Art.
4 — Se a Santa Virgem foi de algum modo, princípio activo na concepção do corpo
de Cristo.
O quarto discute-se assim. — Parece que a
Santa Virgem foi de algum modo princípio activo na concepção do corpo de
Cristo.
1. — Pois, como diz Damasceno, o Espírito Santo desceu sobre a Virgem para
purificá-la e dar-lhe a virtude de receber o Verbo de Deus e simultaneamente a
de gerar. Ora, a virtude geratriz passiva já ela a tinha da natureza, como
qualquer outra mulher. Logo, deu-lhe a virtude geratriz activa. E assim foi, de
algum modo, princípio activo na concepção de Cristo.
2. Demais. — Todas as potências da alma vegetativa são virtudes activas, como
diz o Comentador. Ora, a potência geradora tanto na mãe como no pai, pertence à
alma vegetativa. Logo, tanto o pai como a mãe cooperam activamente na concepção
da prole.
3. Demais. — A mãe ministra a matéria
da concepção, da qual naturalmente se forma o corpo do filho. Ora, a natureza é
um princípio intrínseco de movimento. Logo, parece que na própria matéria, que
a Santa Virgem ministrou para a concepção de Cristo, houve um princípio activo.
Mas, em contrário, o princípio activo
na geração é o chamado gérmen seminal. Ora, como diz Agostinho, o corpo de Cristo só assumiu da Virgem a
matéria corpórea, por virtude de uma concepção e formação divina; logo, não
por algum gérmen seminal humano. Logo, a Santa Virgem não exerceu nenhum papel
activo na concepção do corpo de Cristo.
Alguns dizem que a Santa
Virgem foi, de certo modo princípio activo na concepção de Cristo, por virtude
natural e sobrenatural. — Por virtude natural, por dizerem que em toda matéria
há um princípio activo; pois do contrário, como pensam, não haveria nenhuma
transmutação natural. E nisso se enganam. Porquanto o que produz as
transmutações naturais é um princípio intrínseco, não só activo, mas também
passivo. Assim, como expressamente o diz o Filósofo, nos corpos graves e leves
há um princípio passivo do movimento natural, e não activo. Nem é possível a
matéria contribuir para a sua formação, porque não é actual. Também não é
possível um corpo mover-se a si mesmo, sem se dividir em duas partes - uma a
motora e outra a movida, o que só se dá com os seres animados, como Aristóteles
o demonstra. — Por virtude sobrenatural, por ensinarem que a mãe não somente
deve ministrar a matéria, que é o sangue menstrual, mas também o sémen, que
misturado com o sémen masculino tem uma virtude activa na geração. E como na
Santa Virgem não houve nenhuma resolução do sémen, por causa da sua integérrima
virgindade, dizem que o Espírito Santo lhe atribuiu uma virtude sobrenatural activa
na concepção do corpo de Cristo, virtude que as outras mães tem pelo sémen
emitido. — Mas isto é inadmissível. Porque, existindo todo o ser em vista da
sua operação como diz Aristóteles, a natureza não distinguiria, na obra da
geração, o sexo masculino do feminino, se não houvesse distinção entre a obra
do pai e a da mãe. Ora, na geração distingue-se a obra do agente da do
paciente. Donde se conclui, que a virtude activa pertence toda ao pai; e a
passiva, à mãe. Por isso, nas plantas, em que essas duas virtudes coexistem
juntas, não há distinção entre macho e fêmea. Como, pois, não foi concedido à
Santa Virgem ser o pai, mas a mãe de Cristo, resulta consequentemente que não
recebeu nenhuma função activa, na concepção de Cristo. Em nenhuma hipótese;
pois, se tivesse agido activamente, teria sido o pai de Cristo; e se, como alguns
afirmam, não tivesse exercido o poder divino, que lhe foi conferido, tê-lo-ia
recebido em vão. — Donde devemos concluir, que na concepção de Cristo, a Santa
Virgem nada obrou activamente, mas só ministrou a matéria. Mas, exerceu de
algum modo, antes da concepção, uma função activa, preparando a matéria para
que fosse apta à concepção.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A referida concepção teve três privilégios: ter sido isenta do pecado
original, não ter sido obra só do homem, mas de Deus e do homem e, enfim, ter
sido a concepção de uma virgem. E, esses três privilégios, a Virgem teve-os do
Espírito Santo. Por isso, diz Damasceno, quanto ao primeiro, que o Espírito
Santo desceu sobre a Virgem, para purificá-la, isto é, preservá-la de conceber
com pecado original. Quanto ao segundo, diz: e dar-lhe a virtude de receber o
Verbo de Deus, isto é, de conceber o Verbo de Deus. Quanto ao terceiro: e
simultaneamente a de gerar, de modo que, pudesse gerar sem deixar de ser virgem
— não, por certo, activamente, mas, passivamente, como as outras mães o
conseguem pelo sémen masculino.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A potência
geratriz da mulher é imperfeita em relação à do homem. Por isso, assim como nas artes, a arte inferior dispõe
a matéria na qual a superior infunde a forma, como diz Aristóteles, assim
também a virtude geratriz feminina prepara a matéria, enquanto a masculina
informa a matéria preparada.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Para uma
transmutação ser natural, não é preciso que exista na matéria um principio activo,
mas apenas passivo, como se disse.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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