vez mais, é a santidade de cada um dos seus sócios, homens e mulheres, que continuam no lugar que ocupavam no mundo.
Se alguém não vem ao Opus Dei para ser santo, apesar de todos os pesares - quer dizer, apesar das misérias próprias, dos erros pessoais - ir-se-á embora imediatamente.
Penso que a santidade atrai a santidade, e peço a Deus que no Opus Dei nunca falte essa convicção profunda, esta vida de fé.
Como vê, não confiamos exclusivamente em garantias humanas ou jurídicas.
As obras que Deus inspira movem-se ao ritmo da graça.
A minha única receita é esta: ser santos, querer ser santos, com santidade pessoal.

69
                  
pergunta:

Por que é que e que há sacerdotes numa instituição acentuadamente laical, como o Opus Dei?
Todos os membros do Opus Dei podem chegar a ser sacerdotes, ou só aqueles que são escolhidos pelos directores?

resposta:

A vocação para o Opus Dei pode recebê-la qualquer pessoa, que queira santificar-se no próprio estado: seja solteiro, casado ou viúvo; seja leigo ou clérigo.

Por isso ao Opus Dei associam-se também sacerdotes diocesanos, que continuam a ser diocesanos como antes, porquanto a Obra ajuda-os a tender para a perfeição cristã própria do seu estado, mediante a santificação do seu trabalho normal, que é precisamente o ministério sacerdotal ao serviço do seu bispo, da sua diocese e de toda a Igreja.
Também no caso deles a vinculação ao Opus Dei não modifica em nada a sua condição: continuam plenamente dedicados às tarefas que lhes confia o respectivo Ordinário e aos outros apostolados e actividades que devem realizar, sem que nunca a Obra interfira nessas actividades; e santificam-se praticando o mais perfeitamente possível as virtudes próprias de um sacerdote.

Além desses sacerdotes, que se incorporam ao Opus Dei depois de terem recebido ordens sacras, há na Obra outros sacerdotes seculares que recebem o sacramento da Ordem depois de pertencerem ao Opus Dei, ao qual, portanto, se vincularam quando eram leigos, cristãos correntes.
Trata-se de número muito restrito em comparação com o total de sócios - não chegam a dois por cento - e dedicam-se a servir os fins apostólicos do Opus Dei com o ministério sacerdotal, renunciando mais ou menos, segundo os casos, ao exercício da profissão civil que tinham.
São, com efeito, membros de profissões liberais ou trabalhadores, chamados ao sacerdócio depois de terem adquirido uma habilitação profissional e de terem trabalhado durante anos na sua ocupação própria: médico, engenheiro, mecânico, camponês, professor, jornalista, etc.
Fazem, além disso, com a máxima profundidade e sem pressas, o estudo das disciplinas eclesiásticas até obterem o doutoramento.
E isso sem perder a mentalidade característica do ambiente da sua profissão civil; de modo que, quando recebem as sagradas ordens, são médicos-sacerdotes, advogados-sacerdotes, operários-sacerdotes, etc.

A sua presença é necessária para o apostolado do Opus Dei.
Este apostolado realizam-no fundamentalmente os leigos, como já disse.
Cada sócio procura ser apóstolo no seu próprio ambiente de trabalho, aproximando as almas de Cristo mediante o exemplo e a palavra, isto é, através do diálogo.
Mas, no apostolado, ao conduzir as almas pelos caminhos da vida cristã, chega-se ao muro sacramental.
A função santificadora do leigo tem necessidade da função santificadora do sacerdote, que administra o sacramento da penitência, celebra a Eucaristia e proclama a Palavra de Deus em nome da Igreja.
E, como o apostolado do Opus Dei pressupõe uma espiritualidade específica, é necessário que o sacerdote dê também um testemunho vivo desse espírito peculiar.

Além desse serviço aos outros sócios da Obra, esses sacerdotes podem prestar, e de facto prestam, um serviço a muitas outras almas.
O zelo sacerdotal, que informa as suas vidas, deve levá-los a não permitir que ninguém passe ao seu lado sem receber algum reflexo da luz de Cristo.
Mais ainda, o espírito do Opus Dei, que nada sabe de grupitos nem de distinções, impele-os a sentirem-se íntima e eficazmente unidos aos seus irmãos, os outros sacerdotes seculares; sentem-se e são de facto sacerdotes diocesanos em todas as dioceses em que trabalham e às quais procuram servir com empenho e eficácia.

