Em seguida devemos tratar da
natividade de Cristo, depois de termos tratado da sua concepção. E primeiro, da
natividade em si mesma. Segundo, da manifestação da sua natividade.
Na primeira questão discutem-se oito
artigos:
Art. 1 — Se a natividade deve ser
atribuída, antes, à natureza que à Pessoa.
Art. 2 — Se a Cristo deve atribuir-se
uma natividade temporal.
Art. 3 — Se pela natividade temporal
de Cristo, a Santa Virgem possa ser considerada sua mãe.
Art. 4 — Se a Santa Virgem deve
chamar-se Mãe de Deus.
Art. 5 — Se Cristo teve duas
filiações.
Art. 6 — Se Cristo nasceu sem sua mãe
sofrer dores.
Art. 7 — Se Cristo devia ter nascido
em Belém.
Art. 8 — Se Cristo nasceu no tempo
conveniente.
Art.
1 — Se a natividade deve ser atribuída, antes, à natureza que à Pessoa.
O primeiro discute-se assim. — Parece que a
natividade deve ser atribuída, antes, à natureza que à Pessoa.
1. — Pois, diz Agostinho (Fulgêncio): Uma natureza eterna e divina não poderia ser
concebida e nascer da natureza humana, se não tivesse realmente assumido a
natureza humana. Se, pois, à natureza divina convém o ser concebida e nascer,
em razão da natureza humana, muito mais o convém a natureza humana.
2. Demais. — Segundo o Filósofo, o nome de natureza é derivado de nascer.
Ora, as denominações fundam-se na conveniência de semelhança. Logo, parece que
a natividade deve ser atribuída antes à natureza que à Pessoa.
3. Demais. — Propriamente nasce o que
começa a existir, pela natividade. Ora, pela sua natividade Cristo não começou
a existir, na sua Pessoa; mas sim, na sua natureza humana. Logo, parece que a
natividade pertence propriamente à natureza e não à Pessoa.
Mas, em contrário, Damasceno: A natividade é da hipóstase e não da
natureza.
A natividade pode ser
atribuída a um ser de dois modos: como ao sujeito e como ao termo. - Como ao
sujeito, é atribuída ao ser nascido. Ora, este propriamente é hipóstase e não
natureza. Pois, nascer é um modo de ser gerado; porque, como um ser é gerado
para existir, assim também para existir é que nasce. Ora, a existência é
própria do ser subsistente; e por isso da forma não subsistente dizemos que
existe só por ser o princípio da existência de algum ser. Ora, a pessoa ou
hipóstase significa uma subsistência; ao passo que a natureza é a expressão da
forma, que é princípio da subsistência. Por isso, a natividade é propriamente
atribuída à pessoa ou à hipóstase, como ao sujeito que nasce, e não à natureza.
— Mas, como ao termo a natividade é atribuída à natureza. Pois, o termo da
geração e de qualquer natividade é a forma. Ora, a natureza é a expressão da
forma. Donde, como diz Aristóteles, a
natividade é chamada via para a natureza; pois a tendência da natureza tem
como seu termo a forma ou a natureza da espécie.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Por causa da identidade existente em Deus entre a natureza e a hipóstase, às
vezes a natureza é tomada pela pessoa ou pela hipóstase. E, assim, Agostinho
diz que a natureza divina foi concebida e
nascida; porque a pessoa do Filho, pela sua natureza humana, foi concebida e
nasceu.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Nenhum movimento
ou mudança tira a sua denominação do sujeito movido: mas, do termo do
movimento, que o especifica. Por isso a natividade não recebe a sua denominação
da pessoa nascida mas da natureza que é o seu termo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A natureza,
propriamente falando, não começa a existir: mas, antes a pessoa é que começa
numa determinada natureza. Pois, como dissemos, a natureza exprime o princípio
da existência de um ser; ao passo que a pessoa exprime um ser subsistente.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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