Quero fazer notar, porque é uma realidade muito importante, que esses sócios leigos do Opus Dei que recebem a ordenação sacerdotal, não mudam de vocação.
Quando abraçam o sacerdócio, respondendo livremente ao convite dos directores da Obra, não o fazem com a ideia de que assim se unem mais a Deus ou tendem mais eficazmente para a santidade: sabem perfeitamente que a vocação laical é plena e completa em si mesma, que a sua dedicação a Deus no Opus Dei era desde o primeiro momento um caminho claro para alcançar a perfeição cristã.
A ordenação sacerdotal não é, por isso, de modo algum, uma espécie de coroamento da vocação para o Opus Dei: é uma chamada que se faz a alguns, para servir de um modo novo os outros.
Por outro lado, na Obra não há duas espécies de sócios, os clérigos e os leigos; todos são e se sentem iguais e todos vivem o mesmo espírito: a santificação no seu próprio estado. [i]

70
                  
pergunta:

Tem falado com frequência do trabalho. Poderia dizer que lugar ocupa o trabalho profissional na espiritualidade do Opus Dei?

resposta:

A vocação para o Opus Dei não altera nem modifica de modo algum a condição, o estado de vida, de quem a recebe.
E como a condição humana é o trabalho, a vocação sobrenatural para a santidade e para o apostolado, segundo o espírito do Opus Dei, confirma a vocação humana para o trabalho.
A imensa maioria dos sócios da Obra são leigos, cristãos correntes: a sua condição é a de quem tem uma profissão, um ofício, uma ocupação, com frequência absorvente, com a qual ganha a vida, mantém a família, contribui para o bem comum, desenvolve a sua personalidade.

A vocação para o Opus Dei vem confirmar tudo isso, até ao ponto de que um dos sinais essenciais dessa vocação é precisamente viver no mundo e realizar aí um trabalho - contando, volto a dizer, com as próprias imperfeições pessoais - da maneira mais perfeita possível, tanto do ponto de vista humano, como do ponto de vista sobrenatural.
Quer dizer, um trabalho que contribua eficazmente para a edificação da cidade terrena - e que seja, por isso, feito com competência e com espírito de servir - e para a consagração do mundo, e que, portanto, seja santificador e santificado.

Os que querem viver com perfeição a sua fé e praticar o apostolado segundo o espírito do Opus Dei, devem santificar-se com a profissão, santificar a profissão e santificar os outros com a profissão.
Vivendo assim, sem se distinguirem dos outros cidadãos iguais a eles, que com eles trabalham, esforçam-se por se identificar com Cristo, imitando os seus trinta anos de trabalho na oficina de Nazaré.

Porque essa tarefa habitual é, não só o âmbito em que se devem santificar, como também a própria matéria da sua santidade: no meio das incidências do dia-a-dia descobrem a mão de Deus, e encontram estímulo para a sua vida de oração.
A própria actividade profissional põe-nos em contacto com outras pessoas - parentes, amigos, colegas - e com os grandes problemas que afectam a sua sociedade ou o mundo inteiro e oferece-lhes assim a ocasião de viverem a entrega ao serviço dos outros, que é essencial aos cristãos.
Assim, devem esforçar-se por dar um verdadeiro e autêntico testemunho de Cristo, para que todos aprendam a conhecer e a amar o Senhor, a descobrir que a vida normal no mundo, o trabalho de todos os dias, pode ser um encontro com Deus.

Entrevista realizada por Enrico Zuppi e António Fugardi, publicada em L'Osservatore della Domenica (Cidade do Vaticano) nos dias 19 e 26 de Maio e 2 de Junho de 1968

(cont)






[i] Mons. Escrivá de Balaguer fala nesta resposta de dois modos pelos quais os sacerdotes seculares podem pertencer ao Opus Dei:

a)         os sacerdotes que provêm dos membros leigos do Opus Dei, que são chamados às Ordens Sagradas pelo Prelado e que se incardinam na Prelatura, constituindo o seu presbitério. Dedicam-se fundamentalmente, ainda que não exclusivamente, à assistência pastoral dos fiéis incorporados no Opus Dei e, com estes, levam a cabo o apostolado específico de difundir, em todos os ambientes da sociedade, uma profunda tomada de consciência do chamamento universal à santidade e ao apostolado (Cfr. Apresentação);

b)         os sacerdotes seculares já incardinados numa diocese podem também participar da vida espiritual do Opus Dei, como assinala Mons. Escrivá de Balaguer no início desta resposta. Para isso, podem associar-se à Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, que está intrinsecamente unida à Prelatura e da qual é Presidente Geral o Prelado do Opus Dei, Cfr. o texto da Apresentação, pág. 11 onde se dá uma explicação sucinta desta Associação Sacerdotal, em termos jurídicos precisos que Mons. Escrivá de Balaguer ainda não podia utilizar ao conceder esta entrevista.

